O colonialismo europeu na voz de Macron

Somos povo indolente, que briga por vantagens e desprovido do nacionalismo que caracteriza tantas populações mundo afora. Falo tomando Mato Grosso e em especial Cuiabá por exemplo. Claro que há exceções, mas apenas exceções. Lamentável. A Amazônia é um prato cobiçado que está na mesa da Europa, como reconhece o presidente francês Emmanuel Macron usando palavras amenas, mas nem por isso menos ameaçadoras à nossa soberania.

Como reagiria o cuiabano diante da tentativa de supranacionalização da Amazônia ao coice do fuzil? Continuaria nas redes sociais ou desancando o Lula ou o Coiso – a esquerda se refere assim ao presidente Bolsonaro – fingindo que os dois problemas brasileiros são eles?

Com tristeza observo a indiferença da mídia e dos formadores de opinião cuiabanos sobre o que acontece na Amazônia – nem incluo o classe política, pois para ela o que conta é a lei de Gérson. Essa tristeza é a mesma no tocante a Jarudore.

Em 2012, na Revista MTAqui produzi uma série em três capítulos (agosto, setembro e outubro) onde mostrei dados e detalhei o plano de expansão das terras indígenas, para dentre outras coisas criarem a Grande Nação Xavante. À época focalizei o jamegão do presidente Lula da Silva para a aprovação Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas,  em 29 de junho de 2006 – decisão que não levou a chancela do Estados Unidos nem da Rússia. mas de republiquetas europeias.

Agora, Macron admite publicamente que a Europa estuda uma espécie de governança internacional para a Amazônia. Não creio que no primeiro momento os europeus pensem em invadir toda a região, mas avalio que eles encontrarão meios para tentarem dominar algumas áreas indígenas descomunais; num passo seguinte e apoiado politicamente por indígenas poderão dominar da primeira a última árvore da floresta.

A mentalidade europeia é diferente da nossa. Historicamente o mapa daquele continente passou por mudanças, e via de regra, sempre por meio de guerras – exceção da reunificação alemã com a queda do Muro de Berlim. O episódio mais recente de mudança do mapa foi a anexação da Crimeia pela Rússia, por força de um referendo digno das estranhas decisões da Justiça Eleitoral no passado, onde o que menos pesava era a decisão popular. Antes da Crimeia houve a fragmentação da Iugoslávia, que em muitas cidades e regiões banhou de sangue os Balcãs.

A divisão da Iugoslávia gerou um grupo de republiquetas (em termos territoriais): a Eslovênia (20.273 km²), menor do que Paranatinga; Macedônia do Norte (25.713 km²), do tamanho de Aripuanã; Montenegro (13.810 km²), que perde em extensão para São Félix do Araguaia; Kosovo (10.887 km²), que empata com Canarana; etc.

Para o europeu, qualquer meia dúzia de metros quadrados é suficiente para a criação de um Estado, principalmente quando naquela área o povo tem identidade cultural (língua, costumes, etc.) Esse é o grande quesito para Macron se apegar, mas na verdade o que a Velha Europa quer é reassumir seu papel colonizador que desde o Império Romano sempre se fez presente continentes afora, com belgas, holandeses, franceses, ingleses, espanhóis, portugueses e outros povos.

Não pensem duas coisas: que eles não seriam capazes de usar as armas, e que eles não tenham capacidade militar. As Ilhas Malvinas testemunham isso.  Quando os mísseis Exocet argentinos começaram causar baixas na Marinha de Sua Majestade, Margareth Thatcher pediu ao presidente francês que lhe desse os códigos que guiavam a trajetória dos disparos – e o ameaçou: ou me passe agora ou mando jogar bombas atômicas em Buenos Aires e Córdoba.

No editorial que escrevi no dia 25 (Um bote internacional armado sobre a Amazônia), alertei que bastava uma liderança indígena pedir socorro à ONU, para que os europeus ocupassem nossa floresta. Veja postou hoje (27), o título: “Bolsonaro incitou incêndios na Amazônia”, diz Raoni a Macron. Os dois caciques, o de Paris e do Parque Indígena do Xingu, se encontraram na Cúpula do G7, em Biarritz, lugar bem distante da reserva Capoto/Jarina, onde o líder caiapó é aldeado.

 

Trechos do editorial do dia 25

 

Lula abriu a porteira da Amazônia

… Por ordem de Lula, o Brasil assinou essa Declaração ao lado de pequenos países sem aldeamento indígena, mas os Estados Unidos e a Rússia disseram não à decisão que nasceu de uma assembleia da Organização das Nações Unidas (ONU), em Genebra, Suíça.

Basta uma liderança indígena pedir socorro à ONU, que de imediato os boinas azuis saltarão de paraquedas sobre a floresta e a ocuparão com seus barcos em seus incontáveis rios navegáveis. O cenário é sombrio. Muito sombrio. Lula reconheceu a independência dos povos indígenas, cada qual com sua etnia, seus costumes e, agora, com seus direitos assegurados pelas Nações Unidas.

À ONU basta um pedido do cacique Raoni

Não é mera coincidência que recentemente criou-se um grupo em mídia social para defender a concessão do Prêmio Nobel da Paz ao cacique caiapó Raoni Metuktire, que é amigo do astro Sting e de outras figuras do jet set internacional. Raoni é aldeado na terra indígena Capoto/Jarina, no Nortão e considerado o brasileiro mais conhecido na Europa – até mais que o rei Pelé.

O momento exige muita diplomacia política brasileira. Também exige a união de todos. A origem ainda não bem esclarecida de tanto fogo e o ódio ideológico que se espalha pelas redes sociais e na mídia podem acender a chama da tentativa do esfacelamento territorial brasileiro…

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O Brasil tem tradição diplomática. Espero que a exerça bem. Nossas Forças Armadas são as melhores do mundo em combates na selva – com uma variante de guerrilha pra enfrentar poderosos exércitos. Confio no seu amor pátrio e profissionalismo. No pior dos cenários, caso a Velha Europa se assanhe, não terá argumento para um bombardeio nuclear na Amazônia, por se tratar de guerra de conquista e não de destruição – temos esse trunfo, coisa que a Argentina não teria caso a senhora Thatcher não tivesse neutralizado os mísseis argentinos.

Que a intelectualidade cuiabana tão voltada para as questões externas pense na Amazônia (e em Jarudore) e não trate esse caso com superficialidade nem deboche. No passado, quando Solano López ameaçou invadir Cuiabá ninguém acreditou, até que um dia o caldo entornou e muitos trataram de buscar esconderijo na Chapada dos Guimarães deixando a responsabilidade pela defesa da cidade a cargo do lobo do mar e ex-mercenário Augusto João Manuel Leverger – nosso consagrado herói nacional Barão de Melgaço, merecedor de todas as honras, governador de Mato Grosso em vários mandatos e patrono da Academia Mato-grossense de Letras.

A Amazônia não é uma piada e Macron não está brincando: apenas fala a voz do colonialismo europeu.

Eduardo Gomes de Andrade – editor de blogdoeduardogomes

FOTOS:

1 – Sputnik

2 – O Antagonista

3 – Arquivo blogdoeduardogomes

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