Na boca do sapo

O Palmeiras ia disputar um jogo importante contra o Dom Bosco e cujo resultado interessava diretamente ao Mixto e ao Operário. Como sempre, o alviverde do Porto decidiu recorrer à ajuda de mãe de santo Odilza para ajudar o time a ganhar.

Mas surgiu um problema: o “trabalho” de Odilza precisava ser feito lá pelas bandas do Rio dos Peixes, em Cuiabá, e o alviverde não tinha dinheiro para pagar a mãe de santo. E muito menos para arcar com a despesa de deslocamento para o local escolhido para a macumba…

Solidários com o Palmeiras, Mixto e Operário decidiram não apenas pagar a famosa mãe de santo, mas arcar também com a despesa de uma kombi para conduzir alguns jogadores palmeirenses escolhidos por mãe Odilza até o local do descarrego, feito numa sexta-feira, claro, da véspera do jogo…

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Depois de todo o ritual característico de uma sessão de macumba – queima de pólvora, muita vela preta acesa, consumo de cachaça e charutos, etc. – chegou a hora da pancada definitiva no azulão: a colocação dos nomes de jogadores dombosquinos numa folha de papel que foi costurada dentro da boca de um sapo…

Ninguém se lembra do placar do jogo. Mas o fato é que o resultado favoreceu os dois clubes que bancaram as despesas para o “trabalho” em favor do Palmeiras.

Na semana seguinte, a mãe de santo Odilza foi procurar o diretor palmeirense José Fluminhan, que tinha participado do ritual na área do Rio dos Peixes, para lhe pedir um favor: a devolução do sapo em cuja boca estava a folha de papel com os nomes dos jogadores do Dom Bosco.

A mãe de santo tinha um motivo muito forte para querer o sapo de volta: ela tinha sido contratada pelo Dom Bosco para realizar “trabalhos” em favor do azulão e precisava com urgência tirar os nomes dos jogadores de dentro da boca do batráquio para desfazer sua própria feitiçaria…

Reproduzido do livro Casos de todos os tempos Folclore do futebol de Mato Grosso, do jornalista e professor de Educação Física Nelson Severino.