Atentados contra políticos hoje e ontem
José Rodrigues Rocha Júnior (foto) então candidato a deputado federal pelo PRP coligado com o governador Pedro Taques (PSDB), fez uma revelação bombástica: na noite de 15 deste agosto: foi vítima de tentativa de homicídio. Mostrou perfurações na lataria de sua camionete. Tratava-se, segundo ele, de tiros, dos quais escapou ileso por milagre.
Coincidentemente ou não após divulgar o atentado, José Rodrigues retirou sua candidatura e passou a atuar na coordenação da campanha de Taques à reeleição.
De boa paz, José Rodrigues não tem inimigos e goza de um prestígio intrigante, pois até não era político e mesmo assim foi secretário na área social da prefeitura de Cuiabá, com o prefeito Mauro Mendes; e no governo de Mato Grosso nos mandatos de Blairo Maggi, Silval Barbosa e Pedro.
A única vez que o nome de José Rodrigues esteve relacionado a arma foi em 2 de fevereiro de 2010, quando tentou embarcar no Aeroporto Marechal Rondon, para Brasília, e o raio-X detectou em sua bolsa de mão uma arma de uso restrito das Forças Armadas (um revólver Taurus calibre.357 modelo RT 65) – e nove munições. Foi preso em flagrante pela Polícia Federal e 24 horas depois da prisão o juiz da Vara de Execução Penal de Várzea Grande Adilson Polegato lhe concedeu liberdade provisória. Em novembro de 2011 o juiz Newton Godoy, da 2ª Vara Criminal de Várzea Grande o condenou a três anos de reclusão, em regime aberto, e ao pagamento de multa de R$ 1 mil e prestação de serviços sociais.
A forma como o atentado foi divulgado em meio à campanha política, me remeteu a outro – quem sabe análogo – sofrido por Carlos Bezerra em Rondonópolis. O caso de Bezerra virou o capítulo “Um atentado muito midiático” do meu livro Dois dedos de prosa em silêncio – pra rir, refletir e arguir, que publiquei em 2015 com ilustração de Generino e sem apoio das leis de incentivos culturais.
Um atentado muito midiático
Em 1982, Carlos Bezerra (PMDB) elegeu-se prefeito de Rondonópolis, e Júlio Campos (PDS), governador. Na campanha, Bezerra foi destaque na imprensa mato-grossense. Após a posse, Júlio deu ordem às Redações em Cuiabá: nada de Bezerra.
O prefeito Bezerra precisava de espaço nos jornais para alcançar seu grande objetivo: se eleger governador em 1986, o que efetivamente aconteceu.
Os primeiros dias da administração de Bezerra transcorreram sem registro jornalístico em Cuiabá. Aquilo incomodava o prefeito. Tanto incomodava que ele traçou um maquiavélico plano para ganhar as manchetes.
Mato Grosso abalou-se. Rondonópolis emocionou-se com a notícia: Bezerra vítima de atentado! Isso mesmo.
As manchetes diziam que um pistoleiro encapuzado entrou na Cerâmica São Carlos, do prefeito, e foi até sua residência, ao lado daquela indústria, para matá-lo. Bezerra teria escapado por um triz. Alguns jornais afirmavam que foram efetuados vários disparos. Outros, modestos, davam conta de um tiro, quase certeiro. No rádio falava-se que alguém desviou o cano da arma e o salvou.
O cargo mais importante na prefeitura rondonopolitana é o de presidente da Companhia de Desenvolvimento de Rondonópolis (Coder), empresa que gerencia o filé financeiro do município. O presidente da Coder, Osmir Pontin, resolveu por conta própria apurar o atentado.
Pontin até ser nomeado presidente da Coder era capitão do Exército e serviu no 18º Grupo de Artilharia de Campanha (18º GAC) de Rondonópolis. De formação militar, o importante integrante do staff de Bezerra não passava de aprendiz de político.
O trânsito de Pontin era bom entre os militares. E ele decidiu fazer extraoficialmente e de modo discreto, a reconstituição do atentado, para facilitar o trabalho do delegado de polícia encarregado do caso.
Numa tarde, o presidente da Coder levou alguns militares à cerâmica, e telefonou para Bezerra ir até lá, participar da reconstituição. O prefeito foi e levou consigo vários seguidores, sem, no entanto, dizer a eles o motivo.
Todos ficaram assustados quando viram aqueles militares fortes e armados. Bezerra deu ordem para que ninguém descesse do carro. Falou reservadamente com Pontin e mandou que ele despachasse os homens. Diante da resistência do ex-capitão na elucidação, o prefeito foi taxativo:
– Pontin, esse atentado é pra ser divulgado; não pra ser apurado! E botou ponto final na conversa.
Com ar misterioso, Bezerra deu a entender aos seguidores que Brasília investigava o atentado porque a polícia de Júlio não era confiável.
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Eduardo Gomes/blogdoeduardogomes
FOTO: Arquivo
ILUSTRAÇÃO: Generino
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