Nas mãos de Deus

Um amigo agastado com um namoro de um seu filho com uma fulana, para ele, não muito recomendável, não sabe o que  fazer e veio me pedir ajuda. E eu hein! Fiquei numa sinuca de bico sem saber o que recomendar para aplacar os seus incômodos. Esses casos geralmente são entregues para o tempo que se encarrega de dar-lhes uma destinação, pois paixão é paixão e, normalmente, tem data marcada para encerrar. Entretanto, há as exceções que poderão não acabar e se prolongar no tempo.
Um conhecido meu se apaixonou por uma fulana e nem ele, nem ela tinham condições, na época, para nada e resolveram pegar um teco-teco na pequena cidade, em que viviam e, se não fosse a intervenção imediata de mãe dele, eles teriam fugido para viver o tumultuado enlace em outro lugar.
Movido por uma destas paixões avassaladoras, um sujeito se enamorou de uma mulher sem dotes aparentes. Ele tinha dela ciúmes doentios. A sua mãe alfinetava dizendo-lhe que ela deveria ter a genitália cravada de diamantes. Outro, se enrabichou por uma mulher horrorosa que nem ele conseguia explicar direito as razões de todo o magnetismo da relação. Soube de um pai que implicou com o namorado da filha por que ele era bem mais velho que ela. Tanto fez que a menina largou do velho e foi morar com um maconheiro.
Um terceiro, movido por uma inexplicável paixão rejeitada, se enveredou por uma tragédia. Para aplacá-la (a paixão) e se vingar matou, a golpes de faca, a filha em comum  e tirou a própria vida, misturando antes no colírio da  mãe, um ácido que a cegou, depois de sua morte.
O Jorge Amado, no seu livro A Descoberta do Brasil Pelos Turcos, conta dos Esponsais de Adna, que esta era uma moça sem dotes físicos e que era rejeitada por todos os pretendentes. Entretanto, como manda os costumes ancestrais, foi prometida para um patrício que casou com ela a contragosto. Ninguém entendeu por que o patrício caiu de amores por Adna que possuía, e ninguém sabia, um atributo raro: a xana chupetão.
“Se eu soubesse quanto dói a vida essa dor tão doida não doía assim” (Naquela Mesa – Sergio Bittencourt). Cometi erros e equívocos ao longo da vida. Alguns deles pago a conta até hoje. Sei muita coisa, sim. Entretanto, não sei de tudo e vou morrer meio analfabeto a respeito da vida. E continuo achando que o meu pai tinha razão ao dizer que este mundo é um mistério.
Ao meu amigo, eu lhe digo que algumas coisas que acontecem na vida são para evitar outras piores. Eu conheço tanta gente que começou se metendo em coisas, aparentemente inviáveis que deram certo. E  de pessoas que tinham certeza da decisão que tomaram e estavam redondamente enganados. Se ele está indeciso e inseguro sobre o que fazer, a emenda poderá sair pior que o soneto. Portanto, eu lhe dou um conselho que me daria a minha mãe: entregue nas mãos de Deus.
Renato Gomes Nery – advogado em Cuiabá e ex-presidente da OAB/MT
rgnery@terra.com.br
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