Audiência pública trata caso Santa Casa com superficialidade

Mérsis Maria de Carvalho não tem mandato, não participa da vida sindical, não é funcionária nem da diretoria da Santa Casa de Cuiabá. Mesmo assim, Mersis foi o principal destaque na audiência pública realizada na manhã desta segunda-feira, 25, na Assembleia Legislativa, para discutir o caos financeiro naquela unidade hospitalar filantrópica.

A audiência praticamente não serviu para nada. O cerne da questão é a receita e as despesas da Santa Casa. Na audiência nada disso foi abordado com exatidão, com base em documentação. Ficou o dito pelo não dito. Nenhuma autoridade sabe quanto e de quem o hospital recebeu. De igual modo é mistério o gasto, inclusive com a a folha de pagamento salarial, que está em atraso há seis meses.

O deputado Lúdio Cabral (PT) convocou a audiência e a presidiu. O assunto é tratado pela Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa, que aparentemente não lhe dá destaque. No meio da audiência os deputados da Comissão, Dr. João (MDB) e Paulo Araújo (PP) deixaram a Assembleia justificando que participariam de uma reunião sobre o Hospital Regional de Barra do Bugres, naquela cidade. O secretário municipal de Saúde, Luiz Antonio Possas de Carvalho, tomou Doril e não deu as caras na audiência.

O debate ficou na superficialidade e o ex-presidente da Santa Casa, Antônio Preza, em seu pronunciamento calou a Assembleia ao afirmar que a rádio corredor fala muito sobre a situação financeira (da Santa Casa), mas que nenhum deputado, nunca se reuniu com a diretoria da instituição para levantar a realidade. “Nenhum (deputado) conhece nada“, desabafou.

A audiência pública foi mais uma oportunidade perdida. O caso Santa Casa foi tratado sem profundidade. Mesmo assim, a audiência serviu para mostrar o descontentamento dos 800 servidores daquele hospital com sua direção. Quando o cerimonial anunciou que Antônio Preza falaria, os servidores saíram do Auditório Milton Figueiredo, onde a mesma acontecia.

MUNDO CAO – Dona Mérsis foi quem primeiro falou. Recebeu aplausos várias vezes. Em tom dramático fez um apelo pela Saúde Pública de Mato Grosso. Disse que seu marido José Antônio Bezerra sofre problemas renais e que há quatro anos fazia hemodiálise na Santa Casa. Acrescentou que a greve dos servidores por falta de recebimento salarial impede a continuidade do atendimento a Bezerra, e que há duas semanas o mesmo foi removido para a Clínica de Tratamento Renal (CTR), em Cuiabá, com guia do Sistema Único de Saúde (SUS).

Dona Mérsis vivia com o marido em Brianorte, distrito de Nova Maringá, distante 500 quilômetros de Cuiabá, com parte do trajeto sem pavimentação. Ele era caminhoneiro, e ela professora e funcionária municipal do posto dos Correios. Há quatro anos houve agravamento da saúde de Bezerra, e ela mudou-se pra Cuiabá para ficar ao seu lado, “deixei meus dois empregos e estou sem renda. Ele (Bezerra) não consegue mais dirigir e está aposentado”.

A situação de dona Mérsis reforça que a Santa Casa é uma instituição estadualizada.

A Assembleia não conseguiu apurar a real situação da Santa Casa. A prefeitura e a Câmara Municipal, também não. O governo estadual tenta tirar o corpo fora, como se tratasse de um caso que não lhe diz respeito.

O Ministério Público precisa apurar o que se passa na Santa Casa. O assunto é extremamente grave pra ser mantido nas rodas de discussões políticas. Há pacientes à espera de atendimento, casos de urgência e emergências são corriqueiros e 800 funcionários não recebem salário – e sobrevivem com doações de cestas básicas pela população.

Redação blogdoeduardogomes

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2 – Marcos Lopes – Assembleia Legislativa