Com cautela vejo a postagem de pesquisas de intenção de voto em Mato Grosso. Não se deve generalizar, mas nesse caso, seriedade é a exceção da exceção, como ficou claro nas eleições para prefeito em Cuiabá e Várzea Grande, no ano passado; e se buscarmos na memória veremos quantas aberrações foram jogadas para o eleitor digerir. Portanto, descartando os resultados apresentados por institutos que em muitos casos são sazonais, que funcionam na pasta do dono e que sequer contam com pessoal quantitativo para ouvir o cidadão, opino sobre as duas disputas para o Senado, tomando por base o histórico eleitoral mato-grossense, a capacidade de transferência de votos de lideranças nacionais para seus aliados regionais e alguns outros fatores.
Galvan grudado com Bolsonaro
Majoritariamente o eleitorado mato-grossense é bolsonarista ou quando nada de direita independentemente do ex-presidente Jair Bolsonaro. Este fato é inegável. Inegável também é a mística de Bolsonaro que o faz mestre na transferência de votos, capaz de eleger postes. Portanto, imagino que o candidato mais votado ao cargo deverá ser Antônio Galvan (DC), que é líder ruralista e sem a estrutura que o Congresso e a Assembleia conferem aos que defendem Bolsonaro, é a maior voz em defesa do ex-presidente agora condenado e preso.
Medeiros foi zero à esquerda no Senado
Galvan é um dos nomes da fragmentada direita, que ora visa o Senado, também com o governador Mauro Mendes (União), o deputado federal José Medeiros (PL) e a deputada estadual Janaína Riva (MDB). Sem trocadilho nem alusão a eventuais ‘melancias’, mas trata-se de uma salada que procura se apresentar com formato, cor, sabor e som da direita, o que Michelle Bolsonaro chamou de oportunismo.
Imagino que no bloco da direita Mauro Mendes será o segundo mais votado, e não descarto a possibilidade de que Medeiros retire sua pré-candidatura e tente o terceiro mandato consecutivo de deputado federal.
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Janaína Riva sem o pai no palanque
Até o momento não há ataques nem trocas de farpas, mas isso inevitavelmente acontecerá entre os candidatos e seus seguidores. Quando o tiroteio verbal começar, não somente para o Senado, mas de modo geral, mocinha deslumbrada vira bruxa, mocinho heroico passa a ser bandido. Sempre foi assim, mas não vejo força nos comitês da maldade para influenciar a decisão de modo a decidir o pleito.
Fávaro é afilhado político de Lula
Seria bom a eleição de um nome da direita, e melhor ainda com a esquerda também chegando lá. O Senado é a casa da maturidade, tribuna para o contraditório que o Brasil busca e precisa. Das discussões entre os senadores poderemos chegar ao cerne da democracia, com o país livre do protagonismo policialesco do Supremo Tribunal Federal e de tantas mazelas incorporados ao Sistema pelos sucessivos governos e legislaturas. Com um nome da esquerda e outro da direita eleitos em 2026 e Wellington Fagundes (PL) cumprindo a segunda metade do mandato, terá equilíbrio, pois Wellington é maleável, ora acende vela para uma ideologia, ora para outra.
Taques foi bom senador
A minha crença na eleição de Galvan e de um nome de esquerda é baseada na lógica. O lulismo sempre elegeu deputados federais e estaduais em Mato Grosso, além de conquistar uma cadeira no Senado em 2002 com Serys Slhessarenko. A canalização dos votos da esquerda para o ministro Carlos Fávaro (PSD), que também terá expressiva votação entre os trabalhadores rurais, assentados da reforma agrária e da comunidade acadêmica farão dele senador reeleito perdendo em votos somente para Galvan.
Imagino que o núcleo mais duro do Partido dos Trabalhadores dará o segundo voto para Pedro Taques (PSB) – o voto útil – e que o grupo mais próximo de Fávaro também o fará. Isso, para evitar que se fortaleça Janaína Riva, que transita bem entre os jovens e os meios universitários. É o chamado voto útil. Um percentual alto de votos de Fávaro canalizado para Taques dará mais consistência à sua candidatura para se manter senador.
Taques foi senador e cumpriu bem seu mandato durante quatro anos – renunciou para disputar e vencer a eleição ao governo em 2014 – sem se curvar e demonstrando lucidez parlamentar.
Mauro quer o voto plural ou matrimonial
Esse chamado voto útil fez de Serys senadora, com o PFL de Jonas Pinheiro e o PT dela trocando votos, o que derrotou o tucano e ex-governador Dante de Oliveira assegurando a eleição de Jonas e Serys.
As pesquisas, generosas pesquisas, mostram Mauro Mendes disparado na liderança para o Senado, mas os institutos não entram nas urnas nem têm poder de convencimento. Inegavelmente Mauro realiza um governo que apresenta bons resultados em muitas áreas, mas o governante não tem a confiança da direita e muito menos da esquerda – além da rejeição do funcionalismo. A votação de Mauro será aquela que nasce da força do poder, mas não suficiente para levá-lo ao Senado. Mauro será o candidato dele mesmo, sem apadrinhamento do presidente Lula e de Bolsonaro, e estará fora do poder quando subir ao palanque.
Para evitar reação palaciana a Imprensa omite um fato que também poderá contribuir para a derrota de Mauro: o governo teima em eleger sua mulher Virgínia Mendes deputada federal imitando Carlos Bezerra, com Teté Bezerra, e Jonas Pinheiro com Celcita Pinheiro. Virgínia é o segundo nome mais divulgado pela mídia, mas em textos de superficialidade que em nada somarão na campanha eleitoral.
José Medeiros foi suplente de Taques no Senado, e por quatro anos exerceu o mandato, mas não passou de um zero à esquerda. Mato Grosso não pode se dar ao luxo de insistir em voltar a desocupar uma cadeira de senador no tocante à defesa de seus interesses.
Injunções definirão a participação ou não de Wellington no palanque de Janaína Riva
Janaína Riva registra bom desempenho nas pesquisas – que coloco sob suspeição – mas na realidade seu partido, o MDB, está se esfarelando: perderá seus dois deputados federais e está abalado na Assembleia. Seu padrinho é Carlos Bezerra, o octogenário cacique que dominou o partido ao longo de décadas. Ela vive a dualidade de presidir regionalmente a legenda, que é de esquerda, enquanto insiste em dizer que é de direita. Em seu palanque Janaina Riva poderá contar com seu sogro, o senador Wellington Fagundes (PL), dependendo das injunções, mas não deverá ter seu pai, o ex-deputado estadual José Riva, que durante 20 anos controlou a Assembleia, foi alcançado pela Lei Ficha Limpa, esteve preso algumas vezes, foi condenado por improbidade administrativa, assumiu em delação premiada que liderou um roubo de 175 milhões nos cofres públicos, recebeu pena branda e devolveu 94 milhões. Com Bezerra e possivelmente com Wellington, Janaína Riva tentará ser senadora, mas sem o apoio aberto do pai, cuja imagem foi profundamente desgastada com os episódios policiais, judiciais e os escândalos de improbidade administrativa que o tiveram no epicentro.
Alguns escândalos ora abafados virão a público e poderão queimar cabeças coroadas. O escândalo das emendas estaduais para a Secretaria de Agricultura Familiar (Seaf) comprar kits para trabalhadores rurais estranhamente está debaixo do tapete e se o Estado resolver atuar, saindo da zona de conforto, a campanha ganhará novo rumo.
Mato Grosso teve poucos momentos de lucidez e protagonismo no Senado. Que a partir de 2027, com a renovação de dois terços da bancada mato-grossense possamos sair dessa situação vexatória.