Conversa com o prefeito Maurão

Mauro Rosa prefeito de Água Boa, a última vez que nos vimos foi na semana passada, na calçada de acesso à Assembleia Legislativa. Não fomos além do toque de mão fechada como recomenda a regra ditada pela arte da sobrevivência e pra impedir a propagação do novo coronavírus. Creio que você não verá esse artigo hoje e nos próximos dias, por se encontrar  percorrendo municípios em campanha pra presidente da associação dos prefeitos (AMM), cuja eleição acontece em 15 deste mês.

Maurão, permita-me chamá-lo assim, pois é esse o tratamento que Água Boa lhe dispensa. Entendo que política é a arte da construção em seu sentido mais abrangente possível. O Dr. Pedro Ludovico, que governou seu berço, Goiás, reconheceu que aquela terra tinha o Estado, mas lhe faltava capital – sem demérito para a cidade de Goiás que era a sede dos poderes. Em 24 de outubro de 1933 o lançamento de uma pedra fundamental marcou o começo de Goiânia, a bela metrópole que tanto orgulha vocês goianos quanto nós, de outros estados. É isso, a construção pública brota dos bons políticos, mas dos maus  nasce a omissão, a covardia, a vingança e outros atos menores. Na vida pública é assim. No jornalismo, por analogia, também. O jornalista calado se torna cúmplice ou é covarde; quando fala – na verdade escreve – ainda que incomode a alguém, ele cumpre seu papel.

Esse artigo é minha forma de exercer minha humilde profissão diante de você, político, que deixa de lado o respeito ao direito de viver, a lógica humana, a razoabilidade administrativa e a própria razão.

Triste, Maurão, ao término dos oito anos de seu duplo mandato de prefeito você barrar a conquista de um centro de hemodiálise pra sua cidade, apresentando argumentos que não se sustentam, que ofendem e que revelam uma face sua até então estranha para o povo que se acostumou a elegê-lo vereador e prefeito por acreditar na grandeza de seus sentimentos. Muito triste, Maurão.

Há 16 anos Água Boa é centro regional de saúde para a população de 11 municípios da região, que se reúnem num consórcio. O atendimento é ancorado pelo Hospital Regional Paulo Thoma – Paulo Alemão, que nunca baixou as portas, e aos trancos e barrancos, cada vez mais se equipa para desempenhar sua missão. Recentemente, depois de muita luta, o deputado estadual Dr. Eugênio (PSB) conseguiu que a Secretaria de Estado de Saúde destinasse 10 leitos de unidades de terapia intensiva (UTIs) para o Paulo Alemão. Um avanço, a duras penas conseguido em meio ao luto e dor da população atingida. Esses leitos, administrativamente chancelados para pacientes vítimas do vírus, na verdade são patrimônio do hospital. O gesto do Dr. Eugênio – novamente lanço mão da analogia – é semelhante ao do médico goiano Dr. Pedro Ludovico ao criar uma capital no vazio do solo vermelho do cerrado. Por isso, Maurão, digo que o papel do político é a construção pública.

Não me atrevo a dizer que por vingança política pela derrota de seu grupo nas eleições para prefeito você vetou o centro de hemodiálise ao excluir a prefeitura do projeto  do mesmo. Não posso afirmar que essa seja a razão. Porém, com naturalidade digo que não há razão para tanto. Senão vejamos.

A construção do centro de hemodiálise receberia R$ 2 milhões de emenda parlamentar do Dr. Eugênio. Esse montante tem gordura suficiente para ir além da montagem da estrutura e sobraria para investimentos complementares. Você faz três fundamentações para o seu não. A primeira seria a inexistência de UTI no Paulo Alemão; não me responda, pois seria muito desagradável ouvi-lo mais uma vez negar a existência da roda estando ao volante de um carro em movimento. Segundo e terceiro, juntos: são duas questões técnicas que fogem ao seu e ao meu conhecimento, mas se trata da inexistência de central de tratamento de água e condições para realização de exames da taxa de filtração glomerular. Trágico ouvir isso. Água Boa tem uma Saúde em construção, e na passada para tanto representada pelo centro de hemodiálise, também teria essas duas conquistas, que na verdade são demandas menores, complementares. Ainda sobre cabelo em ovo: A Vigilância Sanitária aprovou o projeto do centro de hemodiálise com uma ressalva: quer a inclusão do serviço de coleta de lixo, o que não consta de sua documentação. Sobre essa ressalva tomo emprestado um milenar ditado chinês: Quando o dedo aponta pra lua o medíocre olha para a mão.

Maurão, reflita sobre seu ato. O reconhecimento do erro é inerente ao ser humano. Entenda que se não há central de hemodiálise em Água Boa, é natural que a cidade não tenha estrutura para proceder a chamada osmose reversa. Tenho certeza que tanto você quanto eu não entendemos dessa questão, mas é óbvio que a gordura da emenda parlamentar aponta para o suprimento desses dois itens. E no pior dos mundos se faltar recursos, seu sucessor e médico Dr. Mariano fará das tripas coração pra não atrasar o corte da fita inaugural.

Triste, Maurão. Muito triste é ser paciente renal crônico em Água Boa, Nova Nazaré e região, sem que haja um centro de hemodiálise no Coração do Brasil. O cidadão, já debilitado, que depende desse tipo de atendimento pega a estrada numa perua da prefeitura e percorre 1.380 quilômetros nos dois sentidos da viagem a Barra do Garças, três vezes por semana, em busca do sopro de vida que sua insensibilidade teima em lhe negar na cidade que o acolheu ao deixar Goiás.

Reflita Maurão. É período natalino. Tempo de amor, perdão e conciliação. Abra seu coração. Imite seu nobre coestaduano Dr. Pedro Ludovico. Transforme a saúde pública de Água Boa na construção de uma nova Goiânia. Não se deixe guiar por outro caminho que não seja esse, ora sugerido.

Você, Maurão, ainda está rouco com os discursos da campanha para prefeito em 15 de novembro e continua discursando, agora em busca da AMM, muito embora saiba que seu mandato na prefeitura chega ao fim, condição essa que ridiculariza sua candidatura. Dê uma pausa ao impessoal. Busque no coração o bem que ora sua impessoalidade teima em negar aos doentes crônicos. Saia da prefeitura nos braços do povo. Não procure a porta dos fundos na calada da noite. Caminhe, Maurão. O caminho se faz quando se começa a caminhar. Dê sua parcela de contribuição num grande mutirão pra construção da qualidade de vida de tantos filhos de Deus. Tenha certeza que o Menino da manjedoura aniversariante do mês se sentirá presenteado com sua mea culpa.

Eduardo Gomes – Jornalista 

FOTO: página do site www.aguaboa.com.br

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