Perplexa. Assim encontra-se a defesa dos acusados que foram julgados ontem, 10/03, em sessão do Tribunal do Júri em Cuiabá presidida pelo juiz Dr. Flávio Miraglia. A acusação foi formada por três promotores experientes, Dr. Antônio Sérgio Cordeiro Piedade, Dr. Samuel Frungilo e o Dr. César Danilo Ribeiro de Novais, que após as investigações da polícia civil, com quebra de sigilo telefônico autorizado pela Justiça e o cruzamento de informações, associou uma série de homicídios que estavam ocorrendo em Cuiabá e Várzea Grande, pelas mesmas pessoas ao qual concluíram ser de um grupo de extermínio, pois, vislumbraram semelhanças na forma de execução.
Os fatos ocorreram tanto na capital Mato-Grossense como em Várzea Grande.
O inquérito apurou a participação de cinco pessoas, mas ontem só estavam no banco dos réus o Jeferson Fátimo da Silva, Claudiomar Garcia de Carvalho e o policial militar Pablo Plinio Mosqueiro de Aguiar, que erroneamente foram identificados como sendo integrantes deste grupo, disse o advogado.
Foi preciso toda uma operação especial para as investigações, inicialmente nomeada como Talião e depois rebatizada de Operação Mercenários.
Deste crime a polícia só apreendeu um Fiat Uno 4 portas, para realização de perícia e aponta José Edmilson e Helbert de França como integrantes do grupo. Os dois últimos foram julgados e condenados em 11 de junho de 2019.
Não é para menos a indignação da defesa! Os jurados condenaram os três réus há mais de 95 anos de prisão pelo homicídio consumado de Luciano Militão da Silva e na forma tentada por sua companheira Célia Regina Duarte que foram atingidos quando chegavam em casa, quando uma moto com dois homens se aproximou, o garupa desceu e desferiu vários tiros em direção do Militão.
O circuito de segurança da cidade de Várzea Grande registrou a ação que ocorreu por volta das 23:15h do dia 20.05.2016 no bairro Cronstrumat e a ação durou pouco mais de 10 segundos e mesmo com a distância e qualidade ruim das imagens fica evidente que o alvo era o Militão, tendo a senhora Célia sido atingida por acidente, prova disto é que não há uma perseguição dela no dia ou depois, nem sequer há ocorrência de ameaças dirigidas a ela no intuito de não falar o que viu. Quanto a isto, foi notado que a senhora Célia depõe diversas vezes no incurso do processo, e ontem foi à Plenário onde firmou com toda veemência que não reconhece os acusados e que os autores da ação criminosa eram homens de altura bem menor e também mais magros do que os que estavam a pouco menos de três metros de distância dela, no banco dos réus e sendo julgados por um crime que todos eles negam a autoria. Além disto, a companheira do Militão disse alto e bom som que seu marido era um homem muito violento, ela relatou fatos horrorizantes da intimidade do casal, como ele ter apontado arma de fogo diversas vezes em sua direção, inclusive colocando o cano dentro do seu ouvido. Militão batia nela, no irmão dele e até mesmo na própria mãe. Dona Célia confessou que o marido tinha outras mulheres e não escondia isso dela, levando-a para a casa de sua mãe quando ele queria se divertir, e gastava pequenas fortunas em uma única noite.
É razoável pensar que um homem com este perfil tenha muitos inimigos que quisessem ceifar sua vida. Mas não é só a afirmação dos acusados de sua inocência e a negativa de reconhecimento por parte de Célia Regina, que levou os advogados de defesa de um dos acusados a se manifestarem pelo descontentamento da decisão dos jurados. O Dr. Lauro Costa, o Dr. Gilson Tadeu e a Dra. Raquel Tomáz apontam falta de provas da autoria, como ERB, digitais, DNA na cena do crime ou roupa dos acusados, o Dr. Lauro Costa, advogado principal do Jeferson, destaca ainda que, o veículo registrado nas imagens é de um Uno de duas portas, enquanto o do Jefferson tem 4 portas.
“Todos esses argumentos serão levados a julgamento em um recurso a qual a defesa já está preparando, para sanar o equívoco da condenação, onde o regime penitenciário em sua maioria molda o sentenciado para o mundo do crime invés de cumprir seu dever jurídico de ressocialização”, disse.
Jeferson Fátimo foi condenado a 28 anos; Pablo Plínio a 33 anos e a perda do cargo na Polícia Militar; e Claudiomar Garcia a 28 anos. No ano passado, José Edmilson recebeu pena de 30 anos e Helbert de França, a mesma condenação, todos inicialmente em regime fechado, com exceção de Plínio que responde e aguarda recurso em liberdade.
Os advogados vão recorrer dos dois julgamentos que resultaram na condenação dos seus clientes.
Transcrito de www.ofactual.com.br