CAMPO VERDE – Discutir ideologia de gênero, doutrinação e escola sem partido é perda de tempo, diz fundador da Escola da Ponte. Para o educador José Pacheco, Ministério da Educação tem dado importância a assuntos desnecessários
Durante passagem por Campo Verd,e na segunda-feira (28), onde ministrou palestra a professores da Rede Municipal de Ensino, o educador português José Pacheco – criador da Escola da Ponte, referência em metodologia de ensino inovador, em entrevista ao Boamídia, falou sobre a atuação do governo Bolsonaro em relação a Educação.
Considerado uma das maiores autoridades mundiais em Educação, José Pacheco, que desde 2007 vive no Brasil, classificou as discussões levantadas pela equipe governamental sobre ideologia de gênero – ou kit gay, como preferem os radicais; a escola sem partido e a doutrinação ideológica em sala de aula como assuntos menores no contexto da Educação brasileira e aos quais o Ministério da Educação tem dado dimensão acima do necessário.
“Eu costumo responder quando me perguntam isso que eu só comento assuntos sério (risos), mas eu acho que merece ao menos algumas considerações. O ‘kit gay’ nunca existiu, foi uma interpretação errônea, embora o conteúdo do tal livrinho fosse despropositado. Isso eu também concordo”, ressaltou. “Mas nada que pudesse induzir num movimento como aquele que se produziu contra a ideologia de gênero”, completou.
Na visão do educador, a ideologia de gênero ganhou destaque fomentada por afirmações e depoimentos de políticos radicais e foi usada como manobra para desviar a atenção de problemas maiores. O Brasil, segundo ele, tem um sistema educacional lastimável, embora tenham sido feitas várias tentativas objetivando mudar esse panorama sem que nenhuma delas resolvesse essa situação.
“Então, toda essa gente que agora está na frente do sistema de Educação, teria de ter outras bandeiras, outros pseudofatos. Estamos na era da fake news, da pós-verdade. Então é isso que está a acontecer. Não é esse o problema”, enfatizou Pacheco. “Nós perdemos muito tempo em torno dessas questiúnculas que não fazem sentido nenhum”, completou, referindo-se à ideologia de gênero.
Pacheco também afirmou que a tão falada doutrinação ocorre nas escolas quer queiram ou não. “Quando alguém da ‘escola sem partido’ se me dirige, eu escuto os argumentos. E muitos deles até são argumentos bem sólidos, porque, efetivamente, há lugar onde se faz a doutrinação, mas se faz doutrinação para todos os lados”, observou.
Em sua longa experiência como professor, Pacheco afirmou ter enfrentado situações em escola públicas onde se fazia a doutrinação religiosa e fiéis eram captados na própria escola. “E passei também por outras das quais me afastei, quando gente de uma extrema esquerda radical, reduzia o ensino ao discurso. Escola sem partido não existe, como não existe sociedade sem partido nem família sem partido. As pessoas têm direito, o que tem é que se saber escutar”, frisou.
Para ele, a discussão sobre ideologia de gênero, doutrinação ideológica e escola sem partido não acrescenta nada à qualidade do ensino público brasileiro. “Só vão levar a que os dois polos, que hoje o Brasil vive (esquerda radical e direita conservadora) não se comuniquem”, alertou. “O que é preciso é que as pessoas se habituem a aceitar o argumento do outro, que desenvolvam o senso crítico, que não façam doutrinação. Isso é um atentado à liberdade”, disse.
Pacheco também chamou a atenção para o tempo que está se perdendo com assuntos que, segundo ele, “não têm a mínima importância”. “Eu penso que daqui a quatro anos, muita gente vai rir do tempo que se perdeu ao tratar desses pseudoproblemas”, disse.
Valmir Faria com foto