CUIABÁ – Mulheres que não defenderam Serys e Janaína protestam contra Bolsonaro
Cuiabá foi um dos palcos de protestos do movimento Mulheres unidas contra o Bolsonaro. O ato reuniu um pequeno, porem barulhento grupo predominantemente feminino no monumento ao Dr. Ulysses Guimarães, na Avenida Historiador Rubens de Mendonça, em Cuiabá, neste sábado, 29 de setembro.
O movimento é mais um dos dentes da engrenagem democrática para as eleições de 7 de outubro, e se for o caso, em seu segundo turno, no dia 27 do mesmo mês.
Não se discute o direito à manifestação em Cuiabá. Porém, tão febril protesto merece análise mais aprofundada.
Quem protesta contra um candidato, no caso Jair Bolsonaro, por sua suposta postura ofensiva à mulher não deveria se limitar a criticar somente o alvo do manifesto – Bolsonaro, principalmente em Cuiabá, onde as mesmas figuras manifestantes ficaram caladas, demonstraram indiferença e não tiveram a mínima sensibilidade em defender duas políticas brutalmente ofendidas pelo machismo por seus posicionamentos políticos, senão vejamos.
Em 2010, a senadora petista Serys Slhessarenko postulava a reeleição, mas um esquema machista no seu partido, não permitiu que seu projeto político fosse levado adiante. A cúpula petista vetou Serys e lançou a candidatura do deputado federal Carlos Abicalil ao Senado.
Ferida por seu partido, Serys denunciou que sofria violência e que enfrentava truculência por ser mulher. As manifestantes de agora, nada fizeram. A senadora pregou no deserto.
À época, Serys era senadora na bancada do partido que governava o Brasil e tinha total apoio do presidente Lula da Silva, o qual defendia no Congresso.
Serys chorou na solidão. Onde estavam as enfurecidas mulheres que agora desancam Bolsonaro? Abandonada pelo PT Serys cumpriu o restante do mandato que até agora foi o único exercido por uma mulher no Senado em nome de Mato Grosso.
O governo de Pedro Taques começou em janeiro de 2015 com parte de sua cúpula praticando um recorrente crime contra a cidadania – que acontecia desde o mês de setembro do ano anterior, quando o governador era Silval Barbosa, mas quem na verdade controlava o Paiaguás era o então governador eleito, Pedro.
Esse crime recorrente ficou conhecido como Grampolândia Pantaneira – consistia na gravação clandestina por meio de escutas telefônicas irregulares, de adversários de Pedro. Uma das vítimas foi a única deputada estadual mato-grossense Janaína Riva (MDB). Janaína teve sua privacidade violada, suas conversas grampeadas.
Um dos principais operadores de Grampolândia, o réu confesso cabo da Polícia Militar Gerson Corrêa apontou em depoimento judicial que o governador Pedro era chefe da Grampolândia juntamente com seu primo e então chefe da Casa Civil, Paulo Taques. Esse episódio resultou na prisão de vários secretários de Pedro e também no encarceramento do então comandante da Polícia Militar, coronel Zaqueu Barbosa.
Como se os grampos não bastassem, Janaína sofreu mais uma violência: o então secretário de Comunicação Social do governo Pedro, jornalista Kleber Lima, postou em rede social uma foto dela, de camisola.
Nem uma voz das manifestantes de agora se ouviu em defesa da mulher Janaína.
Muito estranha essa manifestação às vésperas de uma eleição presidencial. Quais seriam os reais interesses dos idealizadores do movimento?
É cômodo assumir posicionamento radical contra alguém que não está em Mato Grosso, que não mora em Mato Grosso e que não poderá retaliar. Onde estava a coragem das manifestantes,? Onde estava a solidariedade delas em defesa de Serys e Janaína?
A manifestação em Cuiabá contra Bolsonaro perde a legitimidade, porque ela não existiu em defesa de duas políticas mato-grossenses que realmente foram vítimas da violência política por serem mulher.
Que Mato Grosso reflita sobre isso.
Eduardo Gomes – editor de blogdoeduardogomes
FOTOS:
1 – Geraldo Magela – Agência Senado
2 – Maurício Barbant – Assembleia Legislativa
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