Mauricio de Sousa é homenageado na abertura da Mostra de Cinema de SP

Elaine Patrícia Cruz – Agência Brasil

SÃO PAULO

Perto de completar 90 anos, no próximo dia 27, o desenhista, cartunista e escritor brasileiro Maurício de Sousa foi homenageado na noite dessa quarta-feira (15) com o troféu Leon Cakoff, da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que reconhece personalidades que contribuíram para a cultura e o mercado audiovisual brasileiro.

Mauricio de Sousa não pôde participar da abertura, mas foi representado por seu filho, Mauro Sousa, que agora o interpreta no cinema, com o longa Mauricio de Sousa – O Filme.

“Este é um momento duplamente especial”, disse Mauro Sousa, em entrevista à Agência Brasil e à TV Brasil. “Primeiro, pela homenagem aqui da mostra, porque o meu pai sempre teve esse sonho de que seus personagens, suas obras, fossem para o cinema. Então, isso que está acontecendo é a concretização desse sonho e de um reconhecimento de que a gente está fazendo um bom trabalho, com qualidade, seguindo essa essência do Mauricio”, afirmou.

O longa chega aos cinemas no dia 23 de outubro, mas a mostra vai apresentá-lo em uma sessão especial para o público dois dias antes.

“Estou muito emocionado de representá-lo aqui e também por representá-lo no cinema. É a minha estreia no cinema, eu nunca tinha pisado num set, minha experiência até então tinha sido principalmente no teatro. Acho que este é o melhor presente que eu poderia ter dado para ele — e para mim também. Acho que foi a cereja do bolo, principalmente neste ano em que ele completa 90 anos”.

Além de Mauricio de Sousa, a mostra também homenageou a cineasta martinicana Euzhan Palcy com o Prêmio Humanidade, por seu papel na luta contra o apartheid na África do Sul e por inspirar tantos cineastas em todo o mundo, principalmente mulheres negras.

Figura pioneira na história do cinema, Euzhan foi responsável por abrir caminhos para mulheres negras em espaços antes inacessíveis. Seu longa de 1983, Rua Cases Nègres, recebeu o Leão de Prata em Veneza, primeira vez que o prêmio foi concedido a uma mulher e pessoa negra na direção. Ela também recebeu o Oscar honorário.

Em seu discurso, a martinicana agradeceu a homenagem e falou da proximidade entre o Brasil e seu país.

“Nos da Martinica e do Brasil somos irmãos. Na Martinica, quando o Brasil joga, não há ninguém na rua”, brincou ela, sobre a seleção brasileira de futebol. “Eu costumo dizer que estou fazendo filmes para dar voz às pessoas que foram negadas de falar. Era muito urgente para mim, como cineasta, ajudar as pessoas a estarem na tela”, acrescentou durante a cerimônia de abertura da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, na noite de ontem (15), na Sala São Paulo.

A Mostra 

A Mostra Internacional de Cinema de São Paulo é o maior e mais tradicional festival de cinema do Brasil. Com início marcado para esta quinta-feira (16), o evento vai apresentar neste ano 373 filmes de 80 países, que serão exibidos em 52 salas de cinema, espaços culturais e centros educacionais unificados (CEUs) espalhados pela capital paulista.

Parte dessa programação é realizada conjuntamente com a Spcine, que atua no fomento, financiamento e desenvolvimento de políticas públicas para o setor audiovisual na cidade de São Paulo. Com isso, alguns desses filmes serão exibidos de forma gratuita na plataforma da Spcine e também nos circuitos ou equipamentos culturais da prefeitura, permitindo maior democratização desse acesso.

“Neste ano, [essa parceria] está muito especial, com a mostra oacontecendo no circuito SPCINE, nas salas públicas de cinema, tanto em salas que são gratuitas, quanto nas da Secretaria de Cultura, onde a gente tem preços super populares. Vamos ter a mostra também na plataforma Spcine Play. A Spcine vai participar ainda do Encontro de Ideias, aquele momento de mercado, de debates e de trocas. Além disso, uma ação superespecial ocorrerá este ano, que é a segunda edição da Mostrinha (programação infantil da mostra)”, explicou Lyara Oliveira, presidente da Spcine.

“Levar a mostra internacional para espaços periféricos e para espaços de acesso gratuito ou a preços populares democratiza o acesso. Além de democratizar o acesso, a gente democratiza a informação porque a mostra estará presente em todos esses espaços periféricos”, afirmou Lyara em entrevista à Agência Brasil.

Entre os filmes programados para exibição está O Agente Secreto, de Kleber Mendonça Filho, que foi escolhido pela Academia Brasileira de Cinema para representar o Brasil na seleção para o Oscar. Além dele, o evento apresentará mais 14 obras que foram indicadas por seus países para concorrer a uma vaga ao Oscar como Jovens Mães, de Jean-Pierre Dardenne e Luc Dardenne (Bélgica); No Other Choice, de Park Chan-wook (Coreia do Sul) e Foi Apenas um Acidente, do cineasta iraniano Jafar Panahi (França), filme vencedor da Palma de Ouro do Festival de Cannes.

Além de O Agente Secreto, a mostra apresentará mais 83 filmes brasileiros, como os clássicos restaurados Garota de Ipanema, de Leon Hirszman e Um Céu de Estrelas, de Tata Amaral.

A abertura da 49ª edição da Mostra Internacional de Cinema foi realizada na Sala São Paulo e reuniu personalidades do cinema e do audiovisual brasileiro, entre a secretária do Audiovisual do Ministério da Cultura, Joelma Oliveira Gonzaga.

Após a cerimônia foram exibidos o curta-metragem Como Fotografar um Fantasma, do diretor e roteirista Charlie Kaufman, e o longa-metragem Sirât, de Oliver Laxe, vencedor do prêmio do júri do Festival de Cannes.

Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil

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