Mar doce mar

Na região a fiscalização ambiental nunca botou placa com os dizeres, Praia imprópria para banho. O Araguaia é sempre um mar doce mar.

O Araguaia, sua gente e a Ilha do Bananal (acima) em São Félix do Araguaia

A mata ciliar ao Araguaia é exuberante. Pássaros de todos os tamanhos e cores dão um toque especial; o atrevido martim-pescador faz sobrevoos sobre os barcos e se exibe num bailado alucinante ao mergulhar em busca de pequenos peixes. Capivaras costumam apresentar espetáculo à parte subindo ou descendo o barranco ribeirinho. Botos surgem aqui e ali com seu balé de deixar os bailarinos do Tchaikovsky de queixos caídos. Cardumes nadam em desespero fugindo de predadores naturais como parte do ciclo da vida na natureza.

A temperatura do período da Temporada é quente e a umidade relativa do ar não é afetada pela adversidade climática do verão amazônico, pois até nisso o rio é generoso e, em sua cumplicidade com o ar, manda lufadas de vento ameno sobre os corpos quase nus em exposição ao sol nas areias.

O Araguaia nas águas baixas, pra ser contemplado

Nas barracas de praia predomina a culinária goiana com pratos à base de peixe, mas com alternativa ao trivial carregado no pequi, palmito gueroba, milho cozido, galinha caipira, carne de porco. Pra quem prefere lanche rápido, não falta moqueca, isca de lambari, pamonha doce ou salgada, curau e milho assado na brasa. Isso, sem falar na boa talagada da branquinha pura e com rosário, destilada em alambique de capelo.

No rio e em suas margens se faz de tudo, ou quase tudo. Natação, passeios de barco ou em jet sky, voos em ultraleves de aluguel, pescaria, futebol de praia, safári fotográfico, futevôlei e, claro, namorar, ou alguém é tão louco a ponto de imaginar que a beleza do Araguaia não funciona também como elixir libidinoso?

Praia e mata assistem o Araguaia refletir o luar

O Araguaia é ótimo ao longo do dia e durante a noite, também. As cidades ribeirinhas promovem shows artísticos com bons nomes da música nacional e grupos regionais. Quando o sol se põe é o momento do lual, que tem hora pra começar – ao escurecer – e pra terminar – quando a alvorada com sua beleza engole outra beleza, a da lua.

Lual é música cantada ou instrumental, ao pé da fogueira, sob a areia com o rio passando ao lado em murmúrio e o barulho dos peixes pulando n’água, com a lua por testemunha silenciosa pra não abafar os acordes dos violões, a harmonia das sanfonas, os tinidos do triângulo, os ritmos dos pandeiros, os sons dos saxofones e as vozes e gemidos lânguidos da brasilidade apaixonada.

São Félix do Araguaia e seu rio Araguaia

Em Luciara, o Araguaia abusa do direito de ser belo. A areia fina da praia,  as águas limpas e transparentes e mornas são irresistíveis.

Em Cocalinho a Temporada tem um ingrediente bem apimentado. É o esporte aquático radical feito sobre quatro rodas. Uma oficina na cidade monta geringonças ao estilo das gaiolas da competição cross rodoviária. Esse veículo artesanal desafia as águas do Araguaia em sua parte mais rasa e faz muito sucesso entre os turistas.

Na sedutora São Félix do Araguaia começa a maior ilha fluvial do mundo: a Ilha do Bananal, com quase dois milhões de hectares e que se estende até a tríplice divisa de Mato Grosso, Tocantins e Pará.

Araguaia é vida

Bananal nasce no encontro das águas do rio das Mortes com o Araguaia. Nesse ponto o Araguaia se divide em dois: o rio que corre pela direita ganhou o nome de Javaés e o da esquerda preservou a denominação. A Ila pertence a Tocantins.

Bananal é território imemorial de índios araguaianos.

Aragarças, do lado goiano, não pode ser excluída do roteiro. Afinal, a Praia Quarto Crescente – a mais famosa e movimentada do Araguaia – fica naquela cidade separada de Barra do Garças pelo Araguaia.

De Aragarças se vê um cenário de cartão-postal da Barra, na parte acidentada daquela cidade ao pé da Serra Azul, perto de seu balneário termal e de belas cachoeiras com suas águas limpas e geladas

O vaivém do turista entre as duas margens do rio Araguaia não é complicado pelo fuso horário.

Mato Grosso tem uma hora a menos em relação a Brasília, mas no Araguaia essa regra não vale. Lá, se diz que, o horário aqui é o de Goiânia.

A suspensão da Temporada de Praia causa impacto negativo na economia da Barra e das demais cidades banhadas pelo Araguaia, inclusive na goiana Aragarças. Os turistas se escafederam e os moradores da região também evitam os encantos do rio, temendo a pandemia do coronavírus.

Esse impacto atinge todos os elos do trade turístico e até a receita tributária, uma vez que há impostos em cascata sobre bens e serviços prestados aos turistas. Assim como a Temporada de Praia, que é curta, a população espera que a presença do vírus também seja rápida e que tudo volte ao normal,.

Fotos:

1 e 2 – Edevilson Arneiro – Prefeitura de Barra do Garças

3 e 6 -Vanderson Ferraz – Agência AMM

4 – José Medeiros

5 – Marcos Bermasco

7, 8 e 9 -blogdoeduardogomes

 

 

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