Boa Midia

Contusão até dormindo

O autor

Grande revelação do Mixto em 1965, o então garoto e goleador Lito, da mesma forma que se projetou com a rapidez de um raio no futebol, saindo dos aspirantes para se firmar sem dar chances para ninguém no time titular, começou a ter problemas com o menisco do joelho direito.

Às vezes, o jogador passava dias treinando e jogando normalmen¬te, mas de repente o joelho direito inchava, obrigando Lito a se submeter a rigorosos tratamentos médicos para se recuperar. Lito já estava ficando aborrecido com as gozações que ouvia dos companheiros de vez em quando nos vestiários.
– Taí o menino que se machuca até dormindo… – brincavam alguns jogadores, fazendo alusão ao fato de Lito treinar ou jogar num dia e amanhecer no outro com o joelho mais inchado do que cara de bebum…

Estudante de colégio de padres – o Salesiano – Lito não acredita¬va que feitiçaria pudesse interferir no futebol. Muito menos que mandingas ajudassem os jogadores a resolver alguns problemas físicos, como os do menisco do seu joelho.

Mas um dia, de tanto ouvir de jogadores e até diretores do Mixto que ele estava precisando mesmo era de um descarrego bem caprichado, Lito resolveu participar de uma macumbinha especial na casa do roupeiro Lisboa. Uma sessão só para ele e Buí, goleiro do aspirante do Mixto…

O primeiro a passar pelo descarrego foi Buí. O pai de santo Alcides fez um Cinco Salomão no chão, com pólvora, colocou Buí no meio e começou seu “trabalho”, enquanto seu cambono rodopiava o jogador de um lado para outro.

De repente, para concluir seu “trabalho”, o pai de santo meteu fogo na pólvora. Foi aquela labareda enorme e uma fumaceira que quase sufocou o goleiro mixtense.

– Nessa aí eu não vou!…– disse Lito para Lisboa.

E não foi mesmo! Mas, com jeitinho, convenceram Lito a sentar-se em um toco de madeira para Alcides poder realizar o seu “trabalho”.

– Isso é coisa de inveja dos adversários desse menino… – repetia o pai de santo sob o olhar assustado de Lito.
Encerrada a mandinga, o pai de santo determinou que na sexta-feira seguinte Lito teria que ir para as margens do Rio Coxipó da Ponte rigorosamente à meia-noite para tomar um banho com a água de 20 tipos diferentes de plantas para completar seu “trabalho”. O banho teria que ser tomado em um lugar inclinado da margem, de modo que a água escorresse para o leito do Coxipó para sua água levar embora a do descarrego e acabar para sempre com o problema do joelho do jogador.

Na noite marcada, Lito vestiu uma roupa velha, pegou um jipe de capota de aço do seu pai, apanhou o cambono com a lata com 20 litros de água na casa de Lisboa e foi para a margem do Coxipó cumprir a determi-nação do pai de santo. A escuridão da noite, aquela hora, aumentava o medo de Lito.

O banho foi rápido. Para encerrar o ritual, Lito tirou a roupa que usou durante o banho e jogou nas águas do Coxipó. Tudo isso sem olhar para trás, como ordenara o pai de santo. E tratou de se mandar rapidinho dali.
Efeito ou não da macumba, o fato é que Lito passou um bom tempo sem ter problemas com o menisco do joelho doente.

Na semana de um jogo importante do Mixto contra o fortíssimo Marítimo, de Corumbá, em Cuiabá, o menisco voltou a complicar a vida de Lito. Dele e de Ruiter, que também tinha problemas sérios na articulação do tornozelo direito.
Às vésperas do jogo, Lisboa sugeriu que os dois jogadores fizes¬sem uma simpatia com uma benzedeira velhinha, que era sua parenta, para ela “costurar” o joelho de Lito e o tornozelo de Ruiter contra mandingas. A simpatia deu certo: o Mixto empatou por 2×2 com o Marítimo, gols de Lito e Ruiter…

Pouco tempo depois, porém, Lito voltou a ter problemas com o joelho e só se recuperou mesmo quando foi estudar Medicina Veterinária em Goiânia, onde foi submetido a uma cirurgia do menisco. Depois da operação, Lito jogou um bom tempo no time amador do Bela Vista de Goiás, aí, sim, sem problemas com o joelho direito.

PS – Reproduzido do livro Casos de todos os tempos Folclore do futebol de Mato Grosso, do jornalista e professor de Educação Física Nelson Severino

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