Júlio Campos – Biografia não autorizada II

Eduardo Gomes

@andradeeduardogomes

Com este capítulo o blog completa a biografia não autorizada de  Júlio Campos, decano na Assembleia Legislativa e o político mato-grossense detentor de mandato que há mais tempo disputa eleição. Na sequência serão postadas biografias, também sem autorização, de pré-candidatos a prefeito das principais cidades de Mato Grosso.

Júlio Campos II

Uma Constituição pelo Brasil

Em 1986 o Brasil elegeu o Congresso Constituinte para elaborar a nova Constituição após o período de exceção. “Sentia-me confortável no governo, mas meu sangue político cobrava-me participação na redação da Carta Magna. Sabia que poderia transferir o poder para o vice Wilmar Peres, porque confiava na sua lisura e capacidade de trabalho. Disputei e venci a eleição para deputado federal compondo nossa bancada na Câmara com Jonas Pinheiro (PFL), Ubiratan Spinelli (PSD) e com Osvaldo Sobrinho, Joaquim Sucena, Antero Paes de Barros, Rodrigues Palma e Percival Muniz (todos do PMDB)”, destaca seu lado parlamentar”, comenta Júlio Campos.

Na Constituinte, Júlio Campos votou a favor da proteção ao emprego contra despedida sem justa causa, do aviso prévio proporcional. Também firmou posicionamento pela soberania popular, o regime presidencialista e pela nacionalização do subsolo. Ainda na Constituinte, Júlio Campos foi o autor da proposta que transformou o Pantanal Mato-grossense em patrimônio nacional.

As intensas articulações, longas reuniões e intermináveis sessões para a elaboração da Constituição não impediam que Júlio Campos mantivesse permanente contato com Mato Grosso e sua classe política. Em Brasília, percorria gabinetes ministeriais e de órgãos da administração federal defendendo interesse dos municípios e do governo estadual que tinha à frente o governador Carlos Bezerra (PMDB), seu adversário.

Com a promulgação da Constituição que o Dr. Ulysses Guimarães chamou de “Cidadã”, Júlio Campos entrou em cena para disputar a eleição ao Senado em 1990.

Uma voz no Senado e um casal feliz

Jayme governador e Júlio Campos senador

O domingo, 3 de outubro de 1990 foi um dia de realização para Dona Amália e seo Fiote. Naquela data, pela primeira vez no Brasil – e única até agora – dois filhos de um casal foram eleitos num mesmo pleito, para governador e senador: “Jayme  Campos venceu a disputa ao governo e fui eleito senador; ambos éramos filiados ao PFL”, comemora.

Jayme Campos venceu a eleição para governador com o vice Osvaldo Sobrinho. “Na minha chapa ao Senado os suplentes foram Zanete Ferreira Cardinal (PFL) e Antônio Kato (PL)”, detalha. O engenheiro civil e pecuarista Zanete foi prefeito de Rondonópolis e deputado estadual. Kato é médico e presidiu o Centro de Reabilitação Integral Dom Aquino Corrêa (CRIDAC) em Cuiabá.

O Senado, como se diz, é a casa da maturidade. Para Júlio Campos a Câmara Alta também foi a oportunidade para cruzar sua vivência política na esfera executiva com o desempenho parlamentar. Enquanto senador, foi incansável na defesa do governo de sua terra, do qual foi titular e que naquela quadra era exercido por seu irmão Jayme Campos.

Uma das demandas era a ligação ferroviária de Mato Grosso com São Paulo. Júlio Campos lutou pelos trilhos e a Ferronorte executou o trecho entre Aparecida do Taboado (MS) e Alto Taquari, num trajeto de 410 km. Assumiu a bandeira pelo avanço da pavimentação na BR-158 no Vale do Araguaia e a consolidação do corredor Mato Grosso-Rondônia pelo Chapadão do Parecis.

Em Cuiabá o governador Jayme  Campos precisava de recursos federais para levar adiante sua administração. Júlio Campos tinha forte ligação com o presidente Fernando Collor e Itamar Franco, graças aos caminhos que se cruzam em Brasília e também com Marco Maciel, que foi vice-presidente de Fernando Henrique Cardoso, já que ambos eram correligionários.

Em 1989 Collor era governador de Alagoas e pré-candidato a presidente à procura de um vice. Parlamentares federais alagoanos sugeriram o nome do deputado federal Júlio Campos. Collor gostou da sugestão. Afinal, tratava-se de um jovem político que no currículo carregava a condição de ex-governador. Collor procurou Júlio Campos, que recusou a oferta, mas que mesmo assim o acompanhou numa incursão política no Nortão e no Vale do Araguaia.

Júlio Campos descartou a candidatura na chapa de Collor, porque tinha convicção que seria eleito senado. Porém, sugeriu a deputada federal pelo Distrito Federal Márcia Kubitschek, filha de Juscelino Kubitschek. Collor gostou da sugestão, porém Márcia não aceitou. Dona Sarah Kubitschek, mãe de Márcia, apontou que o senador mineiro Itamar Franco poderia ser o nome, porque tinha perfil para se apresentar como herdeiro do patrimônio eleitoral de Juscelino Kubitschek. A chapa Collor/Itamar venceu a eleição. Collor foi cassado e Itamar chegou ao poder. Júlio Campos esteve a um passo de ser presidente da República.

O volume de produção agropecuária mato-grossense ganhou impulso em 1996 quando entrou em vigor a Lei Kandir, que desonera a exportação de commodities. Na fase de tramitação dessa lei, Júlio Campos participou das articulações para sua aprovação. O senador levava em conta o índice de continentalidade das lavouras mato-grossenses, situação essa que as deixava em desvantagem em relação aos estados litorâneos ou mais próximos dos portos. No primeiro momento – avalia – a lei foi benéfica para todos. Posteriormente, com a pavimentação de rodovias e a construção da Ferrovia Senador Vicente Vuolo ligando Rondonópolis a Santos, a Lei Kandir passou a merecer uma ampla discussão, mesmo com o governo assumindo compromisso de compensar financeiramente os estados exportadores.

Senador com Collor na Presidência, Júlio Campos teve as portas abertas para Mato Grosso e Itamar não as fechou. Marco Maciel, vice-presidente de Fernando Henrique Cardoso e correligionário de Júlio Campos, lhe dispensou tratamento especial. Essa abertura foi importante para o governo de Jayme e para a população.

No Senado foi primeiro-secretário e segundo vice-presidente da mesa diretora; no cargo foi condecorado por Collor com a Ordem do Mérito Militar no grau de Comendador Especial.

Júlio Campos e Bezerra não deu liga

Em 1998, ao término do mandato, Júlio Campos (PFL) perde concorreu ao governo, mas a estranha aliança que formou com seu eterno adversário Carlos Bezerra (PMDB) pegou Mato Grosso de surpresa, e ambos foram derrotados: ele não conseguiu o segundo mandato de governador e Bezerra foi batido na disputa pelo Senado. É preciso observar que Bezerra disputou a reeleição para senador quando ainda tinha quatro anos de mandato. Dante de Oliveira (PSDB) numa chapa tucana com o vice Rogério Salles chegou ao poder. Antero Paes de Barros (PSDB) venceu a disputa com Bezerra.

Experiências a mais

Em 2001, o Partido da Frente Liberal (PFL) indicou Júlio Campos diretor da Embratur, e em 2002 ele foi seu vice-presidente. Mas, deixou a função meses após, para ocupar uma cadeira vitalícia de conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE).

Em 28 de junho de 2002 Júlio Campos tomou posse para mais um cargo. Naquela data, indicado pela Assembleia Legislativa com a chancela do governador Rogério Salles, Júlio Campos foi empossado conselheiro do TCE.

Dentre os parlamentares da Assembleia, somente Serys Slhessarenko e Gilney Viana, ambos do PT, se abstiveram na escolha de Júlio Campos, alegando discordância do método para definição dos conselheiros. O posicionamento de Serys e Gilney era parte do discurso do PT naquele que era um ano eleitoral.

Porém a indicação foi tranquila, quase unânime, pois contou com o apoio de 22 deputados: Eliene Lima, Dito Pinto, Joaquim Sucena, Hermínio Barreto, Carlão Nascimento, José Riva, Carlos Brito, Moacir Pires, Chico Daltro, Humberto Bosaipo, Silval Barbosa, Emanuel Pinheiro, Alencar Soares, Amador Tut, Nico Baracat, Wilson Dentinho, Zé Carlos do Pátio, Renê Barbour, Campos Neto, Jair Mariano, José Carlos de Freitas e Pedro Satélite.

Na Corte de Contas Júlio Campos sentiu-se em casa junto aos seus pares Antônio Joaquim, José Carlos Novelli, Valter Albano, Ary Leite de Campos, Gonçalo Pedroso de Barros e Ubiratan Spinelli.

Conhecedor das dificuldades e até mesmo da falta de informações de prefeitos de pequenos municípios para apresentarem os balanços de prestação de contas, Júlio Campos tratou de humanizar a relação conselheiro-gesto e vice-versa, sem abrir mão da aplicação da legislação, mas colocando em primeiro lugar a didática educativa ao invés de aplicar o rigor da lei que tanto assusta a esfera política.

Júlio Campos foi corregedor-geral do TCE e desempenhou suas atribuições com dedicação. Em 12 de dezembro de 2007 aposentou-se e voltou à política partidária no Democratas (DEM), ao qual pertenceu desde sua origem na Aliança Renovadora Nacional (Arena) e nas siglas PDS e PFL, que a sucederam antes da criação do DEM. Com a fusão do DEM com o Partido Social Liberal (PSL) surgiu o União Brasil, pelo qual Júlio Campos se elegeu deputado estadual em 2022.

Com a aposentadoria de Júlio Campos o TCE perdeu um destacado conselheiro, mas em compensação a política mato-grossense ganhou seu retorno, o que aconteceu na eleição de 2008, quando disputou a Prefeitura de Várzea Grande e foi derrotado por Murilo Domingos.

Brasília, novamente

As duas derrotas não abalaram Júlio Campos, que voltou à cena política em 2010, quando Mato Grosso fervilhava sonhando com a possibilidade da realização de jogos da Copa do Mundo em Cuiabá. “Senti que poderia ser útil à minha terra, também em defesa da conquista de uma sede do Mundial, com minha atuação na Câmara”, revela.

Sem muito planejamento e até mesmo sem articulação política, Júlio Campos voltou ao palanque. Foi eleito e compôs a bancada mato-grossense na Câmara com Homero Pereira e Wellington Fagundes (ambos do PR), Valtenir Pereira (PSB), Carlos Bezerra (PMDB), Ságuas Moraes (PT), Nilson Leitão (PSDB) e Eliene Lima (PP). “Nossa bancada no todo, incluindo os três senadores, foi a que mais canalizou recursos para Mato Grosso e sua atuação foi importante para a modernização de Cuiabá e Várzea Grande”, opina.

Blairo Maggi (PR) e Pedro Taques (PDT) foram eleitos ao Senado em 2010, na eleição para renovação de dois terços; Jayme Campos (DEM) era senador e chegou ao cargo no pleito de 2006.

Campo Grande (MS) e Cuiabá brigavam pelo direito da realização de jogos do Mundial. Nenhuma das duas cidades tinha infraestrutura para tanto, como exige a Fifa. A carência cuiabana acendeu o espírito de luta mato-grossense. Graças aos parlamentares da bancada, os recursos necessários para as obras do chamado Caderno de Encargos da Fifa foram conquistados pelos congressistas, porém, sua aplicação não passou pelos deputados federais e senadores.

Mato Grosso ganhou a Arena Pantanal

Viadutos, trincheiras, elevados e a duplicação de vias modernizaram Cuiabá e Várzea Grande. Sem eles as duas cidades ficariam atadas por um nó no trânsito. Além disso, Mato Grosso ganhou a Arena Pantanal, que é uma das mais modernas do continente.

Mato Grosso conhece bem os fatos sobre a realização das obras em Cuiabá e Várzea Grande antes da Copa do Mundo de 2014. A história detalha bem o que aconteceu e em nenhum momento aparece nome de congressista envolvido nos escândalos que inviabilizaram o cumprimento de todos os itens do Caderno de Encargos da Fifa.

Em julho de 2014, a lenta Justiça Eleitoral em Mato Grosso cassou os direitos políticos de Júlio Campos por crimes de caixa 2 na campanha em 2010. Não somente por esse impedimento, mas pelo delicado quadro de saude que o deixava debilitado, Júlio Campos não disputou eleição naquele ano.

Em dezembro de 2015, a ministra Maria Thereza de Assis Moura, do Tribunal Superior Eleitoral, em decisão moncrática, devolveu os direitos políticos a Júlio Campos.

Recuperando-se do transplante

Júlio Campos cumpriu o mandato enfrentando grave problema de saúde. Durante 25 anos, uma hepatite minou seu fígado e lhe causou uma hepatite. Em busca da cura, Júlio Campos em 2015 entrou na fila do Registro de Cadastro de Transplantes (RBT). Finalmente, em 13 de março de 2017, no Hospital São Carlos, em Fortaleza, Júlio Campos recebeu um fígado doado por um jovem de 24 anos. “A operação foi um sucesso, graças a Deus. Estou são e fazendo o que mais gosto: a política que corre em minhas veias”, comemora.

Em 2020 aconteceu a primeira eleição suplementar ao Senado em Mato Grosso, por conta da cassação da chapa da juíza aposentada Selma Rosane Arruda. Júlio Campos participou do pleito disputando pelo Democratas a primeira suplência do tucano Nilson Leitão, numa chapa que se completava com Zé Márcio Guedes (PL) na segunda suplência. O vencedor foi Carlos Fávaro (PDS).

Decano na Assembleia

Posse dos deputados estaduais eleitos em 2022

Em 2022 Júlio Campos elegeu-se deputado estadual pelo União Brasil integra a legislatura composta por Janaína Riva, Thiago Silva, Juca do Guaraná e Dr. João (todos do MDB); Max Russi, Dr. Eugênio, Beto Dois a Um e Fábio Tardin (todos do PSB); Eduardo Botelho, Dilmar Dal Bosco e Sebastião Rezende (todos do União); Nininho e Wilson Santos (ambos do PL); Lúdio Cabral e Valdir Barranco (ambos do PT); Gilberto Cattani e Elizeu Nascimento (ambos do PL); Cláudio Ferreira (PTB); Faissal Calil (Cidadania), Paulo Araújo (PP), Carlos Avalone (PSDB) e Valmir Moretto e Diego Guimarães (ambos do Republicanos) observando os partidos pelos quais foram eleitos.

A eleição para a Assembleia em 2020 era vista como a ratificação da legislatura em curso, pela sintonia do Parlamento com a população. Tanto assim, que 19 dos 24 parlamentares foram reeleitos. A decisão de Júlio Campos em disputar mandato aconteceu em meados do ano e o mesmo sequer teve tempo para a pré-campanha, o que não permitiu que ele visitasse todos os municípios. É o decano da legislatura.

Na CCJ

Indicado para a Comissão de Constituição, Justiça e Redação (CCJ) Júlio Campos foi eleito seu presidente para o primeiro ano de seu mandato. Nesta função o deputado contribuiu para a fluidez dos projetos e para o aprimoramento dos trabalhos parlamentares. Neste ano de 2024 Júlio Campos foi reeleito presidente da CCJ, e também ganhou pela segunda vez a presidência da Comissão de Relações Exteriores da Assembleia.

Em 2023, cumprindo o primeiro ano de seu mandato, Júlio Campos não teve direito às emendas parlamentares, que são definidas no ano anterior ao exercício em curso. Mesmo assim, por entendimento com o governador Mauro Mendes, o deputado conseguiu recursos para atendimento às demandas municipais.

Júlio Campos conhece a realidade mato-grossense e suas demandas. Isso permitiu que o mesmo debatesse os temas levados por ele e seus pares ao plenário, e que se debruçasse sobre as mensagens enviadas pelo Palácio Paiaguás ao Legislativo.

Sem açodamento, mas sem acomodação, Júlio Campos dedica-se a analisar a proposta do Zoneamento Socioeconômico Ecológico de Mato Grosso (ZSEE) elaborada pela Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão (Seplag). O tema é complexo e o deputado discute em seu gabinete e nos municípios, com prefeitos, vereadores, produtores rurais, ambientalistas, dirigentes sindicais e técnicos da área. Júlio Campos entende que é preciso conciliar produção com sustentabilidade, mas com a devida prudência para impedir que o sistema produtivo – base da atividade econômica mato-grossense – seja prejudicado, o que teria sérios impactos sociais e econômicos.

O amanhã de Júlio Campos será político. Afinal, política é o que ele faz há 52 anos, sem abandonar companheiros, sem fugir da luta e sempre em defesa de Mato Grosso. Nos resta aguardar pelo calendário, que nos mostrará o próximo capítulo de um homem de vida pública que reúne maturidade, experiência e competência em seu currículo.