Golpe do doping

Até a década de 70, o uso de estimulantes por jogadores de futebol de Mato Grosso era muito comum. Muitos boleiros inge¬riam produtos energéticos por conta própria e outros nem sabiam que estavam sendo dopados quando chupavam uma laranja ou tomavam um gole de café ou chá nos vestiários…

Às vezes os estimulantes adquiridos livremente nas farmácias eram tão fortes que chegavam a trincar ou quebrar o revestimento interno de garrafas térmicas para manter o líquido quente ou gelado – lembra um veterano jogador da década de 70 e que por sinal era chegadinho num glucoenergan.

Quando a torcida via um jogador correndo demais em campo ou se comportando de modo estranho, já sabia: o boleiro estava com a caveira cheia de estimulantes.

É muito conhecida a história de um jogador mixtense que ao final do 1º tempo de uma partida no Dutrinha saiu do estádio uniformizado e estava indo embora, como se o jogo tivesse acabado. Foram pegar o boleiro descendo a Rua São Joaquim, já chegando na Avenida 15 de Novembro, completamente doidão…

Em 1974, às vésperas de um jogo de grande importância entre Pal¬meiras e Operário, pelo Campeonato Estadual, as torcidas dos dois clubes foram surpreendidas com uma notícia bombástica: o dirigente operariano Ru¬bens dos Santos havia conseguido junto a então CBD que uma comissão do Rio de Janeiro viesse a Cuiabá coletar material de tricolores e alviverdes depois do jogo para serem feitos exames anti-doping.

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No sábado, as emissoras de rádio de Cuiabá divulgaram com grande alarde que a comissão havia desembarcado no aeroporto de Várzea Grande. Não acrescentaram mais detalhes à notícia, porque os integrantes da comissão chegaram disfarçados para não serem reconhecidos. Mas certamente eram algumas das pessoas entre as que desceram do avião vestidas de branco…

A partir da divulgação da noticia do exame anti-doping, até falar em energéticos no Palmeiras virou assunto proibido. Afinal, ninguém era louco para correr o risco de ser sorteado para a coleta de sangue, urina e saliva e se expor a sofrer uma severa punição…

O Palmeiras perdeu a partida por 4×1, com os jogadores do Operário correndo feito uns desesperados em busca da vitória. E só então caiu a ficha dos palmeirenses, tarde demais: o tão anunciado exame anti-doping tinha sido simplesmente mais uma armação de Rubens dos Santos…

PS – Reproduzido do livro Casos de todos os tempos Folclore do futebol de Mato Grosso, do jornalista e professor de Educação Física Nelson Severino.