Boa Midia

De conversa com Rondonópolis

Rondonópolis, o gigante município do agronegócio é nanico em saúde pública. O estrangulamento dos leitos de unidade de terapia intensiva (UTI) da rede pública para pacientes vítimas do coronavírus e os números do agro não deixam dúvida quanto a essa dualidade.

O agro é superlativo em Rondonópolis, não apenas pela produção municipal de grãos e plumas, mas pela cadeia da atividade e o contexto regional convergente para a economia rondonopolitana. A saúde pública é vergonhosa, reflete bem o descompromisso crônico da classe politica com o cidadão.

Polo referencial de saúde para 550 mil cidadãos que habitam a mais próspera região mato-grossense, Rondonópolis é impotente para tanto. Somente o Hospital Regional e a Santa Casa de Misericórdia tèm leitos públicos de UTIs para os afetados pelo vírus. São míseras 12 UTIs no Regional e 10 na Santa Casa. Mais que uma vergonha trata-se de crime – crime contra a humanidade.

Desde março, posto neste site um balanço diário sobre Mato Grosso com números de mortos, contaminados, recuperados. além de focalizar a oferta e procura por leitos de enfermaria e UTI – isso, de forma municipalizada.

Além de postar o texto no site, faço chamada do mesmo em grupos de WhatsApp e Facebook, pra que alcance público maior, pois sempre alerto para a necessidade de mobilização social como forma de pressão política, para a estruturação da saúde pública. Dentre os grupos incluía um de Facebook, em Rondonópolis. que reúne figura antigas e tradicionais daquela cidade, mas do qual sai, pois a cada postagem havia reação contrária e, numa delas, um participante disse que meu texto era fúnebre e contrários ao presidente Bolsonaro. Gostaria muito que meus alertas estivessem errados, mas lamentavelmente estão certos.

Se  a população rondonopolitana tivesse se unido pela melhoria da saúde público, exercendo forte pressão sobre a câmara, o prefeito Zé Carlos do Pátio e os deputados estaduais Sebastião Rezende, Nininho, Thiago Silva e Delegado Claudinei; os deputados federais Carlos Bezerra e José Medeiros; e o senador Wellington Fagundes, certamente o município teria hoje, maior quantidade de UTIs e sua infraestrutura hospitalar seria outra, bem melhor. Ao invés da união por Rondonópolis, acima das questões políticas e do ódio e amor que hoje divide parcela dos brasileiros sobre a política nacional, o que se viu foi a briga com  o mensageiro por discordar do teor da correspondência.

As 22 UTIs de ontem são as mesmas de agora. O número de infectados, não; de praticamente zero passou a 661 em Rondonópolis, com 48 em Pedra Preta, 18 em Alto Araguaia, 15 e Juscimeira, 13 em Dom Aquino, 12 em Poxoréu, oito em Alto Garças, nove em São José do Povo. Morte, que até então não havia foi o final trágico para 21 rondonopolitanos. Também morreram dois em Alto Araguaia, e São Pedro da Cipa, Pedra Preta e Dom Aquino registram um óbito cada.

A Organização Mundial de Saúde define que fora dos períodos pandêmicos são recomendadas três UTIs para cada grupo de 10 mil habitantes, Ou seja, seriam necessárias 165 para o polo de Rondonópolis. Portanto, o déficit  é de 143. Estamos ao fio da navalha. UTI com paciente vítima do coronavírus normalmente tem ocupação demorada. Há centenas de outros vitimados pelo vírus, que se encontram em isolamento domiciliar ou até mesmo em enfermaria – nesse universo há sempre possibilidade de que a doença evolua para tratamento em UTI, o que na fria realidade rondonopolitana, hoje, significaria a decretação da morte desse paciente.

Lamento. Lamento não pelas críticas que sofri, mas pela falta de sensibilidade e de cidadania de tantos. Se ao invés da partidarização do vírus, se ao invés de chiliques por conta de matérias sobre mortes e doenças, Rondonópolis tivesse levantado a melhor de todas as bandeiras: a da vida, o governo teria feito algo e a iniciativa privada não se omitiria.

Não tenho motivo para comemorar a coerência dos meus textos sobre a pandemia, nem razão pra reclamar do que me criticaram no Facebook. Absolutamente, não. Tudo que tenho é vontade de continuar travando o bom combate, por Rondonópolis, por Mato Grosso, pelo Brasil e pela vida.

Rondonópolis precisa fazer valer sua força e aprender a ser mais Rondonópolis.

Eduardo Gomes de Andrade é jornalista

eduardogomes.ega@gmail.com

 

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