Boa Midia

Bandeirinha em apuros

“Vamos fazer isso, sim! Prepare tudo direitinho e publique no Diário Oficial do Estado. Sem demora!”
Esta foi a resposta do governador de Mato Grosso, Pedro Pedrossian, quando o gestor de Orçamento do Estado, Édson Miranda, entrou em seu gabinete e sugeriu que o governo destinasse uma verba aos clubes que disputa¬vam o Campeonato Amador de Cuiabá, com o objetivo de incentivá-los a se tornarem profissionais.

O anúncio da decisão do governo foi recebido com festa pelos clubes que iam disputar o certame amador da capital de 1966: São Cristóvão, Mixto, Dom Bosco, Americano, Paulistano, Palmeiras e Operário, de Várzea Grande, como convidado. E não era para menos: cada clube recebeu uma bolada de Cr$ 20 mil, que à época era dinheiro para ninguém botar defeito.

Alguns clubes investiram muito pouco do dinheiro recebido do Estado no futebol, preferindo aplicar a grana que caiu do céu para aumentar seus patrimônios. O Dom Bosco, por exemplo, ampliou suas piscinas na sede do Morro da Colina, enquanto o Mixto construiu sua portentosa sede na Avenida Getúlio Vargas.
Presidente do São Cristóvão, do velho bairro do Araés, que nunca tinha sido campeão amador, Édson Miranda decidiu que tinha chegado a vez do seu querido clube ganhar o sonhado título. E investiu pesado no time. Para começar, partiu para a tática de enfraquecer seus adversários, contratando seus melhores jogadores.

Com os bolsos estufados de dinheiro, Édson Miranda tirou o goleiro Zé Rondonópolis, do Operário; Edmundo Barriga, do Mixto; Pedro, do Palmeiras, do Porto; Aírton, do Dom Bosco; foi buscar Edinho em Alto Paraguai e Valtinho em Rondonópolis e de quebra, para deixar os adversários de pernas trêmulas, trouxe ainda para o seu time Toninho, do Vitória da Bahia, e Dunga, do Sport Club Recife.

A ideia de Édson Miranda e a decisão do governador Pedro Pedrossian de incentivarem o futebol profissional em Mato Grosso frutificaram. E como! Já no ano seguinte, graças ao empenho de Rubens dos Santos (Operá¬rio), Ranulpho Paes de Barros (Mixto), Joaquim de Assis (Dom Bosco), Macá¬rio Zenagape (Atlético Mato-grossense) e Agripino Bonilha Filho (FMF) era implantado o futebol profissional em Mato Grosso.

O autor

Dutrinha lotado para um jogo de suma importância para São Cristóvão e Operário, ainda na fase do amadorismo. Tudo pronto para o início da partida. Édson Miranda pula o alambrado para chamar a atenção do juiz e principalmente do bandeirinha que ia ficar do lado do ataque operariano para a estratégia que o São Cristóvão ia adotar, aplicando a “linha burra” – o avanço sincronizado de toda a defesa para deixar os atacantes em impedimento. Era o jeito de evitar que Gebara e Fião, dois atacantes perigosíssimos do Operário, fizessem gols.

A prensa no bandeirinha valeu. E como valeu! Quando a bola era lançada na direção de Gebara ou Fião, o auxiliar do árbitro já levantava o pau da bandeira à altura da cintura. E era só os dois atacantes dar um passo, que a bandeirinha subia, com o juiz marcando posição irregular do ataque do Operário. Só no primeiro tempo foram nada menos que 16 impedimentos do tri¬color várzea-grandense – recorda Édson Miranda.
No segundo tempo, com a troca de campo, Édson Miranda repetiu a dose, partindo para cima do bandeirinha que ia atuar do lado do ataque do Operário. Mas, conforme testemunhas, o advogado do Operário, o promotor de Justiça Evaldo de Barros, sacou o lance, encostou no dirigente do São Cris¬tóvão junto ao alambrado e começou a pressionar o auxiliar do juiz para pôr fim àquela farra de marcação de tantos impedimentos contra o tricolor.

Aparentemente, o bandeirinha não estava dando bola para as ameaças do advogado operariano. No entanto, na primeira vez que ele levantou a bandeirinha até a altura da cintura para apontar impedimento do ataque tricolor, Evaldo Barros berrou nos seus ouvidos: “Se você levantar essa bandeirinha, eu toco pra frente aquele seu processo de pensão alimentícia e te meto na cadeia, seu…”

 

PS – Reproduzido do livro Casos de todos os tempos Folclore do futebol de Mato Grosso, do jornalista e professor de Educação Física Nelson Severino.

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