Atendimento, ainda não; inauguração, sim: é o Hospital Estadual

Inaugurado, sim. Totalmente, não. Com funcionamento imediato, necas de pitibiribas. Essa a realidade do Hospital Estadual Santa Casa, em Cuiabá – novo nome da bicentenária Santa Casa de Misericórdia, que foi empurrada no buraco, deixou um rombo milionário e servidores a ver navios. A inauguração aconteceu na manhã desta terça-feira, 23, e reuniu a elite política. O funcionamento pleno nem Deus sabe quando acontecerá. O atendimento parcial está previsto para a próxima semana. A dolorosa com a festa do corte da fita corre por conta do contribuinte.
Até parecia inauguração de verdade. Presentes, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta; o governador Mauro Mendes (DEM); os senadores Jayme Campos (DEM) e Wellington Fagundes (PL); os deputados federais Carlos Bezerra (MDB), Nery Geller (PP) e Rosa Neide (PT); e uma dezena de deputados estaduais. Todos com pose de autoridade em solenidade de inauguração. Na verdade, não se inaugurou nada: foi uma estratégia política promocional.
A inauguração ganhou espaço na mídia amiga. Na próxima semana, quando o hospital entrar em funcionamento parcial, nova leva de notícias será despejada para o leitor, internauta, telespectador e ouvinte mato-grossense. Mauro Mendes será apresentado como pai da criança. O senador Wellington distribuirá nota dizendo que fez ‘isso”, ‘aquilo’ e ‘aquilo outro”. O prefeito Emanuel Pinheiro (MDB) não participou do evento, hoje, mas, como é de costume, ocupará espaço na mídia pra mostrar que o novo hospital tem seu DNA administrativo.
O hospital está fechado desde 11 de março. Seus funcionários, no auge da crise, ficaram oito meses sem recebimento de salários. Denúncias de má administração e de nepotismo apontam para o ex-diretor da Santa Casa de Misericórdia, o médico Luís Felipe Saboia – que sempre negou as acusações.
Três assuntos foram evitados pelos inauguradores, com a bênção da mídia amiga, e um foi escamoteado, também com aval do chamado quarto poder:
1 – Ninguém revelou quanto o Senado, a Câmara dos Deputados e o Ministério da Saúde gastaram para garantir a presença de seus representantes no ato.
2 – A ausência de Emanuel Pinheiro não mereceu destaque. Falar sobre ele, naquele momento, na presença de Mauro Mendes, seria o mesmo que citar corda em casa de enforcado.
3 – Não se tocou no curso das investigações ou supostas investigações para se apurar responsabilidade sobre um suposto rombo milionário na contabilidade da Santa Casa de Misericórdia, o que muito contribuiu para seu endividamento superior a R$ 100 milhões.
O escamoteamento foi grotesco. Mauro Mendes disse que o quadro de servidores do Hospital Estadual Santa Casa terá 300 servidores ao passo que a Santa Casa tinha 700, para prestar o mesmo tipo de atendimento. O governador somente não explicou que além dos 300 servidores diretos, outros 400, de empresas terceirizadas, também vestirão o jaleco branco daquela unidade hospitalar rebatizada.
Eduardo Gomes – blogdoeduardogomes
FOTO: Marcos Vergueiro – Governo de Mato Grosso – Divulgação
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