A paixão doentia de Macário Zenagape Santos Pires pelo Atlético Mato-grossense levava o dirigente alviverde a cometer, muitas vezes, verdadeiras loucuras. Para defender seu clube, ele era capaz de tudo, sem medir consequências.
Em 1959, o professor e empresário cuiabano Armando Cândia estava em São Paulo e ficou sabendo que o seu Palmeiras estava precisando com urgência de um grande goleiro.
Cândia foi ao Parque Antártica e acertou com dirigentes do Palmei¬ras a ida de Fulepa, do Atlético Mato-grossense, para o clube. A urgência do Palmeiras contratar um goleiro de alto nível era tanta que depois das maravilhas que Cândia falou de Fulepa, ele nem ia fazer testes: era chegar e assinar contrato.
Tudo acertado, Cândia ligou para Fulepa para que o goleiro embarcasse imediatamente para se apresentar no Parque Antártica. O Palmeiras au-torizou, por telegrama, a Vasp em Cuiabá a emitir o bilhete de Fulepa, que o próprio Cândia ia receber em Congonhas e levar para o Parque Antártica.
Na hora combinada, lá estava Cândia no aeroporto esperando Fulepa. Para decepção do empresário, porém, Fulepa não estava no voo.
Cândia ligou para Fulepa e foi logo manifestando sua contrariedade pelo fato do jogador não ter cumprido sua palavra de embarcar no dia seguinte para São Paulo. Mas Fulepa se defendeu, argumentando que não havia recebido a passagem.
E nem ia receber mesmo! É que Macário Zenagape ficou sabendo que Fulepa estava indo embora, o que seria um grande desfalque para o seu time, e foi até a agência da Vasp e cancelou a passagem, sob a alegação de que o passageiro havia desistido de viajar…
Dias depois da presepada de Zenagape, Cândia retornou a Cuiabá. E chegou muito brabo com o dirigente atleticano que o havia feito passar uma baita vergonha com diretores do Palmeiras.
Não demorou muito e Cândia e Zenagape se encontraram em um escritório do centro de Cuiabá. Como Zenagape estava esperando, levou uma esculhambação daquelas de Cândia – lembra Fulepa – que por causa da paixão doentia do atleticano, perdeu uma grande oportunidade de jogar em um clube da envergadura do Palmeiras.
A fracassada ida para o Palmeiras não foi a única chance que Fulepa teve para se projetar no futebol brasileiro. Depois de uma rápida passagem pelo América, de São José do Rio Preto, em 1958, em 1961 ele foi junto com Preto e Ariel para a Esportiva, de Guaratinguetá.
Mas ficou pouco tempo nesse clube, pois foi transferido para o Bragantino, de Bragança Paulista, cujo presidente era Nabi Abi Chedid. Passados uns dias, Chedid avisou Fulepa que estava negociando seu passe com o São Paulo Futebol Clube. Fulepa fez as malas e foi para o Morumbi, onde ficou durante 24 dias até descobrir que seu ingresso no tricolor era uma farsa. Na realidade, Chedid, em conluio com um dirigente sãopaulino, ia ganhar um dinheirão em suas costas, vendendo seu passe para um clube da Bahia, como se Fulepa fosse mesmo do São Paulo…
Após descobrir a tramoia de Chedid, que foi também presidente da Federação Paulista de Futebol, Fulepa saiu um dia da concentração no Morumbi dizendo que ia visitar parentes em um bairro da capital paulista e nunca mais voltou.
Quando soube da fuga de Fulepa do Morumbi, Chedid e seu comparsa na farsa chegaram a contratar policiais para procurá-lo, principalmente em terminais rodoviários da capital paulista, para prendê-lo. Para evitar que Fulepa escapasse, forneceram aos policiais suas características físicas. Jogaram dinheiro fora. Baixada a poeira, Fulepa se mandou de volta para Cuiabá e nunca mais deu notícias…
PS – Reproduzido do livro Casos de todos os tempos Folclore do futebol de Mato Grosso, do jornalista e professor de Educação Física Nelson Severino