Na terra onde o fim justifica os meios
Por
Eduardo on 31 de outubro de 2025
Eduardo Gomes
andrade@eduardogomes
Sinceramente, conheço tanto Guns N’Roses quanto chinês de samba. Se estivesse nesta sexta-feira, 31, na Arena Pantanal, com minha mineirice abismal, seria um estranho no ninho, pois meu gosto musical não vai além de Duduca & Dalvan, Inezita Barroso, Luiz Gonzaga, Nelson Gonçalves, Fafá de Belém, Marisa Monte e nossas conterrâneas mato-grossenses Bruna Viola e Vanessa da Mata. Porém, o Brasil de diversas gerações vive a famosa banda americana de rock como a palma de sua mão. São muitos os que a acompanham há 40 anos, que cantam suas músicas, fazem coreografia com seus ritmos, como na tricentenária Cuiabá de Moreira Cabral, que virou seu teatro a céu aberto. Porém, qual motivo leva um caipira meio eremita a falar sobre Axl Rose, Slash, Duff McKagan e seus parceiros mais recentes Dizzy Reed, Richard Fortus, Melissa Reese e Isaac Carpenter? Respondo com objetividade; não é pela estrela do espetáculo, mas por seu palco, a Arena Pantanal.
Construída para a Copa do Mundo de 2014 a Arena Pantanal substituiu o Estádio Verdão em meio a aplausos cuiabanos, da elite que come maionese ao periférico que deixa a família para ir em busca do pão de cada nas fazendas do agronegócio, uma vez que o emprego por aqui é escasso até mesmo para a mão de obra sem qualificação.
Um clamor bairrista se fazia ouvir do Trevo do Lagarto ao Coxipó, não somente pelas obras da Arena Pantanal, mas pelo conjunto de construções que viraria a última página da capital provinciana e lhe daria ares de modernidade, inclusive diversificando a matriz do transporte coletivo.
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Enquanto as obras avançavam sobre os aplausos populares e a reverência midiática regiamente remunerada, uma verdadeira quadrilha assaltava os cofres públicos, porque a Assembleia Legislativa e o Tribunal de Contas do Estado (TCE) não fiscalizavam a aplicação dos recursos. Formou-se uma implícita, porém, eficaz aliança que na Assembleia era chefiada por José Riva; no governo, por Silval Barbosa; e no TCE, segundo delação premiada de Silval, por cinco dos seis conselheiros – o conselheiro Humberto Bosaipo estava afastado pelo STJ, que o acusava por improbidade administrativa. Os cinco citados por Silval: Sérgio Ricardo, Valter Albano, Waldir Teis, José Carlos Novelli e Antônio Joaquim – todos foram afastados, permaneceram algum tempo longe da dita corte de contas e posteriormente reintegrados. Sobre os conselheiros é bom lembrar do jocoso e vergonhoso episódio de Waldir Teis descendo 16 andares por uma escada, em desabalada carreira, para jogar um cheque na lata de lixo, na tentativa de escapar da perseguição por um policial federal.
Guns N’ Roses. Lembremos dela. A exibição da famosa banda, que é considerada uma das maiores do mundo em todos os tempos, será num palco que realmente deveria ter sido construído em Cuiabá, mas sem a corrupção que cercou seu planejamento e execução. Cito a Arena Pantanal para contextualizar meu alerta sobre o Parque Novo Mato Grosso que o governador Mauro Mendes constrói em Cuiabá, sabe-se lá por quantos bilhões.
Acho formidável a conquista do Parque Novo Mato Grosso, mas temo pela aplicação dos recursos a ele destinados, sem que nenhum deputado estadual exerça seu papel fiscalizador. Não se ouve uma só palavra sobre o montante destinado ao parque, salvo uma crítica extemporânea e superficial do senador Jayme Campos, que falou sobre a roda-gigante comprada na China por 90 milhões – se não estou enganado quanto à cifra; e a voz solitária do ex-governador Pedro Taques que critica o projeto como um todo. Quanto ao poder de fiscalização do TCE, nada a acrescentar. Seu pleno é praticamente o mesmo que foi afastado judicialmente quando da delação de Silval.
A Assembleia é uma extensão do governo e não o fiscaliza com a profundidade que deveria fazê-lo. Assim, pode ser que no amanhã tenhamos dois irmãos siameses: o Parque Novo Mato Grosso e a Arena Pantanal, ambos nascidos sem aquele – permitam-me o exemplo – que seria o pré-natal para acompanhar a lisura do desembolso nesta abençoada e ensolarada terra de corruptos poderosos.
Welcome Guns N’Roses. Tchega logo xomano Parque Novo Mato Grosso. O povo cuiabano está de braços abertos para vocês, neste miolo do continente onde a classe política teima que o fim justifica os meios – quando se pode levar vantagem.