Série (V) – Em quem votar ou não votar – Carlos Augustin, o Teti

Eduardo Gomes

@andradeeduardogomes

Carlos Augustin, o Teti (PT) de Rondonópolis é o quinto pré-candidato a prefeito focalizado pela Série Em quem votar ou não votar, que aborda aleatoriamente os nomes que estão em pré-campanha para a Prefeitura de Cuiabá e dos municípios de Barra do Garças, Várzea Grande, Sinop, Rondonópolis e outras importantes cidades mato-grossenses.

A série começou com Beto Farias (PL), de Barra do Garças; e prosseguiu com Lúdio Cabral (PT) e Victorio Galli (DC) ambos de Cuiabá; e Mariano Kolankiewicz (MDB), de Água Boa.

ELECarlos Ernesto Augustin, o Teti, nasceu em Carazinho (RS) no dia 17 de agosto de 1957. É engenheiro agrônomo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul na turma de 1982. É empresário rural do segmento sementeiro e produtor rural na fazenda Farroupilha, na Serra da Petrovina, município de Pedra Preta, no polo de Rondonópolis, desde 1984, e sua sede comercial é estabelecida em Rondonópolis. Assessor Especial do Ministério da Agricultura e Pecuária e presidente do Conselho de Administração da Embrapa (Consad), Teti é um dos fundadores da Associação dos Produtores de Sementes de Mato Grosso (Aprosmat), do Instituto Pensar o Agro (IPA), do Fórum Agro MT e da Associação Brasileira dos Produtores de Semente de Soja (DF). É vice-presidente da Aprosmat e do Fórum Agro MT, e membro dos Conselhos Consultivos da Associação Mato-grossense dos Produtores de Algodão (AMPA)  e do IPA.

Teti foi presidente da AMPA, do IPA e da Aprosmat

Teti é petista desde a juventude. Seu irmão, o economista Arno Augusto Augustin Filho, foi secretário do Tesouro Nacional do segundo governo do presidente Lula da Silva e no primeiro governo de Dilma Rousseff.

PREFEITURA – Em Mato Grosso o PT nunca esteve entre os maiores partidos, e nos últimos anos, após a Operação Lava Jato, a sigla sofreu esvaziamento nos municípios. Rondonópolis, que é a vitrine do agronegócio em Mato Grosso nunca foi administrada por petista, e pela força do agro nacional, a conquista de sua prefeitura virou uma das bandeiras do partido, para se mostrar ao Brasil em 2026.

Teti, Lula, Fávaro e a Prefeitura de Rondonópolis para chamar de sua

No rescaldo dos quadros locais do PT não havia nome para disputar a prefeitura. A solução foi transformar Teti no pré-candidato do partido. Lula gostou da ideia e incentivou Teti, com o qual mantém laços de cordialidade. Essa alquimia foi endossada pelo ministro e senador Carlos Fávaro (PSD) e o então secretário executivo do Ministério da Agricultura e Pecuária, Neri Geller (PP).

O plano era a formação de uma chapa com Teti na cabeça e um nome indicado pelo prefeito Zé Carlos do Pátio (PSB), para vice. Nos bastidores comentava-se até recentemente que entre quatro paredes Pátio teria abraçado a ideia, mas não a levou adiante, preferindo apoiar seu braço direito e correligionário Paulo José, para prefeito. PT e PSB tentaram uma conciliação, mas tudo que consegiram foi a proposta para a inversão da chapa, com Teti de vice.

A inversão não agradou a cúpula petista em Brasília, que defendia e defende Teti, o barão do agro, para prefeito com um pobre, no caso Paulo José, com as bênçãos do populismo de Pátio, para vice.

Desajeitado, por não ter jogo de cintura política e tendo que enfrentar políticos escolados em campanhas eleitorais, Teti tremeu nas bases. Sua pré-candidatura não conseguiu formar uma frente de centro-esquerda e ele não tem cheiro de povo. Mesmo assim, com posicionamentos desencontrados, a cúpula petista tem a pré-candidatura de Teti como certeira.

No vai-não-vai, Teti é mantido pré-candidato, mas sem um nome definido para vice. Neste cenário sua tábua de salvação seria o carisma de Lula. É uma questão partidária e que transcende a disputa em si, pela importância de Rondonópolis no cenário nacional.

O que não era bom, piorou com o escândalo do arroz, chamado de Nerizzo. Esse fato causou indignação no agronegócio, que é a principal base eleitoral de Teti, e apesar de sua gravidade nenhum dos integrantes da República de Mato Grosso no Ministério da Agricultura e Pecuária reuniu-se com os produtores rurais para passar o caso a limpo.

A ponta do iceberg do escândalo foi o leilão realizado no dia 6 deste mês de junho para a compra de 263,37 mil toneladas de arroz importado, beneficiado, tipo 1, que foi anulado – depois de pressão jornalística – no dia 12, pelo presidente da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Edegar Pretto, que disse que as empresas vencedoras do leilão não tinham capacidade técnica e financeira para ter participado do ato.

Neri caiu

O leilão custou a cabeça de Neri Geller. Abalou o Ministério da Agricultura e Pecuária em meio ao silêncio sepulcral da República de Mato Grosso, que dentre outros é composta por ele, Teti e por:

Carlos Fávaro, o ministro, que é de Lucas do Rio Verde e ligado a Eraí Maggi Scheffer.

Pelo secretário-executivo do ministério, Irajá Lacerda PSD), nascido em Cáceres e filho do segundo suplente de Fávaro no Senado, José Lacerda (PSD).

Por Neri Geller (PP), que até o dia 12 era secretário de Política Agrícola,e que também é de Lucas.

Por Thiago José dos Santos, diretor de Abastecimento da Conab, e que respondia pelo leilão do arroz; Thiago é de Nortelândia e figura-chave no escândalo.

Rosa Neide, professora, ex-secretária estadual de Educação e ex-deputada federal petista que foi contemplada com a diretoria Administrativa, Financeira e de Fiscalização da Conab.

Pelo cuiabano Jônatas Pulquério diretor de Gestão de Riscos do ministério. E outros.

A compra intempestiva do arroz foi duramente criticada por orizicultores e entidades de classe do agro. Tal operação não passa pelo assessor Especial, no caso Teti, mas não é fácil convencer a população que o compartilhamento do poder e o grau de relacionamento entre os membros da República de Mato Grosso não teria feito com que todos soubessem detalhes.

Em suma: o Nerizzo fechou as portas políticas do agro para o pré-candidato petista a prefeito de Rondonópolis e deixa a população com o pé atrás.

Teti, acostumado ao cavalheirismo e aos encontros de elite, certamente estranhará quando a máquina populista de Pátio for acionada contra ele, para ‘queimá-lo’ perante o eleitorado de esquerda, que nesse caso poderá migrar em parte para Paulo José

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Inevitavelmente a República de Mato Grosso será atingida pelo escândalo. O montante em jogo é altíssimo, o modus operandi é suspeitíssimo e quem respondia pelo leilão é o pastor e paletrante Thiago José dos Santos, que chegou à Conab nos braços do padrinho Neri.

Thiago José dos Santos, 38 anos, é de absoluta confiança de Neri, ao qual assessorou quando o mesmo foi deputado federal. Neri o levou para a Conab em março do ano passado, logo após assumir a Secretaria de Política Agrícola.

Antes de sua relação com Neri, Thiago Santos exerceu algumas funções na Prefeitura de Nortelândia, sendo a principal e que o projetou, a de coordenador de Formalização e Acompanhamento de Convênios, ou seja, de acompanhamento da tramitação para liberação de emendas parlamentares.

Diretor de Abastecimento da Conab, Thiago Santos teve sob seu controle leilões milionários desde que chegou ao cargo, e nenhum deles despertou a atenção nacional, a não ser o do arroz importado, pela atipicidade daquela operação. No caso do escândalo do leilão, a Justiça chegou a suspendê-lo, mas o Tribunal Regional Federal da 4ª Região e o ministro André Mendonça, do STF, o mantiveram, pois o governo justificava que a compra seria para assegurar o abastecimento e impedir disparada dos preços em razão da quebra da safra gaúcha.

Três das quatro empresas que venceram o leilão suspeito não são do ramo de arroz e de importação de grãos. São elas: a Icefruit, uma fábrica de polpas de frutas em São Paulo; a Wisley A. de Souza Ltda, uma loja de queijos de Macapá (AP); e a ASR Locação de Veículos e Máquinas, de Brasília.

Quem intermediou o leilão  de 44% do arroz foi a Bolsa de Mercadorias de Mato Grosso (BMT), que pertence ao advogado Robson Luiz de Almeida França, também dono da Foco Corretora de Grãos, que já assessorou Neri, e que seria sócio de Marcello Geller, filho de Neri.

A Polícia Federal instaurou inquèrito para apurar o fato e Fávaro vai à Comissão de Agricultura da Câmara dos Deputados na próxima quarta-feira (19) prestar esclarecimentos sobre o arroz. O convite partiu do deputado José Medeiros (PL) e foi aceito pelas lideranças do governo naquela comissão. E o deputado Zucco (PL/RS) colhe assinaturas pela instalação da CPI DO ARROZÃO; até o final da semana passada, o pedido contava com 142 das 171 assinaturas necessárias – dentre os que assinaram, Abílio Brunini, José Medeiros, Nelson Barbubo e Coronel Fernanda (todos do PL) e o Coronel Assis (União).

RESUMO – Independentemente do isolamento político, Teti tem uma pedra em seu caminho para a prefeitura: o Nerizzo. O silêncio sobre o fato irrita o agronegócio e sugere um omertà entre os membros da República de Mato Grosso no Ministério da Agricultura e Pecuária. Num contexto assim, mesmo que nem todos dessa República tenham participação no caso do leilão. o eleitor ficará receoso em votar em Teti para prefeito do maior polo do agronegócio do Centro-Oeste. Escaldado com tantos escândalos nos meios políticos, para o rondonopolitano até silêncio torna-se suspeito.

 MEMÓRIA – Neri foi preso em 9 de novembro de 2018, quando era deputado federal eleito pelo PP. Estava em Rondonópolis para participar de um evento do agro, quando a Polícia Federal deu-lhe voz de prisão. Permaneceu recolhido na Penitenciária Major PM Eldo de Sá Corrêa – Mata Grande – até o dia 12 daquele mês, quando o Superior Tribunal de Justiça concedeu-lhe liberdade. A prisão foi parte da Operação Capitu, da Polícia Federal, que investigava (continua investigando) corrupção no Ministério da Agricultura e Pecuária nos anos de 2013 e 2014, após delação premiada do doleiro Lúcio Funaro. Na mesma Capitu foram presos outras figuras do ministério e o empresário Joesley Batista (para refrescar a memória associem Joesley ao JBS).

Segundo Funaro, Joesley pagava propina ao então ministro Antônio Andrade, e teria continuado a prática criminosa quando Nery  o sucedeu. Neri nega e se defende na Justiça.

Rosa Neide da Seduc para a Conab

No dia 19 de agosto de 2019, em Cuiabá, policiais da Delegacia Especializada em Crimes Fazendários e Contra a Administração Pública (Defaz), cumpriram mandado de busca a apreensão na casa da então deputada federal Rosa Neide (PT), por ordem da juíza Ana Cristina Silva Mendes, da 7ª Vara Criminal da capital, na Operação Fake Delivery.

Rosa Neide era investigada por suspeita de desvio de 1,1 milhão de reais na compra de materiais didáticos pela Secretaria de Estado de Educação (Seduc), quando ela era sua titular no governo de Silval Barbosa. Parlamentar federal Rosa Neide gozava de foro previlegiado e o ministro do STF Alexandre de Moraes determinou a suspensão da ordem da juíza em Cuiabá.

Esse fato hiberna. Rosa Neide nega as acusação.

PS – Continue lendo a série. A postagem dos nomes é aleatória e o texto não focaliza a vida pessoal dos citados.

Permitida a reprodução em sites, revistas, jornais e blogs, desde que na íntegra, mantido o título e informado o nome do jornalista que escreve a série e o endereço eletrônico completo do www.blogdoeduardogomes.com.br

Postado em 17 de junho de 2024