Primeiro o alicerce, depois as paredes e o teto
Por
Eduardo on 26 de dezembro de 2025
EDUARDO GOMES
@andradeeduardogomes
Recente pesquisa do Datafolha estampa o que vemos nas mídias sociais em Mato Grosso: a radicalizada polarização entre o bolsonarismo e o petismo. Segundo o Instituto, 40% se declaram petistas e 34% bolsonaristas. O levantamento não entra no varejo urna a urna nem Estado a Estado. Independentemente de pesquisa, o chumbo trocado, por aqui, fica no plano nacional. Os pesados ataques com foco em Brasília cedem lugar a um vergonhoso – e até em alguns pontos conivente – silêncio sepulcral sobre o cenário regional. Neste quadro os eleitores mato-grossenses elegerão o governador, e seus representantes na Assembleia Legislativa e no Congresso Nacional.
O peso eleitoral nacional de Mato Grosso resume-se a 11 congressistas, o que é um número razoável a ser levado em conta, sobretudo no Senado, onde todos os entes federativos ocupam três cadeiras, das quais, duas serão renovadas em 2026.
O silêncio conivente nas redes sociais é o mesmo da imprensa amiga – ambos com as exceções de praxe – que abre espaço para o hoje e para as promessas das pré-candidaturas, mas que prudentemente não toca no passado de tantas figurinhas angelicais ou travestidas de bons mocinhos, todos sempre prontos a atacar o feminicídio, defender o servidor e a assumir bandeiras palatáveis.
Se não houver efetiva participação nas redes sociais, teremos uma eleição praticamente homologadora, que manterá quase todos os deputados estaduais e federais nos cargos, e que poderá entregar outros mandatos na bandeja a muitas nulidades.
Aqui, nesta terra onde todos bebem água e nasceu o herói Marechal Rondon, nenhuma voz se levanta para alertar sobre manjados nomes moldados socialmente pelo dinheiro da corrupção, donos de patrimônios invejáveis, e que agem como se suas vidas começassem agora, e que no passado não foram beneficiados pelo dinheiro roubado dos cofres públicos. Alguém estaria disposto a dizer que em Mato Grosso muitos morreram por falta de médicos e até de medicamentos, porque a dinheirama foi desviada para alimentar esquemas políticos mafiosos, que no passado não muito distante ocupavam as páginas (sobretudo de imprensa de outros estados) com manchetes sobre prisões de deputados, secretários, governador, prefeitos e empresários? O dinheiro que essas figuras solaparam dos cofres públicos bancou filhotinhos mimados em escolas e faculdades particulares, em turismo pelo mundo.
Observem a origem familiar e a relação grupal de todos os postulantes à reeleição ou a outros cargos. Ou será que da margem esquerda do Araguaia até Comodoro, de Alto Taquari a Vila Rica e de Apiacás a Vila Bela da Santíssima Trindade o roubo é consagrado, que ninguém responde por ele – e que o feio é roubar e não poder carregar?
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Pensem nisso. Se continuarem insistindo em consertar o Brasil sem incluir Mato Grosso nessa ação, de nada valerá a valentia reiterada em frases agressivas e chulas contra o presidente Lula, a primeira-dama Janja, contra ministros, contra o STF, contra Jair Bolsonaro e seus familiares, contra ou a favor das sandálias Havaianas, contra o argumento do pastor e deputado Sóstenes Cavalcante em amoitar quase meio milhão de reais numa sacola, porque não teve tempo de depositá-lo e ainda dizer em tom áspero que a dinheirama trata-se da venda de um imóvel cujo comprador e o cartório onde a escritura foi registrada ele guarda a sete chaves.
Em quase todos os nomes em pré-campanha há dívidas com o passado, quer seja por sua ação direta ou do grupo do qual se beneficia. Reflitam: a classe política mato-grossense quase não se renova, e essa realidade hereditária deixa no centro dos holofotes figuras que deveriam quebrar seus espelhos.
Somos a terra do escândalo do dinheiro caindo do bolso do paletó de Emanuel Pinheiro. Do escândalo das Calcinhas com José Riva. Da venda de vaga de conselheiro do TCE, de Alencar Soares para Sérgio Ricardo. Da compra de ventiladores por Zé Carlos do Pátio, na pandemia. Da Rachadinha da vereadora Edna Sampaio com sua chefe de gabinete – exonerada grávida. Do escândalo da viagem de Eder Moraes, José Riva, Guilherme Maluf, Sérgio Ricardo e Silval Brbosa a Portugal para a compra de vagões do VLT, que Rowles Magalhães revelou que resultou numa propina de 80 milhões de reais. Somos o povo que acompanhou as investigações das operações Pacenas, Navalha, Metástase, Fake Delivery, Ararath, Rota Final e muitas outras.
Praticamente todos os personagens que se envolveram em escândalos estão em cena, ou tentando voltar, ou se fazendo representar por seus sucessores políticos. O mar de escândalos, do qual extrai alguns exemplos, não resultou em absolutamente nada: ações prescreveram, delações premiadas aliviaram grandes corruptos, anulação de decisões anteriores retiram nomes da lista suja dos condenados. Para o jornalismo é até difícil recapitular o ontem como alerta ao hoje e para evitar no amanhã mais fatos desabonadores.
A polarização tem suas razões ideológicas – não confundir polarizar com radicalizar – que independentemente de ser de direita ou de esquerda tem que ser debatida nas tribunas por figuras honradas. Não é bom entregar a chave do galinheiro para raposa nem acreditar em discurso de lobo em pele de cordeiro. O mesmo se aplica na escolha de quem vai segurar a chave do cofre do Palácio Paiaguás nos próximos quatro anos.
Aproveito o período natalino e desejo que o Menino Deus esteja no coração de todos e que os toque para que suas gargantas se abram por Mato Grosso e não somente pelo distante cenário em Brasília. Afinal, a construção da casa começa pelo alicerce.