Boa Midia

(CP) – Vultos do Chapadão do Parecis

Maior investidor

 

Olacyr
Maior investidor em Mato Grosso em todos os tempos, o empresário Olacyr Francisco de Moraes construiu a Ferrovia Senador Vicente Vuolo, agora explorada em concessão pela Rumo Logística, que liga Rondonópolis, Itiquira, Alto Araguaia e Alto Taquari ao porto de Santos; a gigante Usina Itamarati, de álcool e açúcar, em Nova Olímpia; usinas hidrelétricas; e desenvolveu a cultivar ITA-90, que revolucionou a cotonicultura brasileira.

 

Na década de 1990, na sua fazenda Itamarati, à margem da BR-364/MT-170 no município de Campo Novo do Parecis, realizou mais de 10 mil pesquisas e cruzamentos genéticos. As pesquisas resultaram na cultivar de algodão ITA-90, que revolucionou o conceito da cotonicultura no cerrado brasileiro e transformou Mato Grosso no maior produtor nacional de algodão.

Na mesma fazenda Itamarati cultivou soja. Pelo volume de produção daquela leguminosa em sua fazenda no vizinho Mato Grosso do Sul, antes de cultivar em Mato Grosso, recebeu o título de Rei da Soja.

Paulista de Itápolis, nascido em primeiro de abril de 1931, Olacyr foi cidadão do mundo. Viveu sempre rodeado por belas mulheres. Vítima de um câncer no pâncreas agravado por crises de diabetes, morreu aos 84 anos em 16 de junho de 2015, em São Paulo.

Olacyr foi um dos empresários nacionais mais respeitados. Acumulou fortunas. Perdeu dinheiro. Levou para o túmulo a condição de líder do empresariado nacional.

Em Campo Novo do Parecis uma importante avenida recebeu seu nome. O trecho da rodovia MT-358, do distrito de Assari, de Barra do Bugres, a Tangará da Serra, foi denominado Rodovia Olacyr de Moraes, por um projeto de autoria do deputado Wagner Ramos, transformado em lei.

FOTO: SHR Editorial

 

André Maggi, muito além de seu tempo

 

 

O prefeito André Maggi
Sempre à frente de seu tempo, o empresário e colonizador André Antônio Maggi transferiu a sede de seus negócios do Paraná para Rondonópolis e os expandiu por Mato Grosso, outros estados e o exterior. Nos anos 1980 fundou Sapezal. O Grupo André Maggi (Amaggi), seu legado à família, é um dos maiores do agronegócio mundial. Nascido em Torres (RS), filho de Antônio Maggi, italiano, e Carolina Lumertz, alemã, André Maggi morreu de acidente vascular cerebral, no Hospital do Coração, em São Paulo, no dia 22 de abril de 2001, aos 73 anos. Deixou a viúva Lúcia Borges Maggi e os filhos Blairo, Fátima, Vera, Marli e Rosângela, genros e netos. Seu corpo foi sepultado em São Miguel do Iguaçu (PR) após velório em Sapezal e Rondonópolis.

Homem íntegro e acostumado a cumprir os compromissos feitos ao fio do bigode, André Maggi renunciou ao cargo de prefeito de Sapezal depois que seu vice, Aldir Schneider e os vereadores decidiram receber salários para o exercício de seus cargos.

André Maggi se elegeu para a prefeitura de Sapezal em 1996, com 869 votos, pelo PDT, em candidatura única. Antes da posse combinou com Schneider e os vereadores que todos abririam mão de seus salários em benefício do município. Vítima de acidente o prefeito licenciou-se para tratamento médico fora de Mato Grosso. Ao retornar ao cargo se deparou com a quebra de palavra empenhada pelo vice e a vereança. Desgostoso, renunciou e o vice assumiu seu lugar. Em 2000, Schneider conquistou mandato de prefeito e se manteve na função por mais quatro anos.

PS – Sobre o colonizador André Maggi escrevi em 24 de abril de 2001, no Jornal Diário de Cuiabá, o texto abaixo:

 

Arado em outras mãos

 

Cacique João Garimpeiro observa pintura de André Maggi

A saga de André Antônio Maggi em Mato Grosso não termina com a doença que o vitimou no domingo passado, em São Paulo. A cada safra, a cada novo habitante em Sapezal, a cada resultado de melhoramento genético conquistado pela Fundação de Amparo à Pesquisa Agropecuária de Mato Grosso (Fundação MT), a cada comboio carregado de soja que singrar os rios Madeira e Amazonas rumo a Europa e Ásia, a cada fardo de algodão descaroçado seu tino empresarial se fará presente.

A visão empresarial de André Maggi encontrou o campo ideal para ser posta em prática no cerrado mato-grossense, onde ele revolucionou os conceitos da economia agrícola. E nenhum título lhe cairia melhor do que “O último bandeirante do século XX”, que lhe foi outorgado pela Fundação MT através de seu ex-presidente Gilberto Goellner.

Bandeirante que nos anos 1980 fundou Sapezal e arrastou grandes produtores para a maior área agricultável contínua do mundo, o Chapadão do Parecis. Que estimulou a pesquisa através da Fundação MT, em Rondonópolis, para assegurar produtividade de grãos e plumas. Que estabeleceu relação de confiança entre produtor e comprador de soja. Que lançou novos cultivares de soja no mercado. Que inovou em sistema de transporte utilizando hidrovia para escoar safra em larga escala.

André Maggi foi exemplo também fora da área da iniciativa privada, onde sempre se pautou pela pontualidade nos pagamentos, pelo respeito e valorização de seus incontáveis funcionários. Na vida pública, na condição de primeiro prefeito de Sapezal, demonstrou lisura e honradez no trato das finanças de seu município, a tal ponto que se viu obrigado a renunciar ao cargo por não compactuar com o subterrâneo do poder que lamentavelmente insiste em destruir ou corromper o político avesso à corrupção.

Ao setor produtivo primário André Maggi deixa um legado ímpar, que seguramente inspirará e motivará aqueles que entoam a canção da produção lavrando a terra de Itiquira a Guarantã do Norte, de Aripuanã a Barra do Garças, de Alto Taquari a Vila Rica, de Comodoro a São Félix do Araguaia.

À classe política deixa o exemplo do respeito ao erário público, algo que ao mesmo tempo é tão irreal por parte de mandatários quanto é intensamente desejado pelo povo brasileiro.

Mato Grosso despede-se de uma das figuras mais importantes de sua economia, de um dos principais agentes de seu desenvolvimento. Sapezal perde seu fundador e patrono. Rondonópolis fica sem sua referência no agronegócio. André Maggi entra para a história e ocupa lugar de destaque na galeria dos grandes colonizadores do Estado.

O colonizador, agricultor e empresário deixa o arado com os herdeiros e seus funcionários e seu corpo volta ao pó depois de cumprir sua missão na Terra. A viúva Lúcia Borges Maggi, filhos Blairo, Fátima, Rosângela, Marli e Vera, genros e netos perdem o convívio do patriarca. Mato Grosso ganha uma lenda, aquela que narra a vida de um filho de imigrantes pobres do Rio Grande do Sul e que se tornou o maior produtor de soja do mundo: André Antônio Maggi”.

 

Eduardo Gomes – blogdoeduardogomes

FOTOS:

1 – prefeitura de Sapezal

2 – José Medeiros

 

Um ministro do STF entre nós

 

Gilmar Mendes
Duas verdades sobre Gilmar Mendes: é o único mato-grossense no Supremo Tribunal Federal e um grande constitucionalista. Dúvidas sobre ele: muitas. Criticas: mais ainda. Parece que no caso dele, em Mato Grosso, no entendimento de parte da população, prevalece a máxima do “Santo de casa não faz milagre”.

De família política, de magistrados e agropecuaristas, Gilmar Ferreira Mendes nasceu em Diamantino (no dia 30 de dezembro de 1955) a bicentenária cidade do Chapadão do Parecis. Seu pai Francisco Ferreira Mendes foi prefeito daquele município. Mais recentemente seu irmão e veterinário Francisco Ferreira Mendes Júnior, o Chico Mendes, conquistou a prefeitura por duas vezes.

Gilmar foi pra Brasília sonhando com o curso de Direito da UnB. Passou no vestibular, mas estava desempregado. Um mato-grossense que mais tarde seria uma as maiores figuras do jornalismo político nacional, Jorge Moreno, lhe estendeu a mão. Moreno o empregou no Diretório Central dos Estudantes da UnB, do qual era um dos líderes. O ministro enche o peito de orgulho pra revelar esse fato em seu círculo de amizade.

Advogado, Gilmar trabalhou no Ministério de Relações Exteriores no cargo de oficial de Chancelaria. Aproveitando essa situação, quando lotado em Bonn, a então capital da Alemanha Ocidental, fez mestrado na Universidade de Münster.

Sua carreira é marcada por importantes funções e atribuições: foi adjunto na Secretaria Geral da Presidência da República, assessor da Relatoria da Revisão Constitucional da Câmara dos Deputados e advogado-geral da União. O presidente Fernando Henrique Cardoso o nomeou para o STF e ele assumiu a corte em junho de 2002; presidindo o STF acumulou a presidência do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), e na rotatividade na chefia do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o presidiu.

Um dos fundadores do Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP), Gilmar é pecuarista em Diamantino.

Claro que o ministro não fala nem admite, mas graças a ele sua cidade recebeu órgãos e instituições do Estado, que lhe conferem condição de ‘ilha‘ de prestação de serviço público no comparativo com outras em Mato Grosso. Com 22.178l habitantes, Diamantino tem Vara da Justiça Federal, Vara do Trabalho, agência da Caixa Econômica Federal, Incra, agência da Previdência Social do INSS, Delegacia Regional da Polícia Civil e Delegacia da Polícia Rodoviária Federal.

O governo federal pavimentou a BR-070/174 na fronteira desviando para aquela rodovia a principal ligação de Mato Grosso com Rondônia (via Cáceres e Vilhena/RO). A primeira rota entre os dois estados, a BR-364, foi abandonada no Chapadão do Parecis. Quando Gilmar ganhou importância nacional a BR-364 foi pavimentada ligando Diamantino a Campo Novo do Parecis e restabelecendo a ligação primitiva, que acompanha o curso da linha de transmissão do telégrafo criada pelo Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon. Essa obra, em parte do trecho exigiu a federalização de estradas estaduais. Outras rodovias, essas estaduais, foram pavimentadas numa malha no entorno de Diamantino beneficiando aquele e outros municípios.

Em Diamantino, para os antigos moradores, o ministro é o Gilmar, irmão do Chico, da família dos Mendes, mas mesmo assim, no clima familiar que o cerca, ele sofre dura oposição. Quando Chico foi prefeito, a Câmara deu o nome de Gilmar Mendes a avenida que faz a ligação do aeroporto (pavimentado) com a cidade. O Ministério Público bateu o pé e não aceitou, com base no princípio que logradouros e próprios públicos não podem receber nome de figura em vida.

Pena que os grandes vultos mato-grossenses não sejam reverenciados e valorizados.É preciso reconhecer Gilmar MendesRoberto Campos, o político que conseguiu os recursos para os programas Cyborg e Carga Pesada, que tiraram Mato Grosso do século XIX e lhe conferiram a condição atual; Rogério Ceni, campeão estadual de futebol pelo Sinop e colecionador de títulos nacionais e internacionais; Dante de Oliveira, o autor da emenda das Diretas Já;  Ataíde Arcoverde –  um dos maiores humoristas do Brasil; Luiz Pagot, que na presidência do Dnit criou a estrutura para a expansão e melhoria da malha rodoviária federal mato-grossense. Serys Slhessarenko, a senadora que lançou as base para a lei da delação premiada.; Júlio Campos que no Senado criou a lei de proteção à testemunha; Carlos Bezerra, o deputado federal  autor da PEC das Domésticas.; Blairo Maggi, que no Ministério da Agricultura abriu e consolidou mercados internacionais para commodities mato-grossenses; Manoel de Barros, que encanta o mundo com seu legado na ajuntação de sílabas pra criação de palavras; Dario Hiromoto, o pesquisador que revolucionou a ciência agronômica beneficiando a agricultura tropical; Olacyr de Moraes, que fez o trem apitar em Alto Taquari, Alto Araguaia, Itiquira e Rondonópolis; Zeca D’Ávila , que levantou a bandeira contra a aftosa; Adão Riograndino Mariano Salles, que foi o pioneiro da soja em Mato Grosso; Bruna Viola, que carrega a bandeira de sua terra no seu instrumento musical; Vanessa da Mata, que é show cantando e compondo; e tantos outros.

O que há em comum entre Roberto Campos, Rogério Ceni, Dante, Ataíde Arcoverde, Pagot, Serys, Júlio Campos, Bezerra, Blairo, Manoel de Barros, Dario Hiromoto, Olacyr, Zeca, Adão Riograndino, Bruna Viola e Vanessa da Mata? Todos, cada uma em sua área, são iguais a Gilmar: brilham. E a luz invariavelmente impede a prevalência das trevas.

 

FOTO:

Assessoria do STF

 

Silêncio na floresta

 

Vicente Canãs
Irmão Kiwxi para os índios Enawenê-Nawê e ícone dos indigenistas para a Funai. Esses dois títulos o missionário jesuíta espanhol nascido em Albacete e naturalizado brasileiro, Vicente Canãs Costa levou para o túmulo. Virou mártir da Igreja Católica Apostólica Romana.

Vicente Cañas pagou com a vida o preço da defesa das terras dos Enawenê-Nawê, com os quais conviveu e viveu por 13 anos ininterruptos, desde o primeiro contato daquele povo com a sociedade envolvente, em 1974.

Intransigente defensor dos direitos dos índios, Vicente Canãs foi assassinado a facadas e pauladas nas imediações do barraco à margem esquerda do rio Iquê, afluente do Juruena nas terras dos Enawenê-Nawê, município de Juína, onde morava sozinho.

O corpo de Vicente Cañas foi encontrado por missionários jesuítas em 16 de maio de 1987. O laudo do Instituto Médico Legal (IML) apontou que seu assassinato ocorrera 40 dias antes.

A luta de Vicente Cañas resultou na demarcação da reserva de 547.876,03 hectares do Enawenê-Nawê nos municípios Juína, Comodoro e Sapezal. Esta área foi homologada por decreto em 02 de junho de 1996. Atualmente a população estimada (pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística/IBGE) daquela etnia é de 347 indivíduos.

O posicionamento do missionário em defesa dos Enawenê-Nawê criou clima tenso em Juína e ele denunciou que estaria jurado de morte por fazendeiros. Seu assassinato ganhou repercussão internacional.

Ninguém foi condenado pelo assassinato de Vicente Cañas. O fazendeiro Pedro Chiquetti, acusado de ser o mandante do crime morreu antes de ser julgado. Os outros cinco pronunciados foram absolvidos. O último a ser julgado foi José Vicente da Silva, supostamente pistoleiro com participação direta no homicídio; José Vicente foi absolvido por 5 votos a 2 pelo tribunal do júri da Justiça Federal em Cuiabá, presidido pelo juiz Jefferson Schneider, no dia 29 de outubro de 2006.

A memória de Vicente Cañas é reverenciada pelos Enawenê-Nawê. O missionário que chegou ao Brasil em 1965, escolheu viver entre os índios, dos quais se sentia verdadeiro irmão.

Graças aos ensinamentos de Vicente Cañas, o povo que habita a calha do rio Iquê, na região Noroeste de Mato Grosso, alcançou a cidadania plena com a demarcação de suas terras.

PS – Texto transcrito de parte do capítulo dedicado a Juína no “LIVRO 44” publicado em 2014 pelo jornalista Eduardo Gomes de Andrade sem apoio das leis de incentivos culturais.

FOTO: Conselho Indigenista Missionário

Comentários estão fechados.

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Vamos supor que você está bem com isso, mas você pode optar por sair, se desejar. Aceitar Leia Mais

Política de privacidade e cookies