Praga fatal contra caloteiros mixtenses

“Vocês vão perder. E perder feio, malditos, desgraçados!…”

Essa foi a praga que o dono de um bar de uma cidadezinha pró¬xima a Campo Grande rogou contra um numeroso grupo de torcedores do Mixto que ocupava três ônibus para ver o alvinegro jogar contra o Operário pelo Campeonato Mato-grossense de 1982, quando viu seu frízer de latinhas de cervejas vazio e o caixa sem dinheiro. Apesar da idade avançada do dono do bar, poucos mixtenses tiveram a consciência de pagar as cervejas que haviam consumido…

Ao chegar a Campo Grande, no sábado à noite, a caravana mixtense foi direto para a casa de um diretor do Bemat, grande admirador do alvinegro. Logo depois da chegada a casa, o pessoal começou, a convite do anfitrião, a tomar cerveja, devidamente acompanhada de linguiça como tira-gosto. Foi es¬calado para fritar o petisco o fanático mixtense Camargo, da Escola de Samba Acadêmicos do Pedroca.

O tempo passava e da linguiça o pessoal só estava sentindo o cheiro, que vinha da cozinha. Alguém resolveu ir até a cozinha para ver o que estava acontecendo. E voltou para o local onde o grupo estava com uma surpresa ex¬tremamente desagradável: Camargo tinha fritado e comido todo o estoque de linguiça que estava na geladeira…

Depois da passagem pela casa do diretor do Bemat, os mixtenses, a convite do ex-governador do indiviso Mato Grosso, Pedro Pedrossian, que deu nome à Escola de Samba Acadêmicos do Pedroca, foi para sua casa desfrutar de uma mordomia daquelas! Pedrossian e sua esposa, a simpática Maria Apa¬recida, não sabiam o que fazer para agradar os convidados – lembra Gonçalo Dias da Silva, o Xinxarrinha, torcedor da velha guarda do Mixto. Foi uma noi¬tada e tanto, com bebida e comida rolando com fartura. Da praga do velho, ninguém se lembrava mais…

O autor

Chegou a hora do jogo e aos poucos a torcida foi se dando conta que a maldição do velho do boteco tinha pegado mais do que visgo em pé de pas¬sarinho. Naquele domingo, o Mixto, que nunca tinha perdido para o Operário, em Cuiabá ou em Campo Grande, levou uma tunda de 4×0…

Apesar da goleada e do show de bola que o Operário tinha dado no Mixto, a torcida do alvinegro campo-grandense queria de todo jeito bater nos cuiabanos. E só não bateu mesmo porque dentro do campo a Polícia Militar segurou as pontas, e fora do estádio o respeitado zagueiro operariano Nestor Musse enfrentou a fúria da torcida e escoltou os mixtenses até os três ônibus ficarem muito distantes de Campo Grande.
Mas teve gente do Mixto que andou levando a pior. Xinxarrinha, por exemplo, foi atingido por uma enorme pedra de gelo na cabeça que o fez sangrar por um bom tempo dentro do estádio…

Fora do alcance dos enfurecidos operarianos, a torcida resolveu pa¬rar em São Gabriel do Oeste para fazer um lanche para enfrentar a longa via¬gem de volta para Cuiabá. Os mixtenses comeram e beberam à vontade, mas na hora de pagar, era só neguinho saindo de fininho e se escondendo dentro dos ônibus…
Antes da partida da caravana, Ademir, então diretor da extinta Asso¬ciação de Poupança do Estado de Mato Grosso – Apemat, viu uma bela galinha assada em uma travessa em cima do balcão da lanchonete. Ademir pediu um copo de água à dona da lanchonete e quando ela virou as costas e abriu a tor¬neira, Ademir enfiou a galinha embaixo da blusa e caiu no mundo…

A mulher implorou para que lhe devolvessem a travessa, pois se tra¬tava de objeto de estimação da família… da galinha ela não fazia questão. Mas a travessa não apareceu mesmo!

PS – Reproduzido do livro Casos de todos os tempos Folclore do futebol de Mato Grosso, do jornalista e professor de Educação Física Nelson Severino.