SEMANA DO ÍNDIO – Alcoolismo nas aldeias

Curumins de Tadarimana
Assunto tratado com sutileza e sempre que possível mantido debaixo dos panos, o alcoolismo entre povos indígenas é a principal doença entre os indíviduos adultos em algumas etnias cujas terras dividem ou são próximas às cidades, a exemplo de Tadarimana, com aldeamento de 600 indivíduos ao lado de Rondonópolis.
Tadarimana é terra fértil circundada pelos rios Tadarimana – que lhe empresta o nome -, Jurigue e Poguba, que recebe as águas dos outros dois, e que foi denominado de Vermelho (da Bacia do São Lourenço) pelos colonizadores. O casamento do solo com a abundância da água resulta em boas colheitas da agricultura de subsistência e na fartura de peixes. Esse local seria o chamado melhor dos mundos para seus habitantes, se não fosse a vizinha Rondonópolis, cidade com 232.491 habitantes, alto indíce de criminalidade, com destaque para o tráfico formiguinha de droga.
Paulo Isaac, porta aberta aos bororos
Na margem direita do Poguba está a cidade. Quase na barranca do rio há uma casa de apoio aos bororos, e um pouco mais afastado, o professor aposentado da Universidade Federal de Mato Grosso e doutor Paulo Augusto Mário Isaac, não fecha as portas de sua residência aos seus amigos de Tadarimana; e além disso, criou um museu indígena numa das dependências de sua moradia. Paulo Isaac é autor do livro  Irmã Maria Čibaibo Ossemer – uma missionária franciscana entre os índios Bóe-Bororo de Mato Grosso.
Em Rondonópolis o chamado choque cultural tem nome e graduação: se chama cachaça e costuma ter  48º. Até o final dos anos 1960 os bororos de Tadarimana ainda não tinham sofrido o tal choque, mas essa situação mudou, puxada pelo bororo Malagueta, que perambulava pelas ruas arrastado por sua mãe – ambos bêbados. Malagueta virou figura popular e teve trágico fim: vítima de insolação, morreu num carreador próximo ao local onde mais tarde do Sindicato Rural construiu o Parque de Exposições Governador Wilmar Peres de Farias. Sua mãe foi recolhida à aldeia. Índio Malagueta virou nom de rua na Vila Rosely.
Com Malagueta a alcoolismo entrou e dominou Tadarimana. Mesmo se tratando de venda proibida, não faltam comerciantes dispostos a entregarem litros e mais litros da branquinha aos fregueses índios.
Além da doença do alcoolismo, que não é exclusiva em Tadarimana e acontece também com xavantes em Água Boa, Campinápolis, Canarana, Nova Nazaré e outras cidades, em Rondonópolis os bororos ainda enfrentam disputa religiosas entre evangélicos e católicos, com pastores e padres querendo fazê-los fiéis de suas igrejas – com o devido pagamento do dízimo. Não deve ser fácil a situação do bororo adulto, bêbado e assediado por correntes cristãs.
Adilton, quase bororo
POLÍTICA – Rondonópolis é uma cidade que faz política 25 horas por dia. Pra se avaliar sua intensidade partidária basta olhar a composição do poder estdadual nas última décadas, período em que o município teve quatro governadores: Carlos Bezerra, Moisés Feltrin, Rogério Salles e Blairo Maggi (em dois mandatos); cinco senadores: Bezerra, Gilberto Goellner, Blairo, José Medeiros e Wellington Fagundes; e oito deputados federais: Afro Stefanini, Bezerra,  Percival Muniz, Augustinho Freitas Martins, Wellington, Teté Bezerra, Adilton Sachetti e José Medeiros.
Em meio aos planos para a conquista ou manutenção do poder, é sempre bom contar com os votos do aldeados em Tadarimana. Adilton Sachetti, que também foi prefeito do município, se aproximou bem as lideranças indígenas, foi batizado em ritual bororo e virou líder político nas duas margens do Poguba ou Vermelho. 

 

Redação blogdoeduardogomes

FOTOS:

1 – Matusalém Teixeira – Rondonópolis

2 – Youtube de Paulo Isaac

3 – Arquivo blogdoeduardogomes

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