Os filhos

Ter uma família e gerar filhos é um fato natural e, para muitos, uma realização pessoal. A satisfação de tê-los é enorme! É ter a certeza de que cumprimos com a nossa missão indelegável de continuar a espécie. No entanto, vem o desafio maior: criá-los e educá-los. Esta não é uma tarefa fácil. Cada filho é um desafio em particular. Não existe um igual ao outro. E por isso, as apreensões aumentam a partir de cada nascimento.

Cada cabeça uma sentença. Cada filho um enigma diverso. Uns são dóceis e solidários, outros rebeldes e egoístas. Uns amorosos e outros esquivos. Uns são pacatos e acomodados, e outros ambiciosos. Uns são generosos e outros mesquinhos. Uns ajudam e outros atrapalham. Uns vão ser a solução e outros serão a encarnação do problema. E por ai vão as idiossincrasias da variedade da espécie, em uma só família.

Quando pequenos eles são adoráveis! Quando crescem adquirem vontade própria e, nessa fase, começam as apreensões e os problemas de se lidar com a diversidade da espécie humana. A família tradicional é coisa do passado. Hoje, os filhos já nascem sabendo. Até porque a era digital virou a família de cabeça para baixo. Os filhos se apoderam dos saberes digital e acham que são os donos do mundo. E os pais passam a ser um estorvo a quem eles recorrem somente quando estão em dificuldades.

As mudanças de uma geração para outra foram muito rápidas. E a criação tradicional não existe mais. Os pais ficaram perdidos sem saber direito como proceder. Faz-se de tudo o que se acha que deve ser feito, mas nem sempre dá certo. Muitos tiveram dificuldades imensas para criar os filhos e estes quando crescem, tomam rumo próprio, e se esquecem de que os pais ainda têm muita dificuldade de sobrevivência, mas eles se arrumam e trataram de cuidar da própria vida. Constroem família e dão uma banana para os pais.

E aqueles que não amadurecem e insistem em permanecer na comodidade da família e não cuidam de tocar a vida em frente! Veja que estes são os que alegam que não pediram para nascer e que os responsáveis por esta façanha, são os que devem resolver o problema. A ingratidão é uma das faces cruel do ser humano. Filhos ingratos, dor dobrada.

Entretanto, existem aqueles filhos que valem a pena tê-los concebidos. São os amorosos, dóceis, solidários e preocupados com os pais, com os irmãos e com a família. É para estes que vai a minha homenagem. É por estes que vale todo e qualquer sacrifício de se ter e manter uma família.

Renato Gomes Nery

rgnery@terra.com.br