Um encontro a portas fechadas. Assim foi o desfecho da visita do procurador de Justiça José Antônio Borges Pereira aos deputados estaduais, na sala do Colégio de Líderes, na Assembleia, nesta terça-feira, 23, Somente os participantes sabem o teor do que se tratou, pois nem mesmo uma nota sequer foi postada no site do Legislativo até às 18 h50 – somente fotos foram exibidas. Antes da visita, o presidente da Assembleia, Eduardo Botelho (MDB) revelou aos jornalistas que Borges iria ao parlamentares, mas não por convocação, e sim, enquanto convidado. A razão? Nos dias 16 e 17 deste julho policiais militares em depoimento ao juiz Marcos Faleiros da Silva, da 11ª Vara Criminal Especializada em Justiça Militar, denunciaram que um procurador e seis promotores do Gaeco teriam participado do escândalo Grampolândia Pantaneira e, dentre outros supostos crimes teriam praticado o chamado barriga de aluguel.
Os coronéis da PM Zaqueu Barbosa e Evandro Lesco, ambos réus confessos em Grampolândia, tentaram delação premiada, mas o procurador Domingos Sávio, que coordena o Núcleo de Ações de Competência Ordinária (Naco), do Ministério Público (MP) a refugou. Isso se repetiu com o cabo da mesma corporação Gérson Corrêa, que assumiu a condição de operador de Grampolândia e que prestava serviço ou estaria cedido ao Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco), que é uma espécie de elite investigativa do MP.
O teor das acusações é considerado gravíssimo nos meios jurídicos. De imediato o MP deu duas respostas:
1º – Borges expediu a seguinte nota: … A par de diversas investigações já em andamento no Núcleo de Ações de Competência Originária – NACO e que versam sobre os mais variados fatos que foram mais uma vez aventados pelos acusados, no dia 16 de julho o Procurador-geral de Justiça, José Antônio Borges Pereira determinou a instauração de procedimento administrativo para averiguar se há procedência nas afirmações de um dos réus do referido processo de que teria havido desvio de finalidade na utilização de “verbas secretas” utilizadas pelo Gaeco em suas operações sigilosas de investigação contra o crime organizado…
2 – Paulo Prado, Marco Aurélio de Castro, Marcos Bulhões, Marcos Regenold e Samuel Frungillo revelaram aos jornalistas que pediram para serem investigados pelo Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP). Célio Wilson e Arnaldo Justino não se manifestaram.
Procurador e deputados
Fotos do encontro no Colégio de Lìderes mostram a deputada Janaína Riva (MDB) sorridente. O deputado Elizeu Nascimento (DC) cochilando. Conversa do procurador ao pé do ouvido. O deputado Romoaldo Júnior (MDB) de olho na tela do celular etc.
Janaína foi gravada pelo esquema Grampolândia. Segundo o depoimento do cabo Gérson Corrêa, o Gaeco queria apurar se ela continuaria levando adiante esquemas que foram adotados por seu pai, o ex-deputado e presidente da Assembleia, José Riva, que esteve preso algumas vezes e sofreu condenações em primeira instância por crimes de improbidade administrativas – alguns admitidos pelo mesmo.
Não há como encerrar essa matéria com a síntese do que houve. Mas, a julgar pelo caráter reservado da reunião de Borges com deputados e pelo sorriso de Janaín,a o contexto nos leva a supor que as duas instituições dão o caso por encerrado. Resta esperar por novembro, mês em que o juiz Marcos Faleiros dará a sentença no caso Grampolândia. O tempo dirá o que está reservado aos coronéis Zaqueu, Lesco, Januário Batista e Ronelson Barros, e ao cabo Gérson Corrêa, que são réus na ação criminal sobre Grampolândia.