Suborno, uma maldição no futebol

O autor

São muitas as histórias sobre suborno no futebol de Mato Grosso. A prática começou nos primórdios do amadorismo e avançou pelo profissionalismo. E tem gente de muita vivência no mundo da bola que garante que essa praga ainda não foi extirpada do futebol mato-grossense. A diferença é que agora o acerto é mais disfarçado. Só isso!…

 

O centroavante Fião, que fez sucesso no futebol mato-grossense defendendo o Palmeiras, o Dom Bosco, o Operário, além das seleções de Cuiabá e do Estado, diz que nunca existiu esse negócio de um clube dar dinheiro para atleta de outro time para ganhar o jogo.

– No nosso tempo nunca existiu esse negócio de jogador se vender. Como os clubes iam subornar jogadores adversários se não tinham dinheiro? – questiona Fião.

O goleiro Fulepa admite que recebeu dinheiro uma vez para “entregar” o jogo. Seu time, o Atlético Mato-grossense, ia jogar com o Operário, de Várzea Grande, no Dutrinha. Como o clube várzea-grandense precisava ven¬cer, um diretor do tricolor, Rubens dos Santos, ofereceu dinheiro para meio time do Atlético para garantir a vitória.

Comunicado pelos jogadores sobre o que estava acontecendo, o presidente atleticano Auro Matoso foi incisivo: “Peguem o dinheiro e joguem o futebol que vocês sabem jogar…”
Com o dinheiro no bolso, os atleticanos meteram 7×1 no clube várzea-grandense.

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Em 1957 ou 58, a seleção da capital foi a Campo Grande disputar três jogos pelo Campeonato Estadual de Seleções, cujos classificados para decidirem o título num torneio em pouco mais de uma semana, eram Cuiabá, Campo Grande, Aquidauana, Corumbá e Ponta Porã.

Treinada por Leônidas, que já tinha parado de jogar, a seleção de Cuiabá era uma das favoritas para ser campeã. Por isso, foi uma decepção a goleada que o selecionado cuiabano levou de Campo Grande, na sua estreia, pelo placar de 6×1.

À noite no hotel, depois do jantar, o presidente da Federação Mato-grossense de Desportos, professor Gastão de Mattos Muller, levantou-se e, sem rodeios, citou os nomes de cinco ou seis jogadores que deveriam fazer as malas e se mandar para o terminal rodoviário para retornarem à Cuiabá, porque estavam, a partir daquele instante, desligados da seleção.

Por que tinham sido dispensados? Simplesmente porque o grupo havia se vendido para a seleção campo-grandense…

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O jogo entre Mixto e Dom Bosco caminhava para o fim e nada do árbitro dar um jeito de facilitar a vida do alvinegro. A torcida mixtense sa¬bia que o juiz estava na “gaveta” e, irritada, correu para o alambrado e passou a xingá-lo, apelando para os mais grosseiros palavrões para obrigar o juiz a cumprir o trato…
Chegou uma hora em que o árbitro aproximou-se de um numeroso grupo de torcedores alvinegros que estava atrás do gol do Dom Bosco e explodiu: “Porra, manda o Acácio cair na área que eu dou pênalti…”

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– Pô, eu estou avançando toda hora. Vocês têm que jogar a bola nas minhas costas… – essa foi a explosão que o árbitro Orlando Antunes de Oliveira ouviu de um zagueiro mixtense contra jogadores do time adversário numa importante partida do Campeonato Mato-grossense de Futebol já era profis-sional.

A reação do zagueiro, que estava correndo feito um desesperado, não deixava dúvida que o jogador mixtense estava na “gaveta”. O árbitro não se lembra contra quem foi o jogo do Mixto e nem do resultado.

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O juiz Aírton Franco, escalado para apitar uma decisão entre Mixto e Dom Bosco, foi procurado por um dirigente dombosquino – que tinha sido pugilista e era bamba na compra de um árbitro – que chegou com uma conversa mole, como se não quisesse nada. Mas antes que partisse para a “cantada”, foi despachado, pois o juiz sabia muito bem o que ele estava querendo.

De outra feita, Aírton Franco foi procurado por um diretor do Comercial, de Poconé, que não fez segredo: o clube precisava daquele título que ia disputar contra o Mixto. Era uma questão de sobrevivência do time poconeano. Aírton Franco entendeu o recado e mandou–o na hora a ir bater em outra freguesia…

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O Dom Bosco teve um diretor, cujo nome era Antonio Bastos, que tinha uma única função no clube: comprar jogadores adversários, principalmente goleiros. E se o resultado de um jogo entre outros times interessasse ao Dom Bosco, era com ele mesmo fazer os acertos, numa boa…

PS – Reproduzido do livro Casos de todos os tempos Folclore do futebol de Mato Grosso, do jornalista e professor de Educação Física Nelson Severino