O voo que não fiz
Por
Eduardo on 22 de dezembro de 2025
EDUARDO GOMES
@andradeeduardogomes
Por unanimidade a Assembleia Legislativa aprovou nesta segunda-feira, 22, um projeto de lei do deputado Wilson Santos (PSD) que dá o nome de Ezequiel José Roberto ao anexo daquele Parlamento. Estava na galeria dos jornalistas, de onde acompanhei a fala do autor e o desfecho da votação. Fui tomado pela emoção, mas não permiti que ninguém notasse.
Ezequiel era secretário estadual de Turismo no governo Dante de Oliveira. No domingo, 30 de setembro de 2001, ele participaria do encerramento do 22º Festival Internacional de Pesca (FIP) de Cáceres e o bimotor Seneca (PT-LSG) que o levaria bateu na Serra do Facão, nas imediações daquela cidade – a apenas três minutos da pista do aeroporto Comandante Nelson Martins Dantas – em tempo de voo. O piloto Roger Weis, 31, era experiente, prudente e tranquilo. O tempo estava firme – o que os pilotos chamam de Céu de Brigadeiro. Porém, havia um problema com a aeronave, que o comandante desconhecia: o altímetro estava desregulado, o que não permitia saber a altitude exata do voo. Daí, o acidente fatal onde Ezequiel e Roger nos deixaram.
Ezequiel além de secretário de Estado era servidor de carreira da Assembleia, que ora o homenageia; era irmão de Osvaldo Sobrinho, uma das referências políticas mato-grossenses.
Por volta de 5 horas do dia fatal, desci do meu apartamento na rua João Carlos Pereira Leite, no Araés. Rotineiramente naquele horário levava meus cães Tico, Teca e Mila para uma volta no entorno do Edifício Belo Horizonte, onde morava e era vizinho do Roger. Ao sair da garagem, o vi na escadaria do prédio. Agradável, Roger fez um convite irrecusável pra quem já morou em Cáceres – como é o meu caso: vamos dar um esticão até o FIP. Agradeci, mas ele insistiu dizendo que o secretário era gente muito boa, e que enquanto ele cumprisse a agenda oficial nós iríamos a um barzinho, mas deixando claro que por estar voando, não beberia comigo.
Enquanto nós ainda conversávamos, chegou o carro que levou Roger ao aeroporto. Na saída ele fez um afago dos três cães e perguntou se meus filhos gostaram do mel que ele trouxe do Parque Indígena do Xingu para uma xaropada contra a tosse dos meus filhos Agenor e Eduardinho. Disse que sim. Horas depois, fiquei sabendo do trágido acidente. Nesta segunda-feira, na galeria dos jornalistas na Assembleia, recordei-me de meu último encontro com Roger. Deus nos prepara o tempo da vida e do adeus, antes de nosso primeiro choro.
Justa a homenagem. Luz na eternidade para o Ezequiel e o Roger.