Mesmo faltando um ano para as convenções municipais, as articulações políticas acontecem nos municípios mato-grossenses. Em Juara, três nomes são apontados enquanto prováveis candidatos a prefeito. Carlos Sirena (PSDB), Oscar Bezerra (PV) e Priminho Riva (PL); Sirena é o prefeito e os outros dois foram prefeitos. Nem a grandeza territorial do município, nem sua forte economia pecuária nem sua importância no contexto social em Mato Grosso conseguem impedir críticas generalizadas à sua classe política, por conta de alguns de seus integrantes, a exemplo dos ex-prefeitos e ex-deputados estaduais José Riva e Luciane Bezerra.
Sirena e Oscar articulam, mas discretamente e nenhum assume a intenção de se candidatar. Priminho bota as cartas na mesa, com a cautela que a legislação eleitoral impõe, mas os 34.815 moradores da vastidão dos 22.622 km² do município se dividem entre os que o ouviram falar em seu projeto de voltar para a prefeitura, onde cumpriu dois mandatos consecutivos, ou que escutaram isso de terceiros.
Se confirmada a participação dos três na eleição, Juara acompanhará alguns duelos eleitorais interessantes.
Primeiro: em 2016 Sirena foi eleito vice-prefeito na chapa de Luciane Bezerra (PV), que foi cassada pela Câmara por improbidade administrativa, que ela nega – Luciane é mulher de Oscar.
Segundo: Oscar e Priminho são ferrenhos adversários; Oscar fazia enfrentamento com o grupo liderado por José Riva, que é o líder do clã dos Riva e irmão de Priminho.
Dos três, Sirena é o único que não teme abrir o armário para não encontrar esqueleto político.
Oscar foi prefeito e alcançado pela Lei Ficha Limpa; em 2012 disputou a reeleição, ganhou, mas não tomou posse, o que provocou a necessidade da realização de eleição suplementar em 7 de julho de 2013. Enquanto o município aguardava pelo novo pleito, o presidente da Câmara, Lourival Souza Rocha, o Lorão Macarena, administrou a prefeitura. O pecuarista Edson Miguel Piovesan foi eleito para concluir o mandato previsto para o quadriênio 2013/16, e seu vice foi Fernando Manoel Borba Azoia, que é irmão de Luciane e, portanto, cunhado de Oscar.
Em 2010, quando estava inelegível, Oscar lançou Luciane candidata a deputada estadual pelo PSB. Ela, além de se eleger, foi mais votada do que Riva em Juara. Em 2014, Oscar reconquistou a elegibilidade, disputou a Assembleia e saiu vitorioso – com isso Luciane se afastou dos palanques, mas logo após a posse do governador Pedro Taques, em 2015, foi nomeada presidente do Instituto de Terras de Mato Grosso (Intermat). Em 2016, Luciane disputou e venceu a eleição para prefeita de Juara. Em 2018 Oscar tentou a reeleição, mas ficou pelo caminho.
Priminho integra a relação dos prefeitos mato-grossenses que se envolveram com o escândalo da Máfia das Ambulâncias ou Sanguessugas. Seu irmão Riva, depois de cumprir mandato de prefeito acumulou eleições para deputado estadual – sempre campeão de votos – e para a presidência da Assembleia, a qual controlava. Riva foi alcançado pela Lei Ficha Limpa, ficou inelegível e em fevereiro de 2015 deixou o poder. Riva acumula penas de prisões decretadas em primeira instância, mas está em liberdade enquanto recorre em instância superior – ele também foi preso temporariamente várias vezes. As ações a que responde são por crimes de improbidade administrativa, sendo que alguns ele reconhece e, outros, nega.
JANAÍNA – Janaína Riva (MDB), nascida em Juara, filha de José Riva e sobrinha de Priminho, cumpre o segundo mandato consecutivo de deputada estadual. Em 2018, recebeu a maior votação para o cargo: 51.546 votos. Mesmo apresentada enquanto deputada por Juara, Janaína reside em Cuiabá, onde centraliza o foco de sua atuação política, tanto assim, que seu nome sequer é lembrado para a disputa da prefeitura do município onde nasceu.
Relembre a cassação de Luciane
A prefeita Luciane Bezerra (PV) foi cassada sob a acusação de improbidade administrativa pela Câmara no sábado, 7 de novembro de 2018.
Numa sessão da Câmara, que durou mais de 35 horas, seis dos nove vereadores por Juara cassaram o mandato de Luciane. Denunciada por 50 cidadãos e entidades de seu município, de cometer irregularidade em processos de licitação e de desvio de dinheiro público, a prefeita perdeu o mandato. Enquanto os vereadores a julgavam, Luciane enfrentou um pedido de seu afastamento feito pelo Ministério Público (MP), ação essa que perdeu o sentido.
O mandato de Luciane foi conturbado. Em 20 de fevereiro de 2018 a Justiça determinou seu afastamento do cargo por 180 dias acatando pedido do MP, que a acusava de fraudar a licitação para a reforma de uma escola no distrito de Paranorte. Depois de intensa batalha judicial a prefeita reverteu a situação em 28 de junho, quando reassumiu a prefeitura graças a decisão monocrática do então presidente do Tribunal de Justiça, Rui Ramos.
Num episódio sem ligação com a prefeitura de Juara, quando Luciane exercia mandato de deputada estadual (2011/14) foi filmada e aparece em vídeo recebendo maços de dinheiro de Sílvio Corrêa, à época chefe de Gabinete do então governador Silval Barbosa. Descontraída na cena, Luciane pede a Sílvio que lhe dê também o quinhão que seria do presidente da Assembleia, José Riva. Em delação premiada ao Ministério Público Federal homologada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Luiz Fux, Silval e Sílvio informaram que o dinheiro recebido por Luciane era propina paga por meio de mensalinho. As imagens foram apresentadas pela Rede Globo em agosto de 2017 e nelas também apareceram outros deputados em situação idêntica, a exemplo de José Domingos (que se reelegeu em 2014 e não se candidatou em 2018), Alexandre Cesar (que deixou a Assembleia e reassumiu a função de procurador do Estado), Ezequiel Fonseca (que mais tarde seria deputado federal e agora não tem mandato), Emanuel Pinheiro (agora prefeito de Cuiabá) e outros; todos negam que se tratasse de mensalinho.
Eduardo Gomes – blogdoeduardogomes
FOTOS:
1 e 3 – Arquivo blogdoeduardogomes
2 – Divulgação Assembleia Legislativa
4 – Sobre imagem da Rede Globo