O papelão de Lúdio

Da tribuna Lúdio vê falar na pandemia
Uma ação impetrada pelo deputado estadual Lúdio Cabral (PT) na Justiça Federal, em Cuiabá, na quinta-feira, 14, pede o adiamento das provas do Exame Nacional do Ensino Médio, em Mato Grosso, “até que haja condições sanitárias adequadas para sua realização incluindo a estrutura suficiente e necessária na rede de saúde pública e privada para atendimento de maneira adequada, dos casos de convi-19“. Esse ato politiqueiro de Lúdio espelha bem o comportamento da classe política – salvo uma exceção aqui, ali ou acolá – na pandemia que hoje alcançou o triste registro de dois milhões de mortos no mundo inteiro.

 

Antes de ser deputado Lúdio é médico sanitarista do Governo de Mato Grosso. Está fora da função para exercer o mandato parlamentar.

O ato de ingressar com a ação ganha contornos politiqueiros por parte de Lúdio, que na condição de médico deveria se licenciar na Assembleia para atuar enquanto profissional da Saúde nesse momento em que Mato Grosso chora mais de quatro mil mortos e sofre em desespero com quase 200 mil afetados pela doença que o motivou a pedir a suspensão das provas do Enem marcadas para 17 e 24 deste mês.

O Brasil é o país da calhordice. Teimou em realizar eleições no mês de novembro do ano passado e agora insiste com o Enem. O país não tem comando, mas acima de tudo falta sensibilidade humana na classe política que o dirige.

Nesse momento Mato Grosso não precisa do deputado estadual Lúdio. O que a população mato-grossense necessita é de mais médicos e capacidade hospitalar instalada nos municípios. Esse discurso de fachada do parlamentar petista é mais uma leviandade que surge nos meios políticos enquanto a pandemia avança.

Mato Grosso tem deputado federal, deputados estaduais, prefeitos, vereadores e conselheiro do Triubnal de Contas do Estado (TCE) que são médicos. Nenhum se ofereceu para trocar a benesse do poder pelo jaleco branco enquanto a população morre, agoniza e sofre.

Dentre a legião de médicos no poder, outro deputado, colega de legislatura de Lúdio, João José de Matos, que adota o nome parlamentar de Dr. João (MDB), demonstrando insensibilidade e indiferença com a pandemia, está em campanha entre quatro paredes cabalando sua indicação para conselheiro do TCE na vaga que deverá ser aberta com a aposentadoria do conselheiro afastado judicialmente, Waldir Teis.

Dr. João quer uma cadeira de conselheiro para ficar ao lado do ex-deputado estadual Guilherme Maluf, também médico e que foi nomeado para o TCE pela generosidade corporativa de seus pares de então.

São muitos os médicos no poder e maior ainda sua indiferença.

Que Mato Grosso passe a exigir que todos os médicos no poder literalmente vistam seus jalecos brancos. Não é justo que um médico presidente de um consórcio intermunicipal de saúde permaneça no cargo de prefeito ao invés de se afastar do mesmo para clinicar e se dedicar com mais tempo ao citado consórcio. É isso o que acontece com Mariano  Kolankiewicz (MDB) prefeito de Água Boa.

Mariano é o presidente do Consórcio Intermunicipal de Saúde do Médio Araguaia (CISMA), que abrange 11 municípios e tem por referência o Hospital Regional Paulo Alemão, em Água Boa. Nada mais digno, profissional, ético e humano do que o prefeito se licenciar do cargo deixando a vice-prefeita Rejane Garcia (PSDB) na função, para que ele possa entrar na chamada linha de frente contra o novo coronavírus.

Mato Grosso é o Estado do silêncio, da reverência ao poder. Não faltarão mãos para aplaudirem Lúdio por sua corajosa ação judicial. Gritos de incentivos ao plano de Dr. João ser conselheiro do TCE serão ouvidos por todos os cantos. Elogios serão rasgados a Mariano quando ele se reunir com seus colegas médicos e prefeitos André Bringsken (Vila Bela da Santíssima Trindade), Ronio Condão (Confresa), Manoel Loureiro Neto (Diamantino) e Divino Henrique (Barra do Bugres), para discutir temas municipalistas.

Manaus nos mostra a vulnerabilidade do sistema de saúde pública diante da pandemia. Os números da OMS revelam que o universo está refém do vírus. A falta de leitos de unidades de terapia intensiva ronda Mato Grosso e o reduzido número de médicos agrava ainda mais essa situação. Enquanto isso, o deputado federal Leonardo Albuquerque, que por ser médico adota o nome parlamentar de Dr. Leonardo (SD), se reúne em Cuiabá com o candidato a presidente da Câmara, Arthur Lira (PP/AL) para hipotecar apoio em sua candidatura abençoada pelo presidente Jair Bolsonaro, pra presidente da Câmara.

Na Câmara dos Deputados, na Assembleia Legislativa, no TCE, em prefeituras e câmaras municipais, médicos mato-grossenses continuam no exercício de seus mandatos enquanto a pandemia avança. O vírus agradece a todos e em especial ao papelão de Lúdio.

Eduardo Gomes – Editor de blogdoeduardogomes

eduardogomes.ega@gmail.com

FOTO: Karen Malagoli – Site público da Assembleia Legislativa – Divulgação

 

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