O visionário Otávio Eckert, fundador de Campo Verde

Eckert, o criador, e sua criatura

Otávio Eckert é gaúcho de Carazinho, tem 84 anos e desde 1973 está em Campo Verde. Antes de vir para Mato Grosso morou por cerca de 20 anos no Paraná, primeiro na cidade de Palmeira e depois em Capanema.

Em 1975, instalou um posto de combustível no entroncamento da BR-070 com a MT-140, ao qual deu o nome de Posto Paraná, empreendimento que foi o embrião da cidade de Campo Verde.

Em 1984, devido às dificuldades do lugar, como falta de uma agência bancária, que o obrigava a ir três vezes por semana à Cuiabá, e de uma escola para os filhos, Eckert decidiu então criar um loteamento. Quatro anos depois, o que era um projeto se transformou em uma das cidades mais desenvolvidas de Mato Grosso, que surpreende até seu criador.

Eckert, seu presente a Mato Grosso é Campo Verde

Para impulsionar o crescimento do local, Eckert impôs uma regra: quem comprasse um ou mais lotes deveria iniciar a construção em até três meses. Se o prazo não fosse cumprido, o terreno era retomado pelo colonizador e o dinheiro devolvido ao comprador.

“Em muitos casos eu não executei a cláusula do contrato e dei mais três meses para que iniciassem a obra”, lembra.

Como forma de atrair mais compradores e melhorar a vida de quem já morava na localidade,  Eckert construiu com recursos próprios 17 quilômetros de uma linha de alta tensão desde a antiga Fazenda Olvebra até a cidade que iniciava. Também construiu o prédio para a instalação do posto telefônico e perfurou um poço artesiano onde hoje é a região central. Durante muitos anos forneceu energia elétrica e água gratuitamente aos moradores.

Eckert também doou terrenos para várias igrejas e para a construção de prédios públicos. O Juventude Esporte Clube, também chamado Clube da Soja, fundado em 1986, está construído em área de mais de 10 mil metros quadrados doada por Eckert.

Visionário, o fundador de Campo Verde investiu na implantação de uma emissora de televisão (TV Real) em 1993 quando Campo Verde contava pouco mais de 5 mil habitantes. Em 2002, colocou no ar a Rádio Cidade Bela FM. Foi vereador de 1993 a 1996.

 

Campo Verde nasceu da ousadia de Otávio Eckert

UM VOTO – Até a década de 1970, a região de Campo Verde era explorada pela pecuária extensiva além de ser ponto de passagem de boiadas e garimpeiros. O aglomerado urbano começou a se formar em 1984, mas, antes dele, alguns pequenos comerciantes se instalaram temporariamente naquela área. Eckert chegou à região em 1974. Comprou terras na margem da BR-070 e abriu a fazenda Campo Real. No entroncamento da rodovia federal com a MT-140, montou o lendário Posto Paraná.

O posto de Eckert – único na região –, tornou-se ponto de parada obrigatória para quem se dirigia pela MT-140 à Nova Brasilândia, que àquela época era distrito de Chapada dos Guimarães e conhecida como Fica Fica.

Eckert decidiu lotear parte de suas terras, em torno do posto, para a formação de um povoado. O risco do negócio não prosperar não podia ser descartado: em 1980, Júlio Pavlac, criou o Loteamento Jupiara, exatamente onde hoje existe Campo Verde, mas o negócio foi por água abaixo.

Em 1984, mesmo correndo risco, Eckert registrou o Loteamento Campo Real na Prefeitura de Dom Aquino e ele se transformou no distrito de Posto Paraná. O nome do empreendimento imobiliário era uma homenagem à cidade gaúcha de Não-Me-Toque, que antes teve o nome alterado para Campo Real, mas que retomou a antiga denominação por decisão da população em plebiscito – o primeiro realizado no governo militar instalado em 1964.

Quanto ao distrito Posto Paraná, no loteamento de Eckert, um plebiscito promovido pela Prefeitura de Dom Aquino, entre os primeiros moradores, mudou seu nome para Campo Verde, que melhor define a região: um campo verde que some no horizonte e parece não ter fim. Essa votação localizada foi uma entre tantas em municípios brasileiros que as aproveitavam para despertar o sentimento democrático do brasileiro, então sufocado pelo regime militar.

Assim, Posto Paraná virou Campo Verde, mas Eckert queria que sua denominação fosse Campo Real. O colonizador ainda hoje lamenta ter sido isolado do processo de escolha do nome, pelo prefeito de Dom Aquino. “Nem do plebiscito sabia”, revela.

Eckert admite que gostaria que o nome de seu empreendimento fosse mantido e questiona o resultado: se tivesse votado juntamente com sua família, por certo, Campo Real venceria. Segundo ele, Campo Verde ganhou por somente um voto.

O município de Campo Verde tem 30 anos e 42.871 habitantes. É um dos principais polos da cotonicultura mundial e um grande celeiro nacional de produção de grãos. Seu turismo rural tem bons roteiros. A cidade com alto padrão residencial e boa qualidade de vida é dividida ao meio pela BR-070, que liga Cuiabá a Brasília. Além de tudo isso, sua população tem o privilégio de conviver com o visionário Otávio Eckert que lhe deu o sopro de vida.

Valmir Faria e Redação

FOTOS: Valmir Faria

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