Fundo do poço é a expressão popular pra mostrar que a situação desceu a tal ponto, que não é mais possível continuar descendo.
Fundo do poço é onde Cuiabá se encontra, sem que a indignação popular tome as ruas, sem que a Imprensa cobre solução. Isso, por conta do triste episódio do pacote de dinheiro caindo do bolso do paletó prefeito Emanuel Pinheiro (MDB) que à época era deputado estadual – nesse escândalo a sabedoria popular buscou o apelido Paletó para o prefeito. Uma amarga face desse caso acaba de ser mostrada a todos, indistintamente, com a ausência de Emanuel Pinheiro no palanque das autoridades quando do Desfile da Independência no ano do tricentenário da capital mato-grossense.
A morosidade judicial em julgar a ação sobre o caso Paletó beneficia juridicamente Emanuel Pinheiro, pois o caso ganha contornos de volatilização. Porém, prejudica a imagem de Cuiabá na medida em que constrange sua gente.
Não somente Emanuel Pinheiro, mas os demais protagonistas do recebimento de dinheiro, que era repassado por Sílvio Corrêa, à época chefe de gabinete do então governador Silval Barbosa, precisam responder por aquele episódio. Aírton Português, Luciane Bezerra, Alexandre Cesar, José Domingos Fraga e Ezequiel Fonseca apareceram em vídeos exibidos pelo Rede Globo, em agosto de 2017, embolsando dinheirama. A mecânica do repasse é idêntica, o ambiente e o personagem repassador eram os mesmos. Tanto Sílvio quanto Silval disseram em delação premiada homologada pelo ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal, que tratava-se de pagamento de mensalinho a deputados estaduais em troca de carta branca ao governo. Esse pagamento seria recorrente na legislatura estadual de 2011 a 2014 (período em que os vídeos foram gravados).
Vale salientar que à época da gravação dos vídeos Emanuel Pinheiro era relator da Comissão Especial de Acompanhamento da Copa do Mundo FIFA 2014 da Assembleia. Essa Comissão era presidida por Hermínio Barreto, que também aparece recebendo dinheiro. Barreto morreu em 9 de maio de 2018 num acidente no Km 278 da BR-364, no município de Jaciara – uma carreta desgovernada passou sobre o veículo em que ele viajava.
Por conta desse escândalo Emanuel Pinheiro não participou do palanque das autoridades no Desfile da Independência – essa não foi a primeira vez, na data, em que ele evitou o olhar popular na avenida.
Cuiabá é uma cidade tricentenária e não pode ficar no porão da moralidade política. Tem que ser altiva. A morosidade judicial não é o único caso atípico nesse caso: o silêncio da mídia também é atipicidade. Observem que a Justiça determinou que a Câmara Municipal nomeie novos membros para uma CPI criada – a abafada – para apurar o caso, mas o presidente da Câmara, Misael Galvão (PSB) protela o acatamento da ordem judicial, e a Imprensa desqualifica o tema.
Cuiabá não pode ser administrada por um prefeito que busca a sombra ao brilho do sol. A cidade de Moreira Cabral espera pela ação da Justiça.
Eduardo Gomes de Andrade
Editor de blogdoeduardogomes
eduardogomes.ega@gmail.com
FOTO: Mayke Toscano – Governo de Mato Grosso – Divulgação