O silêncio de Rosa Neide

Rosa Neide na Câmara

Ontem, Rosa Neide, deputada federal petista,  estreante no Congresso, ganhava destaque nacional ao levantar um cartaz com os dizeres Lula Livre. Seu desabafo em defesa do companheiro mais famoso era reforçado por um vestido com as cores que simbolizam a esquerda: o vermelho. Isso, no plenário da Câmara. Agora, a mesma Rosa Neide é despertada pela campanhia de sua suntuosa mansão em Cuiabá, por agentes da  Delegacia Especializada em Crimes Fazendários e Contra a Administração Pública (Defaz), cumprindo mandado de busca a apreensão da juíza Ana Cristina Silva Mendes, da 7ª Vara Criminal da capital, na Operação Fake Delivery, que prendeu preventivamente Francisvaldo Pereira de Assunção. Ao contrário da parlamentar ousada, o que se viu foi muita cautela por parte dela. Ao invés de buscar a Imprensa para apresentar sua versão, ao invés de levantar uma placa com os dizeres Francisvaldo Livre, ela preferiu a comodidade de uma nota sobre o caso.

Fake Delivery apura desvio na Secretaria de Estado de Educação (Seduc), em 2014, quando Silval Barbosa era governador, Rosa Neide secretária e Francisval secretário-adjunto de Administração Sistêmica. Por duas razões a deputada teria que ter falado abertamente com os jornalistas: a titular da Seduc era ela, e Francisval agia sob suas ordenas. Mais: o mesmo Francisval, ora preso, é uma figura umbilicalmente ligada ao PT. Tanto assim, que assessora na Assembleia Legislativa o petista deputado Valdir Barranco.

Rosa Neide com Silval Barbosa nos idos da Seduc

Não podemos aceitar políticos com discursos e práticas diferentes. O grito por Lula pode ser pirotecnia política diante das câmeras de TV. O silêncio sobre Francisval seria uma forma de se precaver?

Em situação quase análoga a essa de Fake Delivery, em 2016 Mato Grosso tomou conhecimento de um esquema mafioso que teria desviado milhões da Seduc em obras de construção e reforma de escolas. À época o governador era o tucano Pedro Taques e o secretário, Perminio Pinto – que foi preso. Dentre os nomes envolvidos naquele escândalo, o de Moisés Dias da Silva, que foi superintendente de Acompanhamento e Monitoramento da Estrutura Escolar da Seduc. Moisés teria sido plantado na Seduc pelos tucanos Nilson Leitão (então deputado federal) e Guilherme Maluf (à época presidente da Assembleia). Da Seduc o tucanato levou Moisés para o gabinete da Presidência da Assembleia lotando-o no cargo de Assessor de Maluf (matrícula 28.921 – função oficial APG-10 – salário R$ 10,3 mil).

Moisés e Francisval são siameses na engrenagem na penumbra do poder. Ambos com passagem pela Seduc e posteriormente em gabinetes de deputados de seus partidos: Moisés com Maluf e Francisval com Barranco. PSDB e PT devem satisfação sobre isso. Não se trata de acusação contra filiado, mas de um grave caso que envolveria interesse partidário.

A nota de Rosa Noite preocupa. Preocupa porque esse episódio pode se volatilizar, como volatilizou a participação de Maluf no escândalo dos tucanos na Seduc: o deputado foi contemplado com uma cobiçada cadeira vitalícia de conselheiro do Tribunal de Contas do Estado, que atualmente conta com cinco de seus titulares afastados judicialmente sob acusação de improbidade administrativa (recebimento de propinas) – são eles: Waldir Teis, Valter Albano, José Carlos Novelli, Sérgio Ricardo e Antônio Joaquim.

Com a palavra, Rosa Neide.

Com a palavra, Guilherme Maluf.

Com a palavra o PT.

Com a palavra o PSDB.

Eduardo Gomes é editor de blogdoeduardogomes

FOTOS:

1 – Agência Câmara

2 – Secretaria de Comunicação do Governo de Mato Grosso
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