Um Papai Noel diferente, que doa livros aos pantaneiros

Clóvis Matos, o Papai Noel Pantaneiro

O livro te faz viajar pelo mundo todo”, é assim que o Papai Noel Pantaneiro define o presente que leva a magia do Natal às comunidades carentes. Essa magia mantém-se viva durante o ano todo, pois o livro é um presente que transforma, estimula a imaginação, prende a atenção e faz com que o gosto pela leitura seja algo natural desde os primeiros anos de vida.

Clóvis Matos é historiador, escritor, produtor cultural e funcionário público, mas a sua verdadeira paixão está em pegar a estrada e a cada parada, entregar livros a pessoas que possuem difícil acesso à leitura.

Durante a época mais mágica do ano, Clóvis faz esse trabalho vestido de Papai Noel Pantaneiro, mantendo viva a magia do Natal na vida de crianças que por pouco não perderam a esperança. É nas comunidades mais carentes que ele leva alegria, transforma desejos em realidade e faz perpetuar a tradição do personagem mais célebre do Natal.

Há 12 anos esse bom velhinho presenteia milhares de crianças e também adultos com livros que os fazem viajar pelo mundo, sem ao menos sair do lugar. “Eu gosto muito de trabalhar em locais difíceis onde ninguém vai, porque não tem assistência nenhuma, eles não têm nada e não recebem nada, por isso ficam até incrédulos quando eu chego distribuindo livro gratuito para eles”, explica.

O começo do Inclusão Literária

O Papai Noel Pantaneiro é um personagem que nasceu através do Projeto Inclusão Literária e o Inclusão Literária começou a nascer no Shopping Três Américas, em 2002, dentro da Livraria Adeptus, onde Clóvis Matos trabalhava. Lá sua principal função era criar ambientes para vender livros. Sendo assim, Clóvis criou um espaço de leitura dentro da livraria com a esperança de que as pessoas lessem um pouco, se interessassem pelo que estavam lendo e comprassem o livro. “Muita gente se interessava e não comprava, muitos liam até o livro inteiro, mas não compravam”, conta.

Ao serem questionadas sobre o porquê não comprar o livro, a maioria das pessoas respondia da mesma forma: “não tenho dinheiro”. “Uma pessoa que frequenta um shopping center não tem grana para comprar um livro, imagina quem mora na zona rural, em lugares de difícil acesso”, concluiu Clóvis.

Clóvis e sua missão de levar leitura para crianças e também adultos

Assim, após três anos, em 2005, o projeto Inclusão Literária estava na estrada, levando livros a todos os povos de todas as regiões de Mato Grosso. A primeira entrega aconteceu no dia 19 de novembro de 2005, em uma escola em Varginha, distrito de Santo Antônio de Leverger, a 36 quilômetros de Cuiabá, e desde então, Clóvis nunca mais parou. “Todo esforço vale a pena para levar livro para o povo, porque o povo gosta de ler”, ressalta.

Hoje, com 13 anos de Inclusão Literária, Clóvis já rodou mais de 100 mil quilômetros e levou mais de 80 mil livros. Ele também já ultrapassou as divisas de Mato Grosso e foi parar em Pernambuco, para participar da Bienal do Livro e já está com a viagem marcada para voltar no próximo ano. “O importante é não parar”, pontua Clóvis.

O projeto sobrevive de doações, feiras de vendas de livros a valores simbólicos e ainda conta com a ajuda de dois importantes patrocinadores, a Energisa e o Shopping Três Américas. A Universidade Federal de Mato Grosso também apoia o projeto.

Há cerca de 7 anos Clóvis intensificou o seu trabalho no período do Natal e, além dos livros, ele passou a arrecadar brinquedos, roupas, calçados e alimentos para presentear pessoas carentes. Todo ano Clóvis pega a estrada no dia 25 de dezembro e chega em Barão de Melgaço, a 112 quilômetros da capital, onde há uma família que o ajuda com a doação e entrega de brinquedos. A entrega começa na comunidade Conchas, onde só é possível chegar de barco após uma viagem de cerca de 4 horas. Durante todo o percurso eles param em todas as comunidades às margens do rio distribuindo os presentes. Na volta, Clóvis segue para Porto de Fora, distrito de Santo Antônio de Leverger. “Enquanto tiver presente e gente para receber eu fico na estrada”, explica o Papai Noel que só volta para Cuiabá em janeiro.

Para o Natal deste ano, a demanda aumentou, e o Papai Noel vai visitar mais sete comunidades, somando cerca de mil pessoas a mais, totalizando 44 comunidades a serem visitadas por ele. Agrovila das Palmeiras é uma das comunidades que vai receber o projeto pela primeira vez.

Luciano Huck dá impulso ao projeto de Clóvis

Em dezembro de 2017 o projeto de Clóvis ganhou visibilidade nacional através do programa Caldeirão do Huck, do apresentador Luciano Huck na TV Globo. Até então o Inclusão Literária rodava com uma camionete ou uma Kombi antigas. Durante o programa, o apresentador presenteou Clóvis com uma camionete nova, cabine dupla, 4×4, com uma biblioteca acoplada com 3 mil livros, mesas e cadeiras. “Foi fantástico, eu fiquei hiper emocionado, ele não veio aqui à toa, é um reconhecimento de todo esse trabalho que eu faço”, conta Clóvis.

Com essa grande ajuda as condições de trabalho foram melhoradas, a locomoção e a demanda também. No entanto o que ainda falta são recursos financeiros. Como alternativa, Clóvis irá lançar no próximo ano alguns produtos do projeto, a fim de criar um mercado para gerar renda para o Inclusão Literária. “O Inclusão Literária é a minha vida, é o meu prazer, eu não vou parar enquanto eu tiver força”, destaca Clóvis que se esforça para que o projeto continue firme.

Clóvis é muito grato por toda a ajuda que recebe para manter firme os seus projetos Inclusão Literária e Papai Noel Pantaneiro. Neste ano, por intermédio da presidente da BPW Cuiabá, Zilda Zompero, 19 lojistas abriram as portas de seus estabelecimentos como pontos de arrecadação para os projetos. O shopping Três Américas também criou neste ano a casa do Papai Noel Pantaneiro onde podem ser entregues as doações. “Eu agradeço muito a essas pessoas que me ajudam”, afirma Clóvis.

Clóvis aproveitou a ocasião para anunciar uma grande novidade. Em breve o Papai Noel Pantaneiro terá uma casa no Pantanal. Amigos e parceiros do projeto em Porto de Fora fizeram a doação de um terreno onde será construída a casa do Papai Noel Pantaneiro. Toda a comunidade vai ajudar na construção. O projeto vai ficar por conta do renomado arquiteto José Portocarrero, que vai projetar uma casa com a cara do Pantanal.

A casa não será apenas para o Natal, mas, de acordo com Clóvis, ela funcionará o ano inteiro como um ponto de referência para cursos, palestras e produção de artesanatos e alimentos típicos da região. “Eu amo muito todos eles, esse é o melhor reconhecimento do trabalho que eu faço”, declara Clóvis, ansioso pela concretização de mais esse projeto.

Mesmo em meio a algumas dificuldades o Inclusão Literária só tem crescido. Em 21 de setembro deste 2108, o depósito onde Clóvis armazena os livros foi incendiado, causando a perda de um grande número de obras que seriam doadas. Essa foi a segunda vez que o depósito pegou fogo, a primeira foi em 2015. Nenhuma dessas tragédias fizeram Clóvis parar ou desanimar. Hoje, ainda com muita força e vontade de levar seus projetos adiante, Clóvis conta com doações também de materiais para construção e de dinheiro através da vaquinha virtual. O orçamento total para a reforma do depósito ficou em cerca de 80 mil reais. Para ajudar basta acessar o link: https://www.vakinha.com.br/vaquinha/ajude-o-inclusao-literaria .

“O Inclusão Literária vai muito longe ainda”, destaca. O Inclusão Literária é a ponta do trabalho de Clóvis, e através dele muitas outras ideias foram surgindo, como o Papai Noel Pantaneiro. Apoiar essa causa é acreditar que a leitura é capaz de transformar vidas e proporcionar um futuro melhor não só para as crianças, mas também para os adultos que são alcançados por esses projetos. “Assim a gente vai vivendo, levando livro para o povo; o povo precisa ler, abrir a cabeça, receber informações e um livro traz muito conhecimento”, conclui.

Vanessa Moreno

FOTOS:

1 – Vanessa Moreno

Demais: Acervo Clóvis Matos

manchete