Boa Midia

ATUALIZADA – Cacique impede operação de militares contra coronavírus em Marãiwatsédé

Cacique Damião: “Aqui, cloroquina, não”

ATUALIZADA – Caciques divulgam carta recusando atendimento

 

Aqui, não! Assim reagiu o cacique Damião Paridzane, que lidera a Terra Indígena Xavante Marãiwatsédé, aos militares das Forças Armadas, que integram a Operação Xavante, e que foram àquele território indígena na terça-feira, 4, para prestarem atendimento de saúde, e mais especificamente no enfrentamento à pandemia do coronavírus. Diante da recusa de Damião, o atendimento foi transferido para outros povos indígenas, inclusive na Ilha do Bananal (TO).

 

Desde o final de julho militares atuam em aldeias indígenas no Vale do Araguaia, região com alta incidência do novo coronavírus nas populações aldeadas. No sábado, 1º deste agosto, uma equipe  foi à Marãiwatsédé ouvir aldeados e traçar o plano de atuação em sintonia com suas liderançs. Segundo uma fonte, Damião recebeu muito bem o coronel Carlos Gabriel Brusch Nascimento, que comanda o 22º Batalhão de Infantaria Motorizado (22º BIMtz) de Palmas )TO) e responde pela Operação Na terça-feira, de volta ao local, a recepção mudou: índios liderados por Damião pediram que a Operação fosse suspensa, pois eles dispensavam atendimento.

O relações públicas da Operação, tenente Moraes, não foi contactado, por se encontrar na aldeia Santa Isabel do Morro, na Ilha do Bananal, que não recebe sinal de telefonia móvel. o secretário-executivo da Federação dos Povos e Organizações Indígenas de Mato Grosso, Lúcio Xavante, não comentou a decisão de Damião, mas observrou que a Operação é resultado de uma videoconferência em 2 de julho, entre lideranças indígenas e autoridades de Mato Grosso com o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, que atendeu à demanda pelo envio de médicos, medicamentos, enfermeiros e estrutura para exames pela Operação que é realizada desde o final de julho, conjuntamente pelos ministérios da Defesa, Saúde, e Justiça e Segurança Pública.

Marãwatsédé é uma área com 155 mil hectares nos municípios de São Félix do Araguaia, Alto Boa Vista e Bom Jesus do Araguaia, no Vale do Araguaia. Esse território foi entregue ao povo Xavante em dezembro de 2012, após uma desintrusão que resultou na demolição da vila Estrela do Araguaia, no cruzamento das rodovias federais 158/242. A primeira morte de indígena em Mato Grosso, pelo coronavírus, foi registrada em 11 de maio. no Hospital Regional Paulo Alemão, em Água Boa. A vítima foi um bebê de 8 meses, que era aldeado em Marãiwatsédé, em sua parte pertencente a Bom Jesus do Araguaia. Depois morreram dezenas de indivíduos de várias etnias e, dentre eles, os caciques Domingos Mãhölõ (Xavante(,  Aritana Yawalapiti (Yawakaouti)  e Joãozinho Zonezokae (Paresi)

Mesmo sem polemizar sobre a liderança de Marãiwatsédé, Lúcio Xavante aprovou a decisão dos militares em deslocarem o atendimento a outros povos indígenas. “É bom, para os Karajá, Javaé, Tapirapé e Avá-Canoeiroe, pois todos precisam de saúde“, disse via WhatsApp.

Lúcio Xavante também fez uma revelação. Segundo ele, o cacique Simão Butsé, da aldeia Namunkurá, na Terra Indígena São Marcos, em Barra do Garças, também não aceitou a presença dos militares.

A RAZÃO blogdoeduardogomes ouviu fontes indígenas sobre o impasse. A versão comum entre todas é que se trata de posicionamento político de Damião e outras lideranças. Segundo relatos, Damião teria discordado da presença dos militares sob a justificativa de que eles distribuiriam cloroquina nas aldeias – o que para ele não seria aceitável.

A Operação foi montada após pedido feito por indígenas com reforço político no Congresso Nacional e uma decisão do ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal, em 8 de julho, determinando que o governo federal prestasse assistência aos indígenas, nas aldeias, como parte do enfrentamento da pandemia.

ACISO – No domingo, 9, Dia dos Pais, os militares farão uma Ação Cívico Social (Aciso) em parceria com a prefeitura e a Câmara Municipal, em São Félix do Araguaia, para atendimento de saúde e cidadania aos moradores daquela cidade e entorno. Para tanto serão empregados os efetivos da área de Saúde, que foram enviados à região por unidades das três Forças Armadas em Brasília, Cuiabá, Campo Grande e Palmas.

 

Atualização (20h30 de 7 de agosto)

 

blogdoeduardogomes teve acesso hoje, 7 de agosto, ao manifesto elaborado por Damião e outros oito caciques de Marãiwatsédé, em que os aldeados recusam o atendimento médico pelas Forças Armadas, muito embora não as citem.  Esse documento foi endereço a autoridades em Brasília, Cuiabá e São Félix do Araguaia.

O texto datado de 2 de agosto e elaborado pelo cacique Damião diz: “Hoje tivemos última reunião da comunidade com os demais caciques das aldeias do território Marãiwatsédé, pois as maiorias não aceitar realizarem as ações de atendimento sobre na linha de combate de covid-19 além de outros atendimentos como ginecologistas, clínica geral e pediatria, por conta das falsidades nas rede sociais falando que essa missão vão acabar com xavantes onde irão atendidos. 
`Por motivo não aceitamos a essa missão. Seguem as assinaturas dos caciques das aldeias
Damião Paridzane (e outros oito caciques)”

Redação blogdoeduardogomes

FOTO: Mário Vilela – Funai

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