Cáceres e seus 242 anos de história

Cáceres, maior município da fronteira, completa 242 anos neste 6 de outubro
Pensem numa cidade tão identificada com seu rio Paraguai e a pesca, que a maneira de seu povo agradar a alguém é chamando-o de Meu peixe! Esse lugar é Cáceres, um paraíso no Pantanal, ao lado da Bolívia, onde vivem 94.861 cacerenses natos e adotados, e onde se promove o maior festival de pesca fluvial embarcada do mundo. Somem a isso cenários de rara beleza natural, a sede da Universidade do Estado (Unemat), a abençoada localização geográfica que a faz ponto mais ao Norte da Hidrovia do Mercosul e ponto equidistante do Corredor Bioceânico.
Cáceres tem o pior tratamento de esgoto em Mato Grosso, Isso, eleição após eleição o município elegendo deputados estaduais, deputados federais, senador, vice-governador, prefeitos e vereadores. Essa cidade, onde o rio Paraguai passa ficando, completa 242 anos de fundação em 6 de outubro deste 2020 marcado pela pandemia do novo coronavírus.
Cáceres foi fundada em 6 de outubro de 1778, por ordem do quarto governador da província de Mato Grosso e capitão-general Luiz de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres – daí, seu nome –, à margem esquerda do rio Paraguai, para reforçar a presença da Coroa Portuguesa na área de fronteira com os domínios da Espanha. Ao lado da Catedral Diocesana de São Luís, na Praça Barão do Rio Branco, está o Marco do Jauru, construído em Lisboa e que foi colocado à margem do rio Jauru em 18 de janeiro de 1754, pelo primeiro governador de Mato Grosso, Dom Antônio Rolim de Moura Tavares, para demarcar a fronteira dos domínios de Portugal e Espanha, extraída do Tratado de Madrid. Em 2 de fevereiro de 1883 esse memorial foi removido para o local onde agora se encontra, pelo então tenente-coronel Antônio Maria Coelho.
O município, com 24.593,123 quilômetros quadrados, é um dos maiores em Mato Grosso, e supera a extensão territorial de Sergipe, de 21.910,348 quilômetros quadrados. Cáceres tem densidade demográfica de 3,61 habitantes por quilômetro quadrado. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é 0.708 numa escala de zero a um e a renda per capita R$ 19.896,86. A cadeia pecuária é a principal atividade econômica e seu rebanho bovino é de um milhão e cem mil cabeças de mamando a caducando. O turismo tem importante participação na economia. A cidade promove anualmente o Festival Internacional de Pesca Esportiva (FIPe), considerado a maior competição de pesca embarcada em água doce no mundo – esse evento movimenta o setor turístico.

Comarca de Terceira Entrância, Cáceres também é sede do aquartelamento do 2º Batalhão de Fronteira do Exército. A Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat) nasceu em Cáceres, onde se localiza sua reitoria e o principal campus.
No campo da memória militar Cáceres reverencia o sargento do Exército Luiz Geraldo da Silva, ao qual deu o nome de seu estádio municipal e o popularizou enquanto Estádio Geraldão. Luiz Geraldo da Silva morreu nos campos de batalha na Itália, lutando contra o nazismo e o fascismo nas fileiras da Força Expedicionária Brasileira (FEB). Foi um dos 16 mato-grossenses que derramaram sangue e perderam a vida na Segunda Guerra Mundial
Cidade plana, Cáceres tem uma das maiores taxas proporcionais de bicicleta por habitante no Brasil. No centro as ruas são estreitas e serpenteiam entre o casario histórico. Nos bairros novos as vias são largas e boa parte da cidade é pavimentada.
Ponto mais ao Norte da Hidrova do Mercosul, com 3.342 quilômetros até Nueva Palmira, no Uruguai, e que também banha a Bolívia, Paraguai e Argentina, Cáceres é perfeitamente identificada com a navegação fluvial, que em seus primórdios foi seu único meio de acesso. Pela hidrovia a economia cacerense exportava charque, poaia, madeira, açúcar mascavo, látex, milho e arroz, e importava manufaturados, cerâmica, cimento, medicamentos e outros produtos.
Um projeto prevê a construção do Porto de Santo Antônio das Lendas, cerca de 86 quilômetros abaixo das instalações portuárias existentes na área urbana. A obra ainda não começou, apesar de lançada há quase duas décadas. Além disso, para viabilizar o embarque será preciso pavimentar 68 quilômetros da BR-174 até a barranca do rio – esse trecho foi federalizado, mas tanto a pavimentação quanto o complexo portuário permanecem no papel.
Inicialmente a hidrovia era seu único meio de acesso. Com o passar do tempo a cidade ganhou outras matrizes de transporte e conta com Aeroporto Nelson Dantas, que tem pista pavimentada; com acesso por rodovias federais asfaltadas para o Centro-Sul, Rondônia e Bolívia, e estradas estaduais também com pavimento, para as cidades circunvizinhas, à exceção de Porto Estrela. Cáceres dista 210 quilômetros de Cuiabá pela BR-070 e 85 quilômetros de San Matias, na Bolívia, pela mesma rodovia.

Em sua expedição pela Amazônia em 1913/14, o ex-presidente americano Theodore Roosevelt passou por Cáceres acompanhado pelo futuro Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon.
O médico, jornalista e líder da revolução baiana Sabinada, Francisco Sabino Vieira, após condenação e comutação de sua pena capital viveu em Cáceres e prestou serviços médicos humanitários aos cacerenses. Reconhecendo seu trabalho a cidade lhe rende homenagem: uma rua recebeu o nome de Dr. Sabino Vieira.
A sanguinária Coluna Prestes cruzou as terras cacerenses em sua fuga para a Bolívia.
Cáceres enfrenta problemas com o narcotráfico. Por sua localização na fronteira com a Bolívia se tornou rota da cocaína. Parte da população carcerária feminina cacerense é formada por bolivianas presas transportando pequenas quantidades de drogas. Essas mulheres são chamadas de “mulas” – mesmo tratamento dispensado aos homens.
Cáceres é um dos cinco municípios na fronteira com a Bolívia, com 983 quilômetros – 730 quilômetros em solo firme. Esse grupo se completa com Poconé, Porto Esperidião, Vila Bela da Santíssima Trindade e Comodoro.

LOGÍSTICA – Cidade no ponto equidistante no Corredor Bioceânico Atlântico-Pacífico, Cáceres espera a conclusão de um pequeno trecho de rodovia na Bolívia, e da liberação do mercado do volante profissional naquele país – controlado pela COB – central operária semelhante às entidades sindicais brasileiras -, para alcançar os portos do Norte do Chile e Sul do Peru, no Pacifico.
O gasoduto Bolívia-Mato Grosso cruza Cáceres, que não tem tem city gate para liberar o gás natural boliviano para indústrias e a frota automotiva daquela e das vizinhas cidades.
Esgoto é vergonhoso

Cáceres é uma vergonha na área de esgoto. Isso é o que aponta o Ranking da Universalização do Saneamento 2019, divulgado em 17 de junho de 2019, pela Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (Abes). No mesmo levantamento Rondonópolis ocupa cômoda posição. Várzea Grande, Sinop e Sorriso sequer reúnem condições para ranqueamento.
Nacionalmente, o ranking avaliou 1.868 dos 5.570 municípios, dos quais, 19 em Mato Grosso, incluindo grandes, médios e pequenos.
Cuiabá, Rondonópolis, Tangará da Serra, Cáceres, Barra do Garças, Alta Floresta, Pedra Preta, Peixoto de Azevedo, Novo São Joaquim Nova Xavantina, Mirassol D’Oeste, Colíder, Cláudia, Juína, Juara, Alto Araguaia, Ribeirãozinho, Diamantino e Barra do Bugres foram avaliados.
Em Cáceres a água chega em 79,50% dos imóveis construídos, a coleta de esgoto é de 5,66% e seu tratamento não vai além de 9,48%. A cidade recolhe 87,07% dos resíduos sólidos e dá destinação correta a eles.
Ao lado da cidade o rio Paraguai recebe as águas do Sepotuba e do Cabaçal. Ou seja, de cada 10 litros de esgoto lançado ao rio Paraguai – principal formador do Pantanal – nove não têm nenhum tipo de tratamento.
ZPE patina

Brasília, 7 de março de 1990. O presidente José Sarney cria a Zona de Exportação de Cáceres (ZPE) numa área de 247 hectares. Ao longo de 29 anos os governadores que se sucederam no cargo não conseguiram tirá-la do papel.
Depois de muitas promessas políticas, finalmente em fevereiro deste 2020 o governo estadual iniciou a construção das instalações administrativas da ZPE. Em julho, o governador democrata Mauro Mendes jurou por todos os santos que até meados de 2021 a obra será concluída.
Em Cáceres, quem bebe água não acredita mais nos prazos pra ZPE. A fala do governante estava alicerçada numa previsão de investimento de R$ 15,4 milhões naquele projeto. Tradicionalmente, obra pública em Mato Grosso nunca chega ao término ao custo inicialmente previsto: sempre surge um aditivo ali aqui ou acolá
ZPE – Para se entender ZPE: trata-se de um centro de industrialização que necessariamente tem que exportar 80% de sua produção podendo desovar 20% no mercado doméstico.
Eduardo Gomes – Editor de blogdoeduardogomes
FOTOS:
1 – Luiz Eduardo Andrade
2 – Arquivo blogdoeduardogomes
3 e 5 – José Medeiros
4 e 6 – Site público do Governo de Mato Grosso – Divulgação
Um pedaço de Minas em Mato Grosso

Rio Branco é município da faixa de fronteira. A cidade, situada a 180 metros acima do nível do mar, dista 330 quilômetros de Cuiabá por rodovia pavimentada via Lambari D’Oeste, Curvelândia e Cáceres. Seus pioneiros carregam o DNA de Minas Gerais.
O município, que é sede de comarca, se emancipou de Cáceres em 13 de dezembro de 1979 por uma lei sancionada pelo governador Frederico Campos e tem 561,6410 km². A população de Rio Branco é de 5.150 habitantes, o IDH é 0,707 e a renda per capita R$ 16.402,79 – considerada baixa para os padrões sociais mato-grossenses.
Rio Branco faz limites com Reserva do Cabaçal, Araputanga, Lambari D’Oeste e Salto do Céu. O município é banhado pelo rio que lhe empresta o nome e o Cabaçal, ambos da Bacia do Rio Paraguai.
Memória: Parte da área que mais tarde se transformaria no município de Rio Branco pertencia à Colônia de Rio Branco, criada em 1953 e administrada pela Comissão de Planejamento da Produção (CPP) do Governo de Mato Grosso e que era presidida pelo ex-prefeito de Dourados (hoje Mato Grosso do Sul), João Augusto Capilé Júnior. o Sinjão. Posteriormente a CPP foi transformada na Companhia de Desenvolvimento do Estado de Mato Grosso – Codemat, estatal já extinta.
A Colônia Rio Branco tinha 200 mil hectares que foram destinados a assentamento de trabalhadores rurais que enfrentavam problemas agrários em Dourados. A ocupação daquela área, porém, somente aconteceu a partir de 1963, quando da fundação da vila de Rio Branco.
No final da década de 1960, centenas de famílias de agricultores oriundos do Vale do Rio Doce em Minas Gerais e no Espírito Santo se mudaram para as imediações do rio Branco. Com isso, a vila ganhou impulso tanto no setor agrícola quanto no comércio varejista.
Agricultores e pequenos comerciantes mineiros e capixabas vendiam pequenas áreas rurais ou imóveis urbanos em suas cidades de origem e investiam nas terras de baixo preço na região de Rio Branco. Muitos deles chegavam a Mato Grosso utilizando Kombi fretadas que faziam linhas regulares de Governador Valadares (MG), Alpercata (MG), Mantena (MG), Colatina (ES) e Linhares (ES) – para citar alguns exemplos – para Rio Branco, Salto do Céu e Jauru. Dentre os motoristas das Kombi, dois se destacaram pela quantidade de pessoas transportadas: João Belmiro de Assunção e José Garcia de Matos (Zé Tiago); João era de Alpercata e Zé Tiago de Governador Valadares.
No começo dos anos 1970, Manoel Jorge Ribeiro, o Manoel Português, instalou um grande armazém de secos e molhados em Rio Branco. Posteriormente aquele estabelecimento se transformou no Juba Supermercados. Alípio Balbino da Silva abriu uma loja de tecidos e calçados. Osvaldo Higino Pereira, dono da fazenda Pratinha, nas imediações da área urbana, se tornou produtor de leite e comprava o produto de outros pecuaristas. Diariamente, Osvaldo transportava cerca de 750 litros em latões metálicos para Cáceres, distante 120 quilômetros por precária estrada de chão e, não raramente, dava carona para vizinhos que precisavam ir às agências bancárias em Cáceres, pois na vila não havia sequer postos de atendimentos de bancos.
Região de topografia acidentada, Rio Branco se tornou um dos paraísos da pecuária em Mato Grosso. O município continua sendo uma das áreas mais procuradas por criadores interessados em terras no Estado.
Boa parte da cultura de Rio Branco está associada às tradições de católicos apostólicos romanos. Anualmente a cidade promove a procissão de Corpus Chri stis– data móvel – , quando moradores pintam com pó de serra e de café, tapetes com símbolos sacros e pátrios nas ruas por onde o cortejo religioso passa. Em janeiro, outra manifestação cultural toma conta das ruas e casas: saem as Folias de Reis com alguns integrantes mascarados e outros vestidos com roupas coloridas, entoando modas devocionais. Além disso, o município externa sua ligação com a pecuária – sua principal aticidade econòmica – na Festa do Peão, que todos os anos superlotam as improvisadas arenas especialmente montadas para esses eventos.
Redação blogdoeduardogomes
FOTO: Facebook da Paróquia São Roque – Rio Branco
Cidade nasce da luta pela terra

Vale de São Domingos é um dos retratos da nova realidade agrária de Mato Grosso. A cidade surgiu de uma invasão no Vale do Guaporé, no começo dos anos 1980. Centenas de trabalhadores rurais invadiram a fazenda Barretos, do pecuarista paulista Joaquim Goulart, numa área então pertencente ao município de Pontes e Lacerda.
Um dos invasores da fazenda, o cearense de Senador Pompeu, Manoel Pereira da Silva, o Caboclinho, idealizou criar a vila de São Domingos às margens do rio do mesmo nome, para dar suporte aos ocupantes da área.
Assim, em 24 de março de 1984, nascia São Domingos.
A vila cresceu e se tornou distrito de Pontes e Lacerda, ganhou uma subprefeitura e posteriormente se emancipou. Sua principal atividade econômica é a agropecuária, com lavouras de subsistência e a pecuária leiteira em pequenas e grandes propriedades. A Escola Estadual Rainha da Paz, construída no começo da década de 1990, é o pilar educacional do município.

Caboclinho era figura das mais conhecidas na região. A população local reconheceu seu papel para a formação da cidade e o elegeu vereador em 2000, no primeiro pleito do novo município. Recebeu 37 votos pela legenda do PTB.
Em 2001 entrevistei Caboclinho para uma reportagem sobre os 13 novos municípios mato-grossenses instalados em janeiro daquele ano. Ele, aos 74 anos, demonstrava vigor e sonhava com o crescimento de sua cidade.
Na conversa, Caboclinho deu detalhes da formação da vila. Disse que enquanto nordestino gostaria que a mesma tivesse começado em 19 de março, por ser o Dia de São José, santo invocado no Nordeste quando a estiagem assola o Sertão. Observou que em razão das fortes chuvas na região houve atraso em cinco dias para a instalação de São Domingos.
Vale de São Domingos começou sua trajetória de autonomia política elegendo uma mulher para sua primeira administração: Yolanda de Góis, uma das pioneiras. Yolanda trocou a farmácia onde atuou por mais de uma década aplicando injeções e “receitando” medicamentos contra vermes, blenorragia, problemas respiratórios e outros, pelo palanque que a conduziu ao cargo mais importante de seu município.
A cidade não tem tradição cultural. Além de embrionária, sua população está sempre sendo renovada por moradores oriundos de todos os cantos do país. Seu nome primitivo foi São Domingos. Com a criação do distrito, que pertencia a Pontes e Lacerda, a denominação foi alterada para São Domingos do Guaporé.
A cidade é parcialmente asfaltada, não trata esgoto e tem baixa criminalidade. Vale de São Domingos tem ligação pavimentada com Jauru e consequentemente com a malha rodoviária nacional pavimentada.
INSTITUCIONAL – A vila cresceu. Com o nome de São Domingos, se tornou distrito de Pontes e Lacerda em 16 de dezembro de 1986 por uma lei dos deputados Francisco Monteiro e Walter Fidélis sancionada pelo governador Wilmar Peres de Farias.
Em 27 de novembro de 1989 por uma lei do deputado Antônio Amaral sancionada pelo governador Carlos Bezerra, o nome do lugar foi alterado para São Domingos do Guaporé a prefeitura de Pontes e Lacerda instalou ali uma subprefeitura.
Com a emancipação em 28 de dezembro de 1999 por uma lei do deputado José Lacerda sancionada pelo governador Dante de Oliveira, o nome foi alterado para o atual, Vale de São Domingos. A sede da comarca é Pontes e Lacerda.
A distância da cidade a Cuiabá é 545 quilômetros por rodovia pavimentada via Cáceres.
Eduardo Gomes – blogdoeduardogomes
FOTOS:
1 – Prefeitura de Vale de São Domingos
2 – blogdoeduardogomes
Só faltou informar o novo marco no desenvolvimento da cidade. Como diria meu nobre vereador Cezari Pastorello: Pra que ZPE se
Cáceres agora tem FIBRA ÓPTICA.