De descendência
Feliz é o homem que resignadamente se deixa vencer pela idade – que respeita o ciclo da vida, que não desafia a fragilidade humana que o faz simples mortal. O peso dos anos para uns chega mais cedo, outros conseguem sobrevida maior, mas todos, principalmente quando minados pelas doenças comuns aos de terceira idade, mais dia menos dia deixam suas funções.
Nunca planejei aposentadoria e nem direito tenho ao pijama remunerado. Porém, independentemente desse quesito – crucial pra sobrevivência de alguém pobre enquanto eu – vejo que chegou o momento de parar. Não pode ser uma ruptura imediata, mas tem que acontecer o mais rápido possível para não cair na vulgaridade do velho jogador que brilhou no passado e continua entre as quatro linhas sem entender que as pernas e os reflexos não mais respondem como nos tempos de craque (não vai nesse exemplo nenhuma analogia, porque no jornalismo comparado ao futebol, sempre fui perna de pau quando o assunto é qualidade editorial).
A rotina diária na redação ou na estrada em busca da informação é prazerosa. Tentarei não sentir saudade desse tempo, que se arrasta por algumas décadas e que responde pelo pão que sustenta minha família.
Depois do último ponto final serei página virada nessa jornada. Lamento pelo pouco que produzi e por minha limitada participação no contexto mato-grossense onde fui praticamente mero observador. Mesmo assim tenho a consciência tranquila pelo que fiz.
Na trajetória o passo a passo foi difícil (continua) porque os poderosos não se sentem confortáveis diante da crítica, da denúncia, do questionamento.
Minha mulher e meus filhos me conhecem bem. Não precisarão buscar na história o perfil que construí. Graças a Deus nos amamos. Meus netos, muito novos, esses sim, terão que recorrer a esse expediente. Eles não encontrarão um vovô diplomado, com honorífico boton, comensal da maionese da elite, nem verão currículo recheado de nomeações para cargos comissionados relevantes. Sou mero peão de redação e ermitão entre a multidão, longe das rodas filosóficas que debatem o mundo.
Creio que no futuro, a melhor maneira pra que meus netos possam me conhecer será o arquivo do meu modesto texto, que não deixo contaminar por meus erros e defeitos – muitos. Lendo o vovô eles figuradamente desfilarão pelo meu coração, onde brota o que escrevo. Espero que a leitura de artigos, reportagens e livros de minha autoria seja para eles o espelho de uma profissão exercida na adversidade, em alguns momentos sob pressão, mas sempre com alegria e de cabeça erguida. Vou concluir dois livros, limpar as gavetas. Em breve encontrarei algo, ainda que um ponto pra venda de espetinhos de modo a garantir o sustento.
Desembarco do jornalismo acreditando que o dever foi cumprido dentro das minhas limitações. Peço perdão por eventuais erros. Espero não decepcionar minha descendência.
Eduardo Gomes de Andrade é jornalista
eduardogomes.ega@gmail.com
Também em:
www.vgnoticias.com.br (VÁRZEA GRANDE)
https://vgnoticias.com.br/artigos/de-descendencia/44615
www.sonoticias.com.br (SINOP)
http://www.sonoticias.com.br/opiniao-do-leitor/de-descendencia
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Jornal DIÁRIO DE CUIABÁ – edição do sábado, 20 janeiro 2018 Pág.a A2
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Brigadeiro você é imprescindível no jornalismo. Fique!
PARABÉNS PELO TRABALHO DO SENHOR, QUE ACOMPANHO HÁ MUITO TEMPO. O SR. É SÉRIO E SEU TRABALHO TEM O MEU RECONHECIMENTO
PROFESSOR TENUTA
a imprensa perde com a aposentadoria do senhor e que Deus guie os seus passos
Brigadeiro é o google da História Mato-grossense! Sabe muito! Tem uma memória incrível e um texto gostoso de ler. Profissional sério e justo. E de muito bom-humor! Tive a honra de tê-lo como colega de redação. Concordo com tudo o que falou sobre o Jornalismo. A família está feliz com a sua aposentadoria, não está não, Eduardo? 😃 Deus te abençõe, Brigadeiro!
Márcia Marafon é jornalista (via Facebook)
Com seu gesto MT deixará de ler os seus escritos de forma limpa e imparcial. Parabéns pela contribuição que deixa e seja feliz naquilo que irá construir. Obrigado Eduardo que Deus ilumine os seus caminhos 🙌👍🙌🙌👍
Aurelino Levy (via Facebook)
Quando isso acontecer todos nós perderemos, lamentável! (via Facebook)
Será uma enorme perda para o jornalismo mato-grossense (via Facebook)
Um homem inteligente e de postura. Um dos melhores textos do jornalismo brasileiro.
Maurício Munhoz é sociólogo e escritor (via Facebook)
Se for para o seu bem, que deixe o jornalismo e fique bem. Se não, que o jornalismo não o deixe, para que possa levá-lo para onde for … (via Facebook)
Pena!!! (Via Facebook)
Parabéns Eduardo pelo lindo trabalho que fez para todos nós de Rondonópolis Mato Grosso e do Brasil (via Facebook)
Na minha modesta opinião “Brigas” você não deveria fazer isso, de aposentar e simtirar umas férias ou um período sabático, porque você vai fazer falta!
Que bom que chegou até aqui, mas como disse o sábio jogador de futebol: para no momento certo mais vira mestre, professor sei lá, jornalista você é não baterá mais cartão de ponto…,mas á notícia esta aí e de forma que sempre vai estar nos informando por outras mídias…parabéns pela jornada meu amigo
Amigo Brigadeiro. Ao ler os comentários sobre sua despedida das redações acabei fazendo uma viagem ao passado, ao século anterior. Não havia como evitar e comentar neste espaço. Mais precisamente a década de 1980. Você comandava a sucursal do Diário de Cuiabá em Rondonópolis. Lembra? Eu era o editor de Esportes do Diário de Cuiabá. Matérias memoráveis do União, depois do Vila Aurora que você me mandava. Chegou o ano de 1998… Copa do Mundo. Eu tinha de cuidar de oito páginas e aí pedi sua ajuda para escrever uma coluna diária sobre grandes figuras que trilharam os gramados brasileiros e vestiram a gloriosa camisa Canarinho – grandes textos. Que ajuda memorável. As páginas de Esporte eram as mais lidas do Diário. Acabou a Copa e você continuou contribuindo com a bela coluna. Pouco tempo depois você mudou de mala e cuia para Cuiabá, galgando tudo até chegar a editor geral. Seria muita pretensão minha dizer que fui um dos grandes responsáveis por sua trajetória no Diário. Seu texto, sua capacidade de trabalho, sua perseverança ao jornalismo foram sim o grande caminho que te levou a tudo isso. Parabéns pelo profissional que você é, pelo belo exemplo a ser seguido. Não sei se vai conseguir ficar longe do teclado. Sinceramente, espero que não consiga.Espero que seja apenas adeus à rotina pesada do dia a dia de uma redação impressa. Sucesso em tudo, Companheiro.
Brigadeiro, já trabalhei com muita gente em Mato Grosso, o que me permite saber quem é quem nessa salada toda. Você só é o jornalista que mais conhece Mato Grosso. Além de ser obcecado com a qualidade do texto. Pode encher o peito e se orgulhar dessa sua trajetória, mestre.
Seu Eduardo peço a Deus para guiar os passos do senhor, pois o senhor foi muito humano com a minha família e as outras famílias que foram botadas pra fora do Posto da Mata pela Funai. Somente Deus para retribuir o tanto que o senhor lutou por nós. Nossa Senhora Aparecida cubra o senhor com o manto divino.
Querido jornalista, da velha guarda, cheio de sabedoria, contador de boas histórias, estradeiro de verdade…bom sossego daqui pra frente!!! têm minha admiração e respeito…grande brigadeiro… o outro Eduardo Gomes, da história, sente orgulho de o chamarmos assim!!!