Jango, Tião Maia, Lula, Bolsonaro, Marechal Rondon e as redes sociais

Marechal Rondon
Jango Goulart, Tião Maia, Lula da Silva, Jair Bolsonaro, Marechal Rondon e as redes sociais.

Numa entrevista no Uruguai, o repórter perguntou ao ex-presidente Jango Goulart se ele tinha mágoa de alguém no Brasil. Com um gesto simbólico, como se chicoteasse alguém, Jango respondeu que tinha vontade de se encontrar com Tião Maia pra cortá-lo no rebenque.

O mineiro Tião Maia era boiadeiro esperto, conquistador e conhecia os caminhos do dinheiro.

Jango além de rico recebia fortunas da Cortina de Ferro pra transformar o Brasil numa república campesina. Parte dos dólares (comunista faz revolução com moeda americana) caiu nos bolsos de Tião Maia e o idealista presidente ficou a ver navios.

Tião Maia

Como se vê, corrupção no Brasil tem ancestralidade e transita bem entre a direita e a esquerda e vice-versa. Assim também foi nos governos Lula da Silva e Dilma Rousseff, regiamente compartilhados com o MDB, PTB, DEM, Progressistas, outras siglas menores e sindicalistas. Só que nesse período o dinheiro que irrigava a corrupção tinha origem tupiniquim, via Odebrecht, OAS, Andrade Gutierrez, JBS e outros conglomerados.

Avalio que a quase totalidade que votou em Jair Bolsonaro  não saiba sequer quem foi Tião Maia. É tudo questão cronológica e a sucessão de fatos que não permite muito manter esse ou aquele no topo da maracutaia, como já aconteceu nacionalmente com Paulo Maluf e regionalmente por aqui, com José Riva.

O eleitor de Bolsonaro queria preferencialmente estancar uma ferida aberta nos cofres públicos, e se possível que ele fizesse um bom governo.

Jango sem a máxima: Ladrão que rouba ladrão...

Deputado federal do Baixo Clero sem consistência partidária, Bolsonaro por três vezes tentou a presidência da Câmara (2005, 2011 e 2017) sendo que na última recebeu somente quatro votos – a menor votação ao cargo em todos os tempos. Seu eleitorado parlamentar era formado por ele, o filho Eduardo Bolsonaro (PSC/SP) e outros dois que não se identificaram.

Em síntese o Brasil precisava de alguém pra botar ordem na casa. Essa figura foi Bolsonaro, que caiu nas graças do povo. Na transição do poder de Michel Temer para ele, o presidente eleito anunciou sua equipe ministerial, que apesar de machista, era (continua) repleta de bons nomes.

Eis o Lula

Bolsonaro tinha tudo pra fazer um bom governo. Bastava transformar  todos os ministros em Posto Ipiranga, a exemplo de Paulo Guedes, o da Economia, e ficar na supervisão. Não que ele devesse cruzar os braços e deixar o barco correr. Com a credibilidade nacional que o rotulava no começo, o presidente poderia se transformar num agente transformador: contribuir decisivamente para o Brasil sair da corrupção arraigada e encontrar o caminho que tanta falta lhe faz.

Imaginem se Bolsonaro viesse a Cuiabá e determinasse a retomada imediata da construção do Hospital Universitário da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Alguém poderia dizer que a obra está sobre uma nascente, de onde brota água. Líder, Bolsonaro invocaria os militares do 9º Batalhão de Engenharia de Construção (9º BEC) lhes dando ordem – missão, no jargão militar – pra que solucionassem o problema resultante da omissão do Departamento de Engenharia da UFMT. Mais. Que na tricentenária cidade de Pascoal Moreira Cabral o mandatário se reunisse, fora do expediente, com políticos, empresários, universitários, pensadores, representantes de entidades e com o conjunto social cuiabano e propusesse a correção de rumo na política local. Isso mesmo. que despertasse os presentes para a necessidade de mudança das forças políticas, a começar pelo prefeito emedebista Emanuel Pinheiro, que protagonizou o triste episódio do dinheiro caindo do bolso de seu paletó.

Bolsonaro tropeça na própria sombra

Se Bolsonaro fosse o líder  da mudança, se eguesse a bandeira contra a corrupção deixando sua equipe atuar, seu mandato seria o mais digno e produtivo possível. Porém, o presidente se perdeu. Com o país mergulhado numa pandemia gravíssima, não há fluxo de obras, não se implementa programas sociais convencionais (os de atendimento às vítimas, sim). Em meio a tudo isso aquele que era a esperança, briga com o espelho, tropeça na própria sombra, assume postura vitimista, vocifera contra a vida e a lógica, ataca a China e os povos de religião islâmica, que são nossos maiores parceiros comerciais.

Longe de Jango, Tião Maia, Lula e Bolsonaro chego ao herói Marechal Rondon que tantos exemplos deixou ao Brasil e ao seu Mato Grosso. Poderíamos nos inspirar naquele grande militar e sertanista que foi decisivo na demarcação de nossas fronteiras e na pacificação social interna.

Em tempos coincidentes ou bem próximos ao caminhar do Marechal Rondon, a América do Sul viveu períodos de guerras por disputas territoriais que em um dos conflitos botou de um lado o Chile, e de outro Peru e Bolívia; e noutro, bolivianos e paraguaios em trincheiras diferentes.

Enquanto alguns dos nossos vizinhos guerreavam, o Marechal Rondon com serenidade, seriedade, profissionalismo e amor pátrio definia até onde ia o Brasil e onde o outro país começava. Para os povos indígenas foi o Grande Chefe. A comunidade internacional o reconhece. General da reserva, o Congresso Nacional o agraciou com a patente de Marechal.

O legado moral do Marechal Rondon e sua obra saltam aos olhos no Brasil e Mato Grosso. O nome Rondônia lhe rende homenagem. Rondonópolis, a sedutora e bela cidade do agronegócio surgiu no entorno de uma de suas estações telegráficas. Não é possível sintetizar a página de nacionalismo escrita pelo maior vulto mato-grossense de todos os tempos.

Refletir sobre o Marechal Rondon nessa data a ele dedicada é uma forma de comparar o certo e o errado, Nos inspiremos em seu legado. Chamemos a nós a missão da qual Bolsonaro fugiu ou falhou. Travemos o bom combate pra que mudemos o Brasil a partir de nosso município. Não sejamos guerrilheiros virtuais no plano nacional ora em defesa do presidente ora o criticando.

Se nós lutarmos pela transformação do país a partir da nossa rua, bairro ou cidade poderemos sonhar com o amanhã que nos levou a votar  no deputado do Baixo Clero e capitão da reserva do Exército, que venceu a eleição presidencial. Se nossa luta for nacionalizada seremos ecos da banda mais podre da política brasileira, andaremos em círculos.

Deixemos que Brasília se resolva por Brasília. Que Tião Maia,  Jango, Lula, Odebrech, Bolsonaro e seus filhos não nós desviem do verdadeiro foco. Eles não servem de exemplo. Nos espelhemos no Marechal Rondon contra a corrupção, as mordomias, o sindicalismo desenfreado e o absolutismo do poder em suas esferas estadual e municipais. Elevemos nossas vozes por nossas cidades e Mato Grosso. Consertemos nossa casa. Fujamos do silêncio conivente que abafa a sujeira por aqui – Bolsonaro à parte.

PS – Dia 5 de maio de 2020,  data dedicada a Rondon, o mato-grossense nascido em 5 de maio de 1865.

 

  Eduardo Gomes de Andrade – Editorialista de blogdoeduardogomes

FOTOS:

1 e 3 – Arquivo Nacional

2 – Folha Regional – Araçatuba 

4 – conversaafiada.com.br

5 – Agência Brasil

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