Mato Grosso entregue às traças
Por
Eduardo on 30 de outubro de 2025
Eduardo Gomes
andrade@eduardogomes
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Com eloquência Mauro Mendes cita permanentemente o programa Tolerância Zero Contra às Facções Criminosas, por ele lançado em dezembro do ano passado e cujo título é uma variante de algo criado pelo então prefeito nova-iorquino Rudolph William Louis Giuliani. Em todas as páginas dos sites mato-grossenses vejo o governante martelando sobre seu programa. Parece-me, até a política de água mole em pedra dura… de tanto ouvi-lo o cidadão é induzido a acreditar que o governador é um poço de disposição para o enfrentamento e para discutir a violência que deriva em cascata da ação dos faccionados. Porém, bastou o primeiro chamado, para que seu discurso fosse por água abaixo. Nesta quinta-feira, 30, um grupo de governadores foi ao Rio de Janeiro hipotecar apoio ao colega anfitrião Cláudio Castro (PL) e debater o crime organizado, mas Mauro Mendes permaneceu em Cuiabá alegando compromissos de agenda.
Lamentável o fosso que separa o discurso do Tolerância Zero das ações de Mauro Mendes.
Entendo que o governador não tem que ser xerife. A ele cabe estabelecer normas de atuação para a Segurança Pública e sua execução, e essa sim, pode ser xerifada no sentido respeitoso da palavra, sem intenção pejorativa.
Mato Grosso é uma das portas de entrada da cocaína no Brasil. Com 983 km de fronteira com a Bolívia, dos quais 730 km em solo firme numa área de baixa densidade demográfica e caracterizada por fazendas de pecuária, o narcotráfico utiliza-se de estradinha apelidadas cabriteiras e cruza nos dois sentidos a linha que une os dois povos amigos.
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O mercado da droga embora em alta nos 142 municípios mato-grossenses é pequeno para o volume ofertado pelos hermanos – assim carregamentos atravessam nosso território com destino ao eixo Rio-São Paulo, o que resulta em grandes apreensões de drogas bolivianas fora de Mato Grosso, mas com passagem por nosso corredor rodoviário. Neste contexto, é preciso que se tenha em conta que os fatos que ocorrem no Rio, estão umbilicalmente ligados a nós. No sentido inverso, organizações criminosas faccionadas ou de milicianos têm presença entre nossa gente. Em suma, a criminalidade muito organizada não se prende a limites municipais, divisa de estados nem a fronteira. Essa realidade por si só deveria ser o bilhete de embarque de Mauro Mendes para o Rio, mas ele prefere permanecer aqui alertando que se o crime organizado ‘topar’ com a polícia vai chover chumbo grosso.
O confronto armado entre policiais ao lado de integrantes do Ministério Público contra faccionados numa área de mata no Rio, em parte, leva as digitais de Mato Grosso no tocante aos marginais.
Precisamos de política de Estado para a Segurança Pública, sem personalização, sem tentar tirar proveito eleitoral sobre a compra de armamento. Não há necessidade da exploração midiática de atos administrativos que resultem em avanços no preparo da tropa e na modernização de seus fuzis.
Por todos os lados Mato Grosso é deficiente em Segurança Pública. A dilapidação do patrimônio público é crime numa das vertentes da Segurança Pública. O dinheiro desviado por político corrupto mina o orçamento e resulta na falta de recursos para a Saúde Pública, Educação, para o conjunto administrativo.
Em 16 de junho o portal UOL denunciou que a maioria dos deputados da Assembleia Legislativa teria destinado emendas parlamentares para a Secretaria Especial de Agricultura Familiar (Seaf) comprar kits agrícolas para a agricultura familiar, e em levantamentos preliminares da Controladoria Geral do Estado (CGE) descobriu-se superfaturamentos que somariam milhões de reais. Prontamente o vice-governador Otaviano Pivetta, no exercício do cargo de governador, determinou que a CGE levasse o caso à polícia.
Mauro Mendes tomou conhecimento do escândalo das emendas e de imediato demitiu o secretário da Seaf, Luluca Ribeiro, e seus comissionados. Porém, nem um passo a mais foi dado para a elucidação do fato. Tanto quanto agora sobre Tolerância Zero, o governador não avança.
Sobre Tolerância Zero ainda é precoce dizer o que levou Mauro Mendes a não se reunir com os colegas governadores no Rio. Sobre o escândalo da Seaf, tudo indica que se houvesse uma investigação rápida, eficiente e isenta, como o caso exige, o governador levantaria a Assembleia contra seus planos políticos. Talvez por isso, o caso esteja abafado, e Luluca permanece lotado no gabinete da deputada Janaína Riva (MDB), que o nomeou para a Seaf.
Pobre Mato Grosso entregue às traças, que não vê a relevância do encontro no Rio e que não se encontra para passar o escândalo das emendas a limpo.