Boa Midia

ANALISE: Acabou

Pedro dá adeus ao povo
Pedro dá adeus ao povo

Uma máxima nos ensina que não há lugar onde um burro não entra desde que puxado por seu dono. Ela, no entanto, não nos diz que o proprietário pode tirar o animal do lugar onde se encontra – seria desnecessário tal afirmativa.

Em 2014 Mato Grosso queria uma tábua de salvação. Não precisava que fosse excelente administrador, nem político de extrema habilidade. Ao salvador bastava honestidade e força suficiente para estancar a corrupção que grassava. O escolhido foi o senador Pedro Taques (PDT). Ledo engano. O que estava ruim, piorou. Nesse 7 de outubro, no espelho das urnas o mato-grossense respondeu a Pedro por seu destempero administrativo, pela arrogância de suas palavras, por seus infames trocadilhos, pela crônica inadimplência aos prestadores de serviço e produtos, pelo menosprezo aos servidores, e, sobretudo, pelo recorrente crime da retenção dos repasses da Saúde Pública aos municípios. Povo é juiz que também erra, mas com a vantagem de não persistir no erro.

Na eleição de 2014 Pedro chegou ao Paiaguás em primeiro turno, com 833.788 votos (57,25%). Agora, recebeu 271.952 votos (19%). No absoluto, quatro anos depois, Pedro registrou 561.836 votos a menos do que em sua eleição ao cargo. Mais de meio milhão de eleitores do ontem lhe disse “não”, hoje. Seu vice-governador Carlos Fávaro renunciou ao cargo. Sua candidata ao Senado, Selma Rosane (PSL) o abandonou e foi eleita com a maior votação em Mato Grosso.

Pedro foi o primeiro governador que não conseguiu se reeleger. Além disso, ficou em terceiro lugar entre os candidatos – fracasso total.

Além do fracasso de sua candidatura Pedro ainda conseguiu sepultar o grupo mais próximo a ele.

A página de Pedro foi uma aventura eleitoral.

A limitação administrativa do governador não foi a única razão para sua derrocada nas urnas. Pedro governou com o fígado. Quem poderia cobrar postura ao ocupante do cargo, melhor desempenho e frear a corrupção seria a Assembleia, mas essa, submissa e imunda, se ofereceu faceira para convalidar os atos do homem que tinha a chave do cofre. Nesse contexto não cabe nem citação ao Tribunal de Contas do Estado, órgão auxiliar do Legislativo, que desde setembro do ano passado tem cinco de seus sete conselheiros afastados por decisão judicial diante de graves denúncias de recebimento de propina para que fizessem vistas grossas ao governo anterior de Silval Barbosa. Outro conselheiro, o sexto, Humberto Bosaipo, estava afastado quando conseguiu uma aposentadoria e paralelamente a ela baixou pra primeira instância as ações por improbidade a que responde.

Pedro reinou absoluto com ampla e quase total cobertura da imprensa, com a qual foi extremamente generoso na liberação de mídia. Enquanto isso, mato-grossenses agonizavam nas filas dos hospitais públicos por falta de medicamento, em consequência de greves etc.

Ao Pedro governador restam 85 dias no poder. Transcorrido esse período ele terá que se encontrar com a realidade, mas sem as prerrogativas do cargo. Terá que se encontrar com Grampolândia Pantaneira; com o escândalo do rombo superior a R$ 30 milhões no Detran; com a rapinagem na Secretaria de Educação, que resultou na prisão de seu ex-titular Permínio Pinto; com o generoso ‘entendimento’ com a Unimed, que jogou por terra quase toda sua inadimplência etc – conforme denunciei à época. Pedro terá que se deparar com a realidade – com a dura realidade.

Não se deve tripudiar sobre quem cai. Não é esse o papel do jornalista, mas para contextualizar fatos é preciso revirar o passado, que nesse caso é nebuloso, fétido, repugnante. Espero com expectativa a manifestação da imprensa sobre Pedro. Textos atrelados no ontem, artigos de autoria de alguns ditos formadores de opinião que endeusavam o governador e o noticiário corriqueiro podem mudar de direção – um festival de ataque vai surgir com ferro e fogo contra o até então poderoso detentor da chave do cofre.

Não farei coro aos que – inevitavelmente pela tradição – atacarão Pedro. Espero encerrar minha manifestação sobre ele com nessa analise. Não me calei sobre tudo que tinha que dizer ao longo de seu governo. Enquanto o governador foi figura poderosa sempre o vi com restrição. Não foram poucas as vezes em que fui a eventos e coletivas no Palácio Paiaguás e senti o quanto alguns colegas lotados em cargos estaduais fugiam de mim temendo serem acusados de conivência com meus textos. Não critico o nada e pela vontade do povo da Terra de Rondon, Pedro é página virada.

Passou. Pedro não é mais. Fica seu trágico inventário administrativo e a lembrança do vergonhoso patrulhamento feito por figuras comissionadas postadas nas redes sociais para defende-lo. Fica o fedor, que o cheiro de liberdade, a luz do sol e o perfume da quebra das amarradas lançam sobre o hoje desinfetando um período que precisa ser mantido na memória, para que no amanhã Mato Grosso novamente não atropele o curso de sua cidadania, de seu desenvolvimento e sua história institucional. Acabou.

 

Eduardo Gomes de Andrade é jornalista
eduardogomes.ega@gmail.com

FOTO: Flickr da campanha fracassada de Pedro à reeleição

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