Furnas não cumpre compromissos com Mato Grosso

A barragem de Manso

Manso tinha quatro compromissos com Mato Grosso, mas não os cumpre ao pé da letra. Aquela que é maior hidrelétrica mato-grossense deixa de lado duas de suas responsabilidades: o controle da vazão do rio Cuiabá e a irrigação de 50 mil hectares em Chapada dos Guimarães, Santo Antônio de Leverger e Cuiabá.

Quando da retomada das obras da hidrelétrica  do rio Manso, afluente do Cuiabá e 86 quilômetros acima da capital, nos municípios de Chapada dos Guimarães e Nova Brasilândia, no final dos anos 1990, aquele empreendimento ganhou novo nome: Aproveitamento Múltiplo de Manso.  “Múltiplo” pois além da geração de energia ele teria outros três pilares: o incremento do turismo, o controle da vazão do rio Cuiabá e a irrigação de propriedades rurais – principalmente de pequenas áreas inseridas ou não ao programa de reforma agrária. Além da mudança da denominação o represamento do rio ganhou novos donos. Até então era da Eletronorte, e passou para Furnas e o consórcio PROMAN, formado pelas empresas Odebrecht, Servix e Pesa. A estatal responde por 70% e o consórcio por 30% do empreendimento.

Manso começou a ser construído em 1988, mas por falta de recursos, de interesse político e de pressões ambientais, foi paralisado. Para a retomada foi decisiva a participação do então governador Dante de Oliveira, que era ligado ao presidente Fernando Henrique Cardoso, que o inaugurou em 2000. Dante também contou com apoio no Congresso, onde o à época deputado Wellington Fagundes teve destacada atuação em defesa da obra.

A retomada aconteceu num clima de mudança total. O passado deveria ser sepultado – assim pensava Furnas, que rotineiramente levava jornalistas ao canteiro de obras e detalhava a construção.

Descompromisso

 

O Lago de Manso

O Aproveitamento Múltiplo de Manso alcança dois objetivos que faziam parte de seus compromissos: gerar energia, mas sem nunca alcançar sua capacidade máxima de 210 MW. E abrir portas ao turismo no entorno e no lago com 42.700 hectares de lâmina d’água – 98% em Chapada e 2% em Nova Brasilândia. A estrutura hoteleira, as marinas e a utilização da área para lazer respondem por esse compromisso, que é plenamente alcançado.

A parte negativa de Furnas fica por conta do controle da vazão do rio Cuiabá e a falta da irrigação prometida.

Ontem, 17, o nível do rio Cuiabá era de 19 centímetros na capital, quando a vazão esperada para a data era de 50 centímetros. Esse índice hidrológico preocupa autoridades, pois a diminuição da água agrava ainda mais a questão ambiental por conta do esgoto in natura lançado no rio por Cuiabá e Várzea Grande. Furnas tem compromisso de assegurar razoável vazão, para evitar essa situação, mas sistematicamente não o faz. A assessoria de Furnas não respondeu mensagens com questionamentos a esse respeito.

A irrigação dos 50 mil hectares saiu de cena no dia em que o presidente da República acionou a primeira turbina do empreendimento. Nenhum político cobra esse compromisso e não se sabe sequer se o mesmo consta em documento.

Não há previsão de chuvas intensas na área do reservatório e no leito do rio Cuiabá nos próximos dias. A empresa Águas de Cuiabá e o Departamento de Água e Esgoto de Várzea Grande ainda conseguem captar água no rio que divide as duas cidades, mas ambas teriam pedido a Furnas que avalie aumentar a vazão. A Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema), como tradicionalmente acontece, não se manifesta sobre o fato.

Redação blogdoeduardogomes

FOTOS

1: Arquivo blogdoeduardogomes

2 – Governo de Mato Grosso – foto pública em arquivo para divulgação  

 

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Comentários (1)
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  • Inácio Roberto Luft

    Incontestável!