De barco
Mato Grosso está com os dois pés num atoleiro profundo que poderá impedir sua caminhada e até mesmo seu respirar institucional nesse momento. Em sã consciência ninguém nega tal realidade. Pior é que isso acontece sob trevas, num lugar deserto onde não se ouve nada a não serem esporádicas sirenes policiais.
Não há normalidade num Estado onde secretários de governo são afastados ou presos em curto espaço de tempo.
N
ão se deve falar em legitimidade da Assembleia Legislativa de um Estado onde um deputado está preso e a maioria dos componentes da legislatura é investigada por diversas suspeitas de recorrente improbidade administrativa.
Não se pode dar crédito a um Tribunal de Contas do Estado no qual cinco de seus sete conselheiros estão afastados judicialmente, sendo que um cumpre duplo afastamento.
Não é normal o prefeito da capital enrodilhado em tantas acusações graves e paralelamente a isso a Câmara Municipal manter indiferença concentrando sua atuação na busca por mais volume de repasses para seu polpudo duodécimo.
Tudo isso é anomalia. Continuará sendo essa aberração ainda que alguns dos envolvidos nesse escândalo de proporções descomunais, lá na curva do tempo, provem sua inocência.
Não se chega a uma situação assim sem o envolvimento de empresários. Tudo isso é ainda mais facilitado pela maleabilidade oferecida pelos meandros interpretativos da nossa legislação criada propositalmente sob o lusco-fusco preventivo.
Nada disso, ou melhor, pouco do que se vê, aconteceria se tivéssemos um povo forte, determinado e verdadeiramente cumpridor de seus deveres legais, morais e cívicos.
Onde está a cidadania nesse momento? Cadê os jovens que aos milhares marcharam sobre Cuiabá em 2013 protestando contra o aumento da tarifa do transporte coletivo e, de quebra, contra a corrupção? Por que razão se vê tantos textos achincalhando Lula, tripudiando contra Aécio, massacrando Dilma, ora elogiando ao extremo ora jogando na fornalha do inferno o juiz Sérgio Moro, e não se lê por aqui sobre o atoleiro em que enfiaram Mato Grosso?
Não tenho competência também para julgar. Porém, isso não impede que em meu íntimo veja a ausência do povo nas ruas. Quais os interesses que se escondem atrás do fechamento das bocas?
Incompetente sobre veredito e longe dele, no povoamento de minha mente fica a nítida impressão que, por aqui, eleitos e eleitores são siameses. Aprendi na escola do mundo que não é bom se meter na relação entre irmãos. Que toquem o barco.
Eduardo Gomes de Andrade é jornalista
eduardogomes.ega@gmail.com
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