Político até na naturalidade. Quando alguém lhe perguntava: – Onde nasceu? A resposta era clássica: “Na fazenda Caninana, entre Nossa Senhora do Livramento e Várzea Grande“. Desse modo, ele não descontentava nenhum dos dois municípios, que o tinham no rol de seus filhos. Assim era seo Fiote, que veio ao mundo em 9 de janeiro de 1917, com duplicidade de naturalidade e que esteve entre nós até 20 de setembro de 1997, quando fechou os olhos para sempre, numa UTI do Hospital Jardim Cuiabá, em Cuiabá.
Não é fácil sintetizar o perfil de seo Fiote, a começar por seus laços familiares em Várzea Grande e Nossa Senhora do Livramento, suas duas cidades: por todas as linhagens se encontram parentes diretos e afins do homem que foi o patriarca dos Campos – maior clã político de Mato Grosso nas últimas décadas.
Em Várzea Grande, até bem pouco tempo, mas antes de sua explosão populacional, era assim: se é Campos, é parente, se é Botelho, se é Barros, se é Domingos, se é Leite, se é Monteiro, não importa… Na veia de todos corre o sangue de seo Fiote. Mas, não é somente isso. Se você se depara com uma escola que leva o nome de uma professora, tenha certeza de que ele ou foi seu aluno ou os dois são consanguíneos.
Mas, afinal, pra quem não é várzea-grandense e não sabe sobre a tradição daquele município, quem foi seo Fiote? Foi um hábil político do PSD, que lutou pela emancipação de Várzea Grande, que era distrito de Cuiabá; que foi o vereador mais votado em sua primeira legislatura (eleita em 1949); que por duas vezes foi seu prefeito; e que foi patriarca do clã político mato-grossense mais representativo nas últimas quatro décadas.
Em 1951 seo Fiote elegeu-se prefeito de Várzea Grande pela primeira vez. Em 1957 conquistou o segundo mandato para aquele cargo. Depois, em 1964, mudou-se para Cuiabá e não mais disputou eleição, muito embora participasse ativamente da vida política daquela cidade e de Mato Grosso.
Ao assumir o governo, Pedro Pedrossian (1966/71) o convidou para ocupar uma cadeira no Tribunal de Contas do Estado, mas seo Fiote não aceitou. Estava decidido a não mais participar diretamente da vida pública.
Comerciante, seo Fiote fundou em Várzea Grande, no ano de 1941, A Futurista, um grande atacarejo. Anos depois a transferiu para Cuiabá. Paralelamente a isso, foi pecuarista.
O patriarca dos Campos casou-se em 28 de novembro de 1944, com dona Amália Curvo de Campos. O casal teve 10 filhos: Doralice, Júlio José, Circe Bernardete, Juracy Maria, Jayme Veríssimo, João Francisco, Ivete Maria, Benedito Paulo, Marilene Auxiliadora e Márcia Auxiliadora.
Dos filhos, quatro herdaram a veia política do pai:
Júlio José de Campos, engenheiro agrônomo, foi prefeito de Várzea Grande, duas vezes deputado federal, governador, senador e conselheiro do Tribunal de Contas do Estado.
Jayme Veríssimo de Campos, empresário, foi prefeito de Várzea Grande em três mandatos, governador e cumpre o segundo mandato alternado de senador. A mulher de Jayme, a empresária Lucimar Campos, é prefeita de Várzea Grande pelo segundo mandato consecutivo.
Benedito Paulo de Campos, arquiteto, foi secretário de Estado e prefeito de Jangada.
Márcia Campos, bioquímica, foi vereadora por Cuiabá.
E a veia política?
Dizem que alguns nascem com uma veia política. Foi o caso de seo Fiote, mas ela hibernou até que na juventude, nos anos 1930, foi garimpar em Poxoréu com o tio Luiz Coelho de Campos, o Coronel Luizinho, que foi Intendente (cargo de nomeação correspondente ao de prefeito) daquele município e mais tarde deputado estadual.
O sobrinho gostou da habilidade do Coronel Luizinho e se deixou seduzir pela política.
Apenas seo Fiote?
Fiote era seu apelido da infância de menino órfão que perdeu o pai, Veríssimo de Campos, que morreu vítima de diverticulite quando o filho tinha apenas 1 ano.
O casal Campos tinha três filhos: Maria Agostinha, Gonçalo Domingos e ele. Franzino e rapa do tacho, virou Fiote, que é como se tornou conhecido Júlio Domingos de Campos.
Posteridade
Seo Fiote realizou importantes obras em Várzea Grande e alguns de seus herdeiros deram continuidade ao seu trabalho político. A memória de Júlio Domingos de Campos é reverenciada em Várzea Grande, Cuiabá e Jangada.
Em Várzea Grande o maior ginásio poliesportivo chama-se Fiotão; e a sede da prefeitura tem seu nome, a exemplo de uma Escola Municipal de Educação Básica.
Em Cuiabá, a avenida que dá acesso ao Palácio Paiaguás leva seu nome e o Parque das Águas Júlio Domingos de Campos é um dos principais pontos de lazer da capital.
Em Jangada a sede da prefeitura leva seu nome.
Eduardo Gomes – blogdoeduardogomes
FOTOS:
Acervo familiar