Boa Midia

Conta-gotas

Barra, a terra do Discorporto

 

À espera dos marcianos
Barra do Garças é considerada cidade mística. Em seu entorno desapareceu o coronel inglês Percy Harrison Fawcett e sua comitiva, no ano de 1925. Alguns ufólogos acreditam que Fawcett teria encontrado a cidade “Z”, que procurava e acreditava que se localizasse sob a Serra do Roncador, onde viveria uma civilização bem avançada no comparativo com os habitantes da Terra. Outras correntes apostam que ele teria sido canibalizado por índios do Xingu.

 

Com imensurável potencial turístico Barra é o encontro das águas do Garças com o Araguaia – de onde lhe vem o nome. A cidade é cercada por serra, tem lindas cachoeiras e um parque aquático com águas termais. Além das belezas naturais tem um forte aliado no misticismo.

Na tentativa de aquecer e diversificar o turismo o líder político regional Valdon Varjão idealizou a construção de um discoporto no topo da Serra Azul no parque estadual do mesmo nome, ao lado da cidade. A proposta surgiu no final dos anos 1990, quando Valdon era vereador pelo PFL.

A criação do discoporto foi aprovada pela Câmara e sancionada pelo prefeito Wanderlei Farias, à época correligionário de Valdon. Para alguns a ideia parecia hilária e até irresponsável. Outros a consideraram interessante. Em meio ao fogaréu das opiniões a prefeitura construiu a obra, que levou a chancela do mago dos efeitos especiais da Rede Globo, Hans Donner – que não cobrou pelo projeto.

O discoporto divulgou Barra e Valdon ganhou espaço nos principais programas de televisão e nos grandes jornais e revistas. Porém, a prefeitura não soube explorar o lado turístico da obra inédita, que se encontra praticamente abandonada, ao lado de um radar do Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (Cindacta), da Aeronáutica.

Valdon lamentava essa falta de visão administrativa sobre a importância do discoporto. Ele sonhava em misturar sua obra com o desaparecimento de Fawcett, com a criação do personagem Indiana Jones e uma apimentada dose de supostas incursões de esverdeados marcianos na região, para despertar interesse da indústria do turismo por sua Barra.

Valdon sabia que o desaparecimento de Fawcett mexe com o imaginário coletivo na Inglaterra. Sabia que Indiana Jones, personificado por Harrison Ford e criado pela genialidade de  Steven Spielberg e George Lucas, tem apelo popular no mundo inteiro. Por isso, sonhava em transformar a Barra na Meca do misticismo. Pesava também favorável a este plano a presença na região de instituições filosóficas e místicas, a exemplo da Sociedade Brasileira de Eubiose. No entanto, o cartorário e escritor levou para o túmulo seu pensamento, que não encontrou eco naquela que foi uma das principais cidades de Mato Grosso e hoje foi superada por novos municípios a exemplo de Sinop, Tangará da Serra e outros.

BARRA DO GARÇAS – Município com 9.079,291 km² e o mais importante do Vale do Araguaia, Barra tem 61.012 habitantes. Seu Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é 0,748 e  renda per capita R$29.744,71.

FOTO: Marcos Vergueiro – Site público do Governo de Mato Grosso

 

O descanso do guerreiro

 

Depois de muitas aventuras nos céus, ora na Segunda Guerra Mundial ora transportando o playboy Baby Pignatari, em 21 de maio de 1976 o bimotor DC-3 desta foto foi incorporado à Viação Aérea Canarana (VACA), que era um dos braços da Cooperativa de Colonização 31 de Março (Coopercol), com sede em Barra do Garças.

A Coopercol era liderada pelo pastor luterano e colonizador Norberto Schwantes, que usava a VACA no transporte de colonos do Rio Grande do Sul para Mato Grosso, onde fundou as cidades de Canarana, Água Boa, Querência, Terra Nova do Norte e Nova Guarita.

Beberrão, o DC-3 não apresentava resultado satisfatório para a Coopercol. A pavimentação de rodovias em alguns trechos em Mato Grosso facilitava a viagem dos pioneiros até os projetos que Schwantes levava adiante. Em 1981, por sugestão do gerente da cooperativa, Guido Afonso Rauber, o velho e bom bimotor saiu dos ares e ganhou pijama da aposentadoria.

Sobre um pedestal permanece exposto no centro de Canarana, na Praça Siegfried Roewer, popularmente chamada de Praça do Avião. Ao seu lado, um busto de Schwantes completa o registro histórico da fundação de Canarana e a incorporação daquela região do Vale do Araguaia ao processo produtivo mato-grossense.

FOTO:  Luiz Eduardo

 

Mistérios do Roncador

Imponente, com suas formações avermelhadas, nascentes, flora e fauna a Serra do Roncador é um grande maciço que divide as bacias do Xingu e Araguaia, e que se estende no sentido Sul-Norte de Mato Grosso ao Pará. Cercada por lendas e mistérios, é um interessante roteiro turístico explorado principalmente por estrangeiros e místicos. Sua grande referência é a cidade de Barra do Garças, na divisa com Goiás.

 

O aventureiro inglês coronel Percy Harrison Fawcett embrenhou-se pela selva de Roncador e literalmente sumiu do mapa em 1925, acompanhado por seu filho Jack e o amigo desse, Raillegh Rimmell.

Fawcett acreditava que encontraria sob Roncador a cidade “Z” onde viveria tal civilização. Até hoje não se sabe se o oficial inglês e seus acompanhantes foram capturados pelos moradores de Z, se foram abduzidos por disco voador ou se viraram banquete canibalizado de índios do Parque Indígena do Xingu.

Do desaparecimento de Fawcett nasceu o barra-garcense mais conhecido no mundo: Indiana Jones, que brotou nas telonas do cinema pela genialidade de Steven Spielberg e Jorge Lucas, baseado no aventureiro Fawcett e personificado  por Harrison Ford.

 

O Kuarup é aqui!

 

Festa do Kuarup
Kuarup é a maior manifestação da cultura indígena em Mato Grosso. Realizado anualmente em agosto, no Parque Indígena do Xingu, no Alto Xingu, virou fonte de renda para os povos xinguanos que o promovem, pois atrai turistas brasileiros e do exterior.

Guerreiros das etnias Kamaiurá, Mehinako, Kuikuro, Aweti, Kalapalo, Naruvotu, Nahukwá, Waurá, Trumai, Yawalapiti e Matipu o promovem como ritual que celebra a vida e a morte. Para eles, morrer não significa acabar, mas sim outra forma de continuação da existência. Esse é o simbolismo do ritual do Kuarup, que é uma cerimônia de rara beleza marcada por cantos, sons de instrumentos artesanais, dança e competições.

A cerimônia gira em torno de um tronco enfeitado de uma árvore sagrada chamada kam’ywa’. O enfeite representa a vida humana que brota do sopro do Criador. Ao redor do tronco as famílias choram e os indivíduos de todas as etnias homenageiam os mortos ilustres. Após o ritual a tristeza é substituída pela alegria que bota fim ao período de luto iniciado após o Kuarup anterior.

Acreditam os índios xinguanos que após o Kuarup as almas passam a morar numa aldeia celestial. Em analogia com o catolicismo seria o mesmo que a alma sair do purgatório e entrar no céu.

Para entender a beleza do Kuarup o melhor é presenciar seu ritual, com índios cantando, dançando e disputando provas físicas sob o sol forte e a baixa umidade relativa do ar em agosto.

O local da realização do Kuarup tem por referência urbana a cidade de Canarana, município ao qual pertence parte do Parque Indígena do Xingu. O rio que dá o nome ao parque, é fonte de vida e esconde mistérios segundo os xinguanos, o Xingu nasce no limite de Canarana com Gaúcha do Norte no encontro das águas dos rios Culuene e Sete de Setembro.

O descampado onde o Kuarup é realizado foi uma pista de pouso construída pelo Correio Aéreo Nacional (CAN) e servia de suporte aos seus voos que ligavam Belém ao Rio de Janeiro, então capital da República

O Parque Indígena do Xingu tem 2.642.008 hectares. É maior que Sergipe e sua área se estende pelos municípios de Marcelândia, São José do Xingu, São Félix do Araguaia, Querência, Canarana, Gaúcha do Norte, Paranatinga, Nova Ubiratã e Feliz Natal. Foi criado em abril de 1961 pelo presidente Jânio Quadros, com base num projeto elaborado pelo antropólogo, escritor e político mineiro Darcy Ribeiro.

Nele residem indivíduos das etnias Aweti, Kalapalo, Kamaiurá, Kuikuro, Matipu, Mehinako, Nahukuá, Naruvotu, Trumai, Wauja e Yawalapiti, Ikpeng, Kaiabi, Kĩsêdjê, Tapayuna e Yudja. Não há língua universal na área, onde são falados o Kamaiurá e Kaiabi (família Tupi-Guarani, tronco Tupí); Yudja (família Juruna, tronco Tupí); Aweti (família Aweti, tronco Tupi); Mehinako, Wauja e Yawalapiti (família Aruák); Kalapalo, Ikpeng, Kuikuro, Matipu, Nahukwá e Naruvotu (família Karíb); Kĩsêdjê e Tapayuna (família Jê, tronco Macro-Jê); Trumai (língua isolada).Não há precisão estatística sobre a população xinguana, mas estima-se que gire em torno de 5.500 indivíduos.

MEMÓRIA – Em 2003, pela primeira e única vez os índios reverenciaram um “branco” no Kuarup. A homenagem foi prestada à memória do sertanista Orlando Villas Bôas, morto em 12 de dezembro do ano anterior, aos 88 anos, em São Paulo.

A viúva do sertanista, Marina, e os filhos do casal, Orlando Filho e Noel participaram da cerimônia do Kuarup. Villas Bôas era reverenciado pelos índios xinguanos que o tinham enquanto benfeitor e protetor.

FOTO: Ednilson Aguiar – Site público do Governo de Mato Grosso

 

Falta ponte no Xingu

 

O Xingu não tem ponte
De costas um para o outro. Essa a relação do Araguaia com o Nortão. Entre eles, o lendário rio Xingu e grandes reservas indígenas. Mesmo assim há trânsito entre as duas regiões, pela MT-322 que no trecho de 285 quilômetros entre São José do Xingu e Matupá (à margem da BR-163 a Rodovia Cuiabá-Santarém).

Para a consolidação da ligação é preciso concluir a pavimentação da MT-322 que em seu trecho maior é encascalhada. Uma balsa operada por indígenas faz a travessia so Xingu, que nas águas baixa tem largura superior a um quilômetro e grande profundidade.

A margem direita do Xingu no ponto da travessia integra o município de São José do Xingu; o lado oposto, à esquerda da rodovia no sentido Matupá-São José do Xingu pertence ao município de Peixoto de Azevedo; e Marcelandia é o município à direita.

A pavimentação causa urticária na Funai, no Ministério Público Federal e em ONGs. Se consolidada criará uma rota com menor distância entre o Maranhão, Tocantins e o Nordeste de Mato Grosso com a região de influência de Santarém.

Não há projeto para pavimentar a MT-322.

A rodovia não atravessa terra indígena. Seu leito divide o Parque Naconal de Xingu e a Terra Indígena Capoto/Jarina.

FOTO: blogdoeduardogomes

 

Eubiose no Araguaia

 

Templo da Eubiose no Araguaia
Eubiose é uma instituição esotérica e ocultista fundada em 1921, na cidade mineira de São Lourenço, pelo casal Henrique José de Souza e Helena Jefferson de Souza.

Os eubiotas têm três templos: em São Lourenço, seu berço; em Itaparica, na Boa Terra da Bahia; e em Nova Xavantina desde 1976.

Os esotéricos acreditam na existência de uma população evoluída sob a Serra do Roncador, que cruza o município de Nova Xavantina, onde o aventureiro inglês coronel Percy Harrison Fawcett desapareceu em 1925.

O templo de Nova Xavantina fica à margem do rio das Mortes, numa alameda lateral da rodovia BR-158 e distante 150 quilômetros de Barra do Garças, a maior cidade da região.

FOTO: Marcos Lopes

 

A cidade que seria capital do Brasil

 

Nova Xavantina à noite
Quando da Segunda Guerra Mundial o Rio de Janeiro era capital da República e os militares temiam ataques aeronavais do Eixo à cidade. O ministro da Guerra, marechal Eurico Gaspar Dutra, convenceu o presidente Getúlio Vargas a planejar a transferência dos poderes para a região central, como determinava a Constituição. Assim nasceu o programa “Marcha para o Oeste”, em busca de lugar seguro, longe dos submarinos e dos temíveis caças alemães.

Dutra era mato-grossense de Cuiabá e aproveitando a brecha constitucional puxou brasa para a sardinha de sua terra na esperança de construir a nova capital em Mato Grosso. O coronel do Exército Flaviano de Mattos Vanique foi nomeado chefe da Marcha – conhecida por “Expedição Roncador-Xingu”. Os irmãos Cláudio, Orlando e Leonardo Villas-Boas integraram a Expedição e mais tarde assumiram sua direção.

Em 1943 Vargas criou a Fundação Brasil Central (FBC), para administrar o projeto de interiorização e, no pior dos cenários, construir a nova capital. Por sua relevância estratégica a FBC era subordinada diretamente ao presidente da República, o Rio de Janeiro era sua sede e sua presidência ficou com o ministro extraordinário da Coordenação da Mobilização Econômica, João Alberto Lins e Barros.

Calmaria no rio das Mortes

O marco zero do avanço ao centro do Brasil foi a vila de Barra Goiana, que logo em seguida seria cidade com o nome de Aragarças, na divisa de Goiás e Mato Grosso, ao lado de Barra do Garças. Naquela localidade, a FBC montou seu principal escritório e o município ganhou um hospital. A comunicação da FBC com o governo era facilitada pelos voos do Correio Aéreo Nacional (CAN), que faziam escalas no Aeroporto Salgado Filho, que era base da Aeronáutica em Aragarças.

Mato Grosso recebeu influência direta com a FBC e parte do Vale do Araguaia mais ainda, numa área compreendida entre as margens esquerda do Araguaia e a direita do rio Xingu, de Barra do Garças ao Pará,

Vanique partiu de Aragarças e chegou à margem do rio das Mortes onde mais tarde surgiria a cidade de Nova Xavantina. Quando Vanique chegou àquele lugar havia vazio demográfico no Araguaia;.

A guerra acabou. A capital não foi transferida para Mato Grosso, mas o Araguaia ganhou Nova Xavantina, que surgiu da fusão de duas vilas.

NOVA XAVANTINA – Municipio desmembrado de Barra do Garças em 3 de março de 1980 por força de uma lei de autoria do deputado Ricardo Corrêa e sancionada pelo governador Frederico Campos, Nova Xavantina tem 5.530,393 km² e 21.374 habitantes. O IDH é  0,704 e a renda per capita R$ 28.207,29.

Um pedaço do Sul no Araguaia

 

Querência nasceu da ousadia de Norberto Schwantes
Querência é mais um município com o DNA do pastor luterano e colonizador Norberto Schwantes. O município se emancipou de Canarana e São Félix do Araguaia em 19 de dezembro de 1991 por força de uma lei do deputado Lincoln Saggin sacionada pelo governador Jayme Campos.

Querência tem 17.786,195 km² e 17.479 habitantes, seu IDH é 0,692 e a renda per capita R$ 97.592,96.

A casa é sua!

Integrante do grupo dos grandes municípios do agronegócio mato-grossense, Querência é destaque em produção e produtividade agrícola, e na exportação de commodites.

A cidade é moderna, pavimentada e tem acesso pavimentado a BR-158.  A população em sua maioria é de origem sulista e, essa origem dita costumes.

De 19 a 23 de julho de 2017 Querência  foi palco da 14ª edição do Festival Nacional de Arte e Tradição (Fenart), além do 18º Rodeio Crioulo Nacional de Campeões e a 8ª edição dos Jogos Tradicionalistas.

Esses eventos são realizados pela Confederação Brasileira da Tradição Gaúcha, Movimento Tradicionalista Gaúcho de Mato Grosso e CTG Pousada do Sul. MIlhares de moradores no município e visitantes, inclusive de outros estados, participaram do Festival.

 

FOTOS:

1 – Câmara Municipal de Querência

2 – querenciahoje.wordpress.com

 

Comentários estão fechados.

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Vamos supor que você está bem com isso, mas você pode optar por sair, se desejar. Aceitar Leia Mais

Política de privacidade e cookies