Vera, primeira cidade construída no eixo da BR-163 no trecho chamado Cuiabá-Santarém, completa 47 anos de fundação neste 27 de junho. Para oferecer uma leitura domingueira e também com o objetivo de mostrar a cidade a Mato Grosso, o site posta este material em sua maior parte extraído do livro Nortão BR-163: 46 anos depois, publicado em 2016 pelo jornalista Eduardo Gomes de Andrade, sem apoio das leis de incentivos culturais. Vera tem 11.216 habitantes. O município, com 2.953 km², foi desmembrado de Sinop e Paranatinga em 13 de maio de 1986 por uma lei de autoria das bancadas do PDS e PMDB e sancionada pelo governador Júlio Campos.
Em fevereiro de 1971 Ênio Pipino construiu uma pista de pouso onde mais tarde surgiria a vila de Vera, para desembarcar compradores de áreas rurais da Gleba Celeste, de 198 mil hectares, por ele colocada à venda em vários pontos do Brasil. Interessados nas terras não raramente adquiriam imóveis rurais por sua localização em mapas.
Em 27 de junho de 1972 Ênio Pipino inaugurou Vera – primeira vila construída no Nortão após a abertura da BR-163. A solenidade levou ao local o ministro do Interior, Rangel Reis, e o governador José Fragelli. Aquela localidade seria o polo irradiador para a empresa da qual era sócio e líder – a Sociedade Imobiliária Noroeste do Paraná (Sinop) – colonizar as vilas de Sinop, Cláudia e Santa Carmem, cujos projetos ainda hibernavam em sua mente.
O acesso à vila, antes e durante parte da construção da BR-163 era pela estrada secundária do Rio Novo, que começa na BR-364, cinco quilômetros antes de Posto Gil, no trevo das rodovias federais 163 e 364, no sentido Cuiabá-Nortão. Dali, por percurso sinuoso, à época com balsa para travessia do rio Teles Pires, se cruzava a fazenda Rio Novo que era centro de extração e beneficiamento de látex de seringais nativos e, as áreas onde mais tarde surgiriam as cidades de Santa Rita do Trivelato e Nova Ubiratã.
Nos primórdios da colonização a economia de Vera era calcada na extração e beneficiamento de madeira. Essa situação se arrastou por quase quatro décadas, mas aos poucos perdeu espaço para a agricultura, que atualmente é o pilar econômico do município.
O município de Vera é interligado à malha rodoviária nacional pela MT-225, que é alimentadora da BR-163. O trecho que liga a cidade à rodovia é de 31 quilômetros.
A água chega a todos os domicílios e o esgoto ensaia os primeiros passos para seu tratamento. O lixo é recolhido a um lixão. Parte da cidade é pavimentada. Algumas ruas receberam nomes de países, a exemplo de Paraguai e Estados Unidos.
A primeira unidade escolar criada no eixo da BR-163 no Nortão foi a Escola Estadual Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, em Vera, que foi criada pelo governador José Fragelli em 23 de abril de 1974 e que em média mantém 1.100 alunos matriculados.
Até 2007 a Escola Nossa Senhora do Perpétuo Socorro funcionou em instalações improvisadas, mas naquele ano o governador Blairo Maggi inaugurou um prédio com 24 salas de aula e dependências administrativas virando de vez a página do improviso. Também naquela cidade foi erguido o primeiro templo construído no Nortão após a construção da rodovia: foi uma igrejinha de madeira dedicada a São Judas Tadeu, que mais tarde recebeu o nome de Capela Padre Antônio Heidler.
É ELA – A origem do nome da vila? Bem, Ênio Pipino não brincava em serviço quando o assunto era mulher bonita. Daí, ele a denominou Vera. Só faltou acrescentar Fisher. O mesmo ele faria algum tempo depois com outra vila, à qual chamou de Cláudia e qualquer alusão à musa ítalo-tunisiana Cláudia Cardinale, não é mera coincidência.
Blumenau, Vale do Itajaí, Santa Catarina, 27 de novembro de 1951. Nasce e menina Vera Lúcia, filha do casal de origem alemã, Emil e Hildegard. Dos pais ela herdou o sobrenome: Fisher.
Em 28 de junho de 1969 a menina filha dos Fisher desfila suas curvas num maiô cavado para o júri que a elegeria Miss Brasil naquele ano, e além do cetro da beleza tupiniquim que lhe entregou a antecessora baiana Martha Vasconcellos, recebeu olhares gulosos de Ênio Pipino, telespectador da TV Tupi, que não desgrudava a vista da tela em preto e branco onde via a deusa loira tentadora sendo coroada.
Mal desceu da passarela Vera Fisher literalmente tirou a roupa em filmes apimentados e nas páginas de revistas masculinas. Casando sua beleza com a capacidade de interpretar ganhou as telas da Globo onde virou atriz de novelas, séries e minisséries. Numa carreira ascendente conquistou espaço entre as maiores celebridades nacionais. Recentemente lançou um livro biográfico.
Irmã Adelis
Os motores dos tratores ainda fumegavam após a abertura da clareira para fundar Vera, no Nortão, quando Irmã Adelis ali chegou em 1972 pelas mãos do colonizador da região, Ênio Pipino.
Ali, Irmã Adelis iniciou a ímpar trajetória humanitária no Nortão cuidando de doentes, onde a malária e as balas das armas de fogo matavam implacavelmente a ponto de surgir à máxima popular, “aqui se morre de bala ou malária, ou ainda de balária”.
Adelheid Helena Schwaenen era o nome civil dessa religiosa alemã da Ordem Missionária do Santo Nome de Maria. Em 1985, mudou-se para Matupá, também no Nortão, onde fundou o Hospital da Malária.
Irmã Adelis foi bálsamo, consolo e enfermeira de milhares de garimpeiros e dos moradores do Nortão vítimas da malária, a doença tropical transmitida pela fêmea do mosquito anofelino.
Enferma e muito debilitada, Irmã Adelis foi para Maringá no Paraná. Fechou os olhos em 24 de fevereiro de 1998.
Na terra Irmã Adelis foi anjo de luz. Ao fechar os olhos virou estrela. Brilha no céu.
Trocou a cidade pelo céu
Sacerdote por opção e crença, padre Antônio casava, batizava, evangelizava, estendia às mãos aos recém-chegados. Poeta. Compositor e autor do hino local. Jogador de baralho. Amante da cerveja. Delegado e juiz de paz entre aspas. Defensor do povo. A cidade o reverenciava enquanto homem dos sete ofícios.
Pela falta de razão que somente a Santa Madre entende a Diocese de Diamantino transferiu padre Antônio para Itaúba. Não foi. Adoeceu. Morreu em 20 de fevereiro de 1987, em Cuiabá. Cumpriu sua missão na Terra e seu pacto com Deus: somente trocaria Vera pelo céu.
Eduardo Gomes – Editor de blogdoeduardogomes
FOTOS:
1, 2 ,3, 4, 7 e 8 – Eduardo Gomes
5 – Divulgação Revista Playboy
6 – Divulgação Concurso Miss Brasil
Brigadeiro você é a memória viva de Mato Grosso. Parabéns
Romeu Luiz – Cuiabá – via Facebook