Mais de mil dos 1.650 moradores do distrito de Jarudore (de Poxoréu), participaram de um ato de resistência cívica contra a demolição da vila, a desintrusão de seus moradores e dos que residem na zona rural daquela comunidade que é uma das mais antigas no polo de Rondonópolis. O líder da resistência é o agricultor e pequeno comerciante Carlos Antônio do Carmo, o Mineiro, que foi vereador por Poxoréu e presidiu a Câmara daquele município. O sol escaldante na hora da manifestação não foi o único a aquecer: ao dele juntou-se o calor do coração de uma das mais humildes parcelas da população brasileira. Às margens do rio Vermelho, no ponto equidistante entre Rondonópolis e Poxoréu, um silencioso grito por liberdade ecoou numa das trilhas palmilhadas pelo herói Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon.
O ato aconteceu na manhã desta quarta-feira, 10, na área urbana e contou com a participação do prefeito do município, Nelson Paim (PDT), vereadores por Poxoréu e Primavera do Leste e outras autoridades.
Ao contrário das manifestações que ocorrem Brasil afora, a de Jarudore foi silenciosa. Traços de dor, de perplexidade e tristeza nos semblantes de velhos agricultores, vaqueiros, pedreiros, carpinteiros, motoristas, pequenos comerciantes, donas de casas, professores, servidores públicos e dos demais presentes. Uma ou outra lágrima teimosa que resolvia escorrer pelo rosto de avó, queimado pelo sol, era providencialmente enxugada pelos dedos calejados da mulher que além do trabalho doméstico compartilha com o marido a lida do gado e o cultivo da terra.
Brava gente brasileira!
Longe vá, temor servil
Ou ficar a pátria livre
Ou morrer pelo Brasil
Apesar da dor, todos permaneceram com a cabeça erguida, olhando pra frente, depositando esperança na raça humana – e no Estado Brasileiro que tenta renascer – buscando forças para continuarem acreditando que o Brasil não repetirá com eles o que fez com os moradores da antiga fazenda do Papa, no Vale do Araguaia, que foi transformada na área indígena Marãiwatsédé, dos xavantes – onde a soldadesca destruiu escolas, posto de saúde, igrejas, lares e estabelecimento comerciais, em nome de uma desintrusão que fez o Dr. Josefe Mengele revirar no túmulo, de tamanha alegria.
Os grilhões que nos forjava
Da perfídia astuto ardil
Houve mão mais poderosa
Zombou deles o Brasil
Entre um e outro pronunciamento o silêncio cortante era uma pergunta coletiva travada na garganta: por que? Casais se entreolhavam tristonhos diante da ameaça do Estado Brasileiro de jogar a população jarudorense no olho da rua. Crianças não entendiam a razão da reunião, mas percebiam que algo muito grave acontecia.
Para Jarudore, 10 de julho foi mais um dia na agoniante contagem regressiva para tomar o pé na bunda. Uma comunidade formada por jarudorenses bisnetos, netos e filhos de pioneiros que ali residem – ou que ali morreram deixando legado familiar – e que na força dos braços contribuíram para a criação de uma das comunidades mais antigas de Mato Grosso.
A lei impõe que os moradores deixem suas casas, suas lavouras, seu ontem e seu hoje, e que partam sem rumo. O ordem é transformar Jarudore numa reserva indígena bororo com 4.706 hectares de terras de topografia acidentada, antropizada, sem caça, sem pesca, cercada pelo sistema produtivo rural.
É o Brasil onde o que mais existe são áreas ociosas, enxotando brasileiros pela visão obtusa do Estado Brasileiro.
ENTENDAM O CASO:
Em três títulos neste site, a realidade sobre Jarudore:
! – Jarudore, seu nome é Posto da Mata ou Estrela do Araguaia (A linha o tempo sobre Jarudore)
2 – Estado Brasileiro decidiu demolir Jarudore (A decisão judicial)
3 – Jarudore ao léu (Sobre a luta quase isolada do povo de Jarudore)
Eduardo Gomes – blogdoeduardogomes
FOTOS:
blogdoeduardogomes
Lamentável