Boa Midia

Blairo, Calixtão, WhatsApp, Facebook e o dízimo da cidadania

Blairo fala; Naftaly, de camisa azul, à esquerda do cinegrafista com a luz acesa
Cuiabá, segunda-feira, 1º de fevereiro de 2010. Numa solenidade com praticamente todos os prefeitos de Mato Grosso, o governador Blairo Maggi anuncia que no mês seguinte deixaria o Palácio Paiaguas pra se candidar ao Senado, apresenta balanço de sua administração e vibra ao anunciar que todos os municípios receberiam um comboio ou patrulha rodoviária, como verdadeiro papai noel antecipado do governo. O salão explode. Era seu apogeu político. Espremido entre os colegas e outras figuras públicas, o prefeito de Vila Rica, Naftaly Calisto, ouviu atento a fala do governante. Blairo saiu do Palácio, onde fez o pronunciamento, e caminhou em meio aos felizardos prefeitos até um terreno na avenida Rubens de Mendonça, onde estava o maquinário que seria repassado às prefeituras. Empurra dali, empurra daqui, Naftaly se encostou na figura central do acontecimento e lhe fez uma dura cobrança, que tomo por empréstimo figurado para fundamentar este modesto artigo.

No evento Blairo disse que havia pavimentado e restaurado 4.600 quilômetros de rodovias em sete anos de governo, Ao seu lado, enquanto caminhavam, Naftaly lhe disse num tom pouco mais que sussuro, que era evangélico e que se sentiria gratificado se o governo tivesse construído 460 quilômetros de asfalto no Vale do Araguaia, onde seu município se situa. O prefeito usou a metáfora do dízimo que os evangélicos tão bem conhecem.

Em suma: por mais que Blairo pavimentasse rodovias em outras regiões, o Vale do Araguaia, por questão de justiça, deveria receber, no mínimo, 10% dessas obras.

Por mera sorte jornalística estava ao lado dos dois e ouvi a cobrança de Naftaly. Mesmo sendo político escovado, Blairo se assustou. Sua reação foi uma frase repetindo o apelido do prefeito, “Calixtão, Calixtão, Calixtão…“. Com a classe política em desatino pra ficar ao lado do governador, Naftaly tomou outro rumo, não sem antes que lhe dissesse, “rapaz, você deixou Blairo na lona“.

Tomo esse fato por empréstimo, como disse acima. Gostaria que os grupos de WhatsApp e Facebook mato-grossenses, que tanto debatem com profundidade as questões políticas nacionais (e até internacionais), dedicassem 10% ao nosso abençoado e ensolarado Mato Grosso, onde acontecem coisas que até Deus duvida.

Pensem nisso!

Reflitam que não se pode construir uma casa a partir do teto. Olhem para o alicerce democrático que começa no município, avança pelo Estado e culmina na União. Contribuam com o dízimo da cidadania pra a grande obra que se chama Mato Grosso.

Eduardo Gomes de Andrade – jornalista

eduardogomes.ega@gmail.com 

FOTO: Marcos Negrini em 1º de fevereiro de 2010

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