Dos trabalhadores que tinham vínculos informais no setor privado no primeiro trimestre, 60% continuaram trabalhando no segundo trimestre, aponta pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea), divulgada hoje (6). O percentual reforça que esse grupo foi o mais vulnerável aos efeitos da pandemia sobre o mercado de trabalho, já que, quando considerados os trabalhadores com todos os tipos de vínculo, a probabilidade de permanecer trabalhando no segundo trimestre foi de 73,8%.
Entre os trabalhadores informais do setor privado, 8,61% dos que trabalhavam no primeiro trimestre perderam o emprego no segundo trimestre e procuraram outra função, enquanto 17,68% mantiveram-se inativos. Outros 13,94% foram afastados temporariamente de suas funções.
A chance de continuar trabalhando também ficou abaixo da média geral para trabalhadores informais do setor público (68%) e trabalhadores por conta própria (67%). Já o percentual foi de 77% para militares e servidores estatutários, 78% para trabalhadores formais do setor privado e 79% para empregados públicos contratados pela CLT.
Estudo
O estudo do Ipea se baseia em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O Ipea mostra que, em 2020, aumentou o percentual de trabalhadores ocupados que foram afastados temporariamente, e se tornaram desocupados ou passaram a ser considerados inativos. O percentual dos que trabalhavam no primeiro trimestre e se afastaram no segundo trimestre, 13,1%, superou de forma expressiva o dos anos de 2018 e 2019, que foi 1,5%.
O afastamento temporário foi ainda mais frequente entre os trabalhadores informais do setor público (21,42%) e entre os militares e servidores estatutários (21,37%). Entre os trabalhadores da iniciativa privada, a probabilidade de ser afastado no segundo trimestre foi de 13,92% para os formais e de 13,94% para os informais.
Desempregados e inativos
O fluxo em direção à desocupação cresceu de maneira menos expressiva, de 3,4% em 2018 e 2019, para 3,8% em 2020. É classificado como desocupado aquele que não está trabalhando, mas declarou que buscou emprego nos últimos dias.
O Ipea analisa que o aumento da inatividade está associado ao desalento, comum a períodos de queda na economia, e aos efeitos específicos da pandemia sobre a oferta de trabalho, como as medidas de distanciamento social e as restrições à mobilidade das pessoas. Além disso, o instituto avalia que há um “significativo efeito renda proporcionado pelo auxílio emergencial, especialmente para as famílias de menor renda”.
Os trabalhadores por conta própria apresentaram o segundo maior percentual de fluxo para a inatividade: 14,3% dos que estavam trabalhando deixaram de ter ocupação no segundo trimestre e não procuraram outro posto de trabalho. Outros 4,04% passaram a ser considerados desempregados.
Para os trabalhadores formais do setor privado, esse percentual foi bem menor: 3,12% se tornaram desempregados, e 5,14%, inativos.
O Ipea prevê que, caso a situação da pandemia permita a continuidade da flexibilização do distanciamento social, o grupo dos inativos deve diminuir, elevando a participação da população na força de trabalho, seja como população ocupada ou como desempregados procurando emprego. A redução do valor do auxílio emergencial também deve contribuir para esse movimento, e o retorno desses trabalhadores à busca por um emprego deve continuar a aumentar a taxa de desocupação no curto prazo, mantendo-a em um patamar elevado por algum tempo.
Vinícius Lisboa – Repórter da Agência Brasil – Rio de Janeiro
FOTO:Arquivo Agência Brasil – Ilustrativa