Na Semana de Rondon em que se comemora seu nascimento em 5 de maio de 1865, em Mimoso aos pés da baía de Chacororé, seu nome ocupará espaço na mídia. Porém, os vínculos do Herói Mato-grossense Marechal Cândido Mariano da Silva Rondoncom sua terra são conhecidos por poucos.
“Ele foi presença constante em Mimoso, mesmo ausente pelas jornadas de interiorização do Brasil e de integração nacional”. Assim o Professor Aecim Tocantins definia o Marechal Rondon no tocante à sua terra. Esse relato não é o único reconhecimento da ligação do filho ilustre com sua origem. A história oral mimoseana também atesta esse elo e muito embora se volatilize com o tempo, ela ainda guarda detalhes sobre a afirmação ao Professor.
Muitas viagens de Rondon para Cuiabá foram pelo rio que empresta o nome à Capital e que banha Barão de Melgaço (140 km a jusante do destino). Quando fazia o percurso de Corumbá (agora MS) a Cuiabá, ou enviava barcos para a mesma, o Herói Mato-grossense comunicava ao amigo e telegrafista Odorico Ribeiro dos Santos Tocantins, pai do Professor Aecim Tocantins, para que o mesmo avisasse às lideranças de Mimoso. Transmitida a mensagem, líderes locais se dirigiam a Barão, na vizinhança, onde aguardavam a chegada das embarcações abarrotadas com presentes do filho ilustre do lugar.
Lápis, cadernos, borrachas para escritas, tabuadas, peças de tecidos, chapéus, sombrinhas, botas, botinas, chinelos, brinquedos, bolas de futebol, tralha de pescaria, lampiões, lamparinas, esporas, freios para animais, enxadas, foices, cavadeiras, enxadões, serrotes, cunhas, limas de amolar, martelos, marretas, grupiões, facões, garfos, facas, colheres, panelas, frigideiras, torradores de café, máquinas de moer carne e de costurar, velas, xaropes, vermífugos, filtros d’água, trempes de fogão, latões para leite, baldes, leques, dobradiças, fechaduras, botões, agulhas, relógios de parede e muitos outros itens eram desembarcados e em carretões ganhavam o rumo de Mimoso, onde uma distribuição democrática contemplava as poucas famílias ali residentes.
“Rondon nunca nos deixou”, comenta com maturidade o vaqueiro mimoseano João Victor Marques de Barros, 20 anos, ex-aluno da Escola Santa Claudina e apaixonado por campear nas invernadas encharcadas montando seu Coronavírus, Cavalo Pantaneiro e animal indicado para a lida naquele universo das águas.
O carinho de Rondon com seus conterrâneos é narrado de geração para geração. Essa pode ser a razão para a química que os semblantes não conseguem esconder quando se fala sobre ele. “É (Rondon) para sempre; sempre, sempre, sempre…”, salienta João Victor.
Um homem que foi capaz de escrever uma das mais belas páginas da cidadania brasileira não poderia mesmo ser indiferente aos seus. Rondon, como o define o professor e secretário da Escola Santa Claudina, João Bosco Queiroz da Costa, “Tinha o olhar sobre os indígenas, a ocupação do Brasil interior e a demarcação das fronteiras, mas seu coração batia e se desmanchava mesmo era pela nossa terra, a pequena Mimoso”. Santa Claudina foi a escola que Rondon construiu em sua terra e cujo nome reverencia a memória de sua mãe.
Fora de sua terra, o país também se curva a ele. Incontáveis escolas, creches, viadutos, faculdades, quartéis, conjuntos habitacionais, lojas maçônicas, praças, avenidas, ruas, bibliotecas, prédios, elevados, rodovias e aeroportos levam seu nome Brasil afora. Somem-se a essas reverências, Rondônia; as cidades de Rondonópolis, Marechal Cândido Rondon (PR) e Rondon do Pará (PA); e o distrito de Marechal Rondon, em Campo Novo do Parecis (390 km a Noroeste de Cuiabá).
Mesmo com as merecidas homenagens, Rondon enfrentava resistência da classe política. Porém, a grandeza de sua obra exigia que o mesmo fosse reconhecido. Assim, em 1918 aconteceu a primeira grande homenagem. Naquele ano, o deputado estadual, agrimensor e tenente Otávio Pitaluga fez o levantamento topográfico da vila Rio Vermelho, à margem do rio do mesmo nome, no município de Cuiabá e que tinha como grande destaque uma estação telegráfica. Pitaluga admirava Rondon, que instalou o citado telégrafo, e em razão disso apresentou na Assembleia um projeto alterando o nome do lugar para Rondonópolis o que foi aceito. Mais tarde Rondonópolis (245 mil habitantes) pertenceria a Poxoréu e posteriormente seria cidade.
As homenagens foram se sucedendo. O antigo Território Federal do Guaporé foi rebatizado como Rondônia, nome com o qual se tornou estado. No Paraná, o município de Marechal Cândido Rondon (56 mil habitantes), na fronteira com o Paraguai; e em Mato Grosso, além de Rondonópolis, o distrito de Marechal Rondon, em Campo Novo do Parecis reverencia o Herói Mato-grossense. Rondon ganhou os títulos de Patrono das Comunicações do Brasil e Patrono da Arma de Comunicações do Exército.
A obra de Rondon é tamanha, que o mesmo é reverenciado por um projeto de integração nacional que leva seu nome. No Pará, uma vila sem denominação, à margem da BR-222 e banhada pelo rio Ararandeua passou a ser chamada de Vila Rondon, em alusão ao Projeto Rondon, que ali mantinha num núcleo de atendimento de saúde coordenado pelo médico Camillo Vianna. Em 1982 ao se emancipar o lugar ganhou o nome de Rondon do Pará (520 km a Sudoeste de Belém) e tem mais de 54 mil habitantes.
No plano internacional, o Meridiano 52 recebeu seu nome. Em 1918 ele ganhou a Medalha Centenário de David Livingstone da Sociedade Geográfica Americana; e em 1919, foi condecorado com a Medalha do Explorers Club, de Nova York. Além dessas honrarias, recebeu muitas outras.